Por: Redação
Rede Brasil Atual, 27/04/2012.
Pulverização
por avião em lavoura de grãos espalha agrotóxicos e causa danos à saúde de
pessoas e animais e ao ambiente.
Rio de
Janeiro – Para alertar a população e chamar a atenção das autoridades sobre o
impacto dos agrotóxicos na saúde dos brasileiros, o Grupo de Trabalho de Saúde
e Ambiente, da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
(Abrasco), em parceria com outras instituições, lança hoje (27), durante o
Congresso Mundial de Nutrição, no Rio de Janeiro, um dossiê reunindo diversos
estudos sobre o tema. O documento também será apresentado durante a Conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que será
realizada em junho no Rio.
A
aplicação excessiva de substâncias químicas para controlar pragas nas
plantações das lavouras brasileiras, como forma de aumentar a produtividade da
terra , preocupa cada vez mais especialistas da área de saúde. Os problemas
decorrentes do abuso de agrotóxicos vem trazendo grandes problemas para os
trabalhadores rurais e consumidores.
De
acordo com o professor Fernando Ferreira Carneiro, chefe do Departamento de
Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) e um dos responsáveis pelo
dossiê, as pesquisas indicam que o uso dos agrotóxicos ocorre no país de forma
descontrolada.
“O
Brasil reforça o papel de maior consumidor mundial de agrotóxicos e nós, que
fazemos pesquisas relacionadas ao tema, vemos que o movimento político é para
liberalizar o uso. A ideia desse dossiê é alertar a sociedade sobre os impactos
do consumo massivo, sistematizando o que já existe de conhecimento científico
acumulado”, disse.
Estudo
divulgado há cerca de um mês pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) aponta que o comércio de agrotóxicos no Brasil cresceu 190% entre 2000
e 2010, mais que o dobro da média mundial, de 93%. O mercado nacional de
agrotóxicos, que em 2010 movimentou US$ 7,3 bilhões, é altamente concentrado,
assim como no restante do mundo. As dez maiores empresas do setor são
responsáveis por 65% da produção nacional e por 75% das vendas. O levantamento
também mostrou que um único produto, o glifosato, é responsável por 29% do
mercado brasileiro de agrotóxicos.
Um dos
estudos que fazem parte do dossiê foi desenvolvido pelo médico e doutor em
toxicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Vanderlei Pignatti.
Ele conduziu análises ambientais e examinou a urina e o sangue de moradores das
áreas rurais e urbanas das cidades de Lucas do Rio Verde e Campo Verde, em Mato
Grosso. Os municípios estão entre os principais produtores de grãos do estado.
“Observamos
resíduos de vários tipos de agrotóxicos na água consumida nas escolas, na
chuva, no ar e até em animais. Além disso, essas substâncias foram encontradas
no sangue e na urina dessas pessoas. A poluição ambiental é elevada e as
pessoas ficam ainda mais suscetíveis à contaminação porque não são respeitados
os limites legais para pulverização dos agrotóxicos”, disse.
Outro
estudo do professor Pignatti já havia encontrado resíduos de agrotóxicos no
leite materno de moradoras de Lucas do Rio Verde. Foram coletadas amostras de
leite de 62 mulheres, três da zona rural, entre fevereiro e junho de 2010, e a
presença dos resíduos foi detectada em todas elas.
Vanderlei
Pignatti lembrou que diversas pesquisas também indicam aumento na incidência de
doenças como má-formação genética, câncer e problemas respiratórios,
especialmente em crianças com menos de cinco anos de idade.
Modelo
equivocado
Para o
pesquisador e especialista em economia agrária José Juliano de Carvalho,
professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo
(USP), o uso “abusivo, exorbitante e descontrolado”de agrotóxicos nas lavouras
brasileiras está diretamente relacionado ao modelo agrícola brasileiro, que se
sustenta no latifúndio, na monocultura, na produção altamente mecanizada e em
larga escala.
“Não é
uma questão de tecnologia, mas do modelo de agronegócio colocado como prioritário
no Brasil. Para sustentar essa lógica, empresas e produtores usam os
agrotóxicos sem controle e isso afeta de forma muito negativa a economia
brasileira”, acrescentou Carvalho, que também é diretor da Associação
Brasileira de Reforma Agrária (Abra).
O
professor defende uma regulação mais ampla do agronegócio no país, a
implementação de projetos de reforma agrária e de zoneamento agroecológico. Ele
acredita que o fortalecimento da agricultura familiar pode ser uma alternativa
ao modelo atual.
“O problema
não é só a química, mas a maneira como ela é usada. O que vemos no Brasil é o
domínio do agronegócio pelas grandes multinacionais. É preciso haver regulação
do agronegócio e fortalecimento da agricultura familiar que acaba inviabilizada
não apenas pelo agrotóxico, mas pelo conjunto do modelo do agronegócio”, disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário