Por: Redação Rede Brasil Atual, 27/04/2012. Com reportagens de Thais Leitão, da Agência Brasil.
Produção
agroecológica prevê manejo sustentável e produção diversificada, princípios
contrários ao agronegócio.
Rio de
Janeiro - Para que o Brasil deixe de ser o maior consumidor mundial de
agrotóxicos e se tornar o maior produtor de alimentos saudáveis é preciso
investir no desenvolvimento da agroecologia. A “verdadeira revolução ecológica”
é defendida pelo professor Fernando Ferreira Carneiro, chefe do Departamento de
Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB). Ele é um dos responsáveis
pelo dossiê que será lançado nesta sexta-feira (27) durante o Congresso Mundial
de Nutrição, no Rio de Janeiro, reunindo diversos estudos sobre os riscos do
uso do agrotóxico no país. O documento também será apresentado durante a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20),
marcada para junho, no Rio de Janeiro.
“Há
alternativas para alimentar o mundo sem agrotóxicos e a agroecologia é o
caminho que pode gerar um novo modo de vida. O Brasil vive uma situação muito
crítica, com o uso descontrolado de agrotóxicos no campo, mas é possível mudar
essa condição com investimento e apoio à política estratégica da agroecologia”,
destacou.
O
professor explicou que a agroecologia é baseada em práticas sustentáveis, que
envolvem o manejo ecológico dos recursos naturais e formas de ação coletiva
desde a produção até a circulação dos produtos.
“O
setor da agricultura camponesa e familiar, que é responsável por abastecer 70%
da mesa do brasileiro, não conta com os mesmos incentivos que o agronegócio no
Brasil”, lamentou.
Por sua
vez, presidente da Associação Brasileira de Orgânicos (Brasilbio), José
Alexandre Ribeiro, defende o resgate e o desenvolvimento de tecnologias que
respeitem a biodiversidade local como forma de garantir a sustentabilidade das
lavouras, além da qualidade dos alimentos consumidos pelos brasileiros.
“O uso
de agrotóxicos, além de contaminar os alimentos, está destruindo a nossa
biodiversidade. O produtor rural precisa entender que a erva daninha pode não
ser prejudicial, mas algo que nasce para beneficiar o solo; entender que a
terra tem sua biodiversidade que contribui para a produção, ajuda a planta a se
alimentar e a produzir um alimento saudável. Temos que resgatar e desenvolver
tecnologias baseadas nessa cultura”, defendeu.
Estratégica
Para
estimular as pesquisas, a produção e o uso de defensivos agrícolas de origem
natural em substituição ao agrotóxico sintético, a senadora Ana Rita (PT-ES)
propôs a criação da Política Nacional de Apoio ao Agrotóxico Natural.
O
objetivo é desenvolver novas tecnologias de baixo custo para o produtor rural,
aumentar a produção agrícola livre de defensivos agrícolas e reduzir a
contaminação do meio ambiente. Ela propõe que as pesquisas sejam financiadas
com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do
Fundo Nacional de Meio Ambiente.
A
política também prevê a liberação de linhas de crédito com taxas de juros
menores para os agricultores que comprovarem utilizar agrotóxicos naturais.
Segundo
a senadora, o projeto está na Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal. Se
aprovada, a matéria tramitará nas comissões de Ciência e Tecnologia e de
Agricultura e Reforma Agrária, antes de ir para a discussão em plenário.
Mercado
O
diretor-geral de agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Luiz Rangel,
confirma que o Brasil lidera o mercado de comercialização de agrotóxicos em
função da dimensão de sua produção agrícola. Ele garante, no entanto, que os
alimentos comercializados no país, mesmo com o uso de agrotóxicos em sua
produção, são seguros, já que para serem autorizados os defensivos passam por
“severo controle”.
“Todos
os alimentos consumidos aqui ou exportados têm garantias de segurança, porque
todos os níveis de resíduos são avaliados e considerados seguros. Além disso,
todos os produtos liberados no Brasil passam por severo processo de
reavaliação, que pode ocorrer até mais de uma vez por ano. Se há indício de
problema à luz do conhecimento científico, temos a obrigação de revisar os
dados para ver se a molécula deve ser substituída”, defende.
Luiz
Rangel também explicou que o Ministério da Agricultura coordena as ações de
fiscalização executadas pelos estados para verificar se o comércio e o uso
desses produtos estão sendo realizados de forma adequada.
Para
ser comercializado no país, o agrotóxico precisa ser registrado pelo Ministério
da Agricultura, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) e pela Agência Nacional de Anvisa.
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