quarta-feira, 2 de maio de 2012

REPORTAGEM: PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA

Agroecologia é alternativa viável ao agronegócio, diz professor da UnB
Por: Redação Rede Brasil Atual, 27/04/2012. Com reportagens de Thais Leitão, da Agência Brasil.

Produção agroecológica prevê manejo sustentável e produção diversificada, princípios contrários ao agronegócio.

Rio de Janeiro - Para que o Brasil deixe de ser o maior consumidor mundial de agrotóxicos e se tornar o maior produtor de alimentos saudáveis é preciso investir no desenvolvimento da agroecologia. A “verdadeira revolução ecológica” é defendida pelo professor Fernando Ferreira Carneiro, chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB). Ele é um dos responsáveis pelo dossiê que será lançado nesta sexta-feira (27) durante o Congresso Mundial de Nutrição, no Rio de Janeiro, reunindo diversos estudos sobre os riscos do uso do agrotóxico no país. O documento também será apresentado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), marcada para junho, no Rio de Janeiro.

“Há alternativas para alimentar o mundo sem agrotóxicos e a agroecologia é o caminho que pode gerar um novo modo de vida. O Brasil vive uma situação muito crítica, com o uso descontrolado de agrotóxicos no campo, mas é possível mudar essa condição com investimento e apoio à política estratégica da agroecologia”, destacou.

O professor explicou que a agroecologia é baseada em práticas sustentáveis, que envolvem o manejo ecológico dos recursos naturais e formas de ação coletiva desde a produção até a circulação dos produtos.

“O setor da agricultura camponesa e familiar, que é responsável por abastecer 70% da mesa do brasileiro, não conta com os mesmos incentivos que o agronegócio no Brasil”, lamentou.

Por sua vez, presidente da Associação Brasileira de Orgânicos (Brasilbio), José Alexandre Ribeiro, defende o resgate e o desenvolvimento de tecnologias que respeitem a biodiversidade local como forma de garantir a sustentabilidade das lavouras, além da qualidade dos alimentos consumidos pelos brasileiros.

“O uso de agrotóxicos, além de contaminar os alimentos, está destruindo a nossa biodiversidade. O produtor rural precisa entender que a erva daninha pode não ser prejudicial, mas algo que nasce para beneficiar o solo; entender que a terra tem sua biodiversidade que contribui para a produção, ajuda a planta a se alimentar e a produzir um alimento saudável. Temos que resgatar e desenvolver tecnologias baseadas nessa cultura”, defendeu.

Estratégica

Para estimular as pesquisas, a produção e o uso de defensivos agrícolas de origem natural em substituição ao agrotóxico sintético, a senadora Ana Rita (PT-ES) propôs a criação da Política Nacional de Apoio ao Agrotóxico Natural.

O objetivo é desenvolver novas tecnologias de baixo custo para o produtor rural, aumentar a produção agrícola livre de defensivos agrícolas e reduzir a contaminação do meio ambiente. Ela propõe que as pesquisas sejam financiadas com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do Fundo Nacional de Meio Ambiente.

A política também prevê a liberação de linhas de crédito com taxas de juros menores para os agricultores que comprovarem utilizar agrotóxicos naturais.

Segundo a senadora, o projeto está na Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal. Se aprovada, a matéria tramitará nas comissões de Ciência e Tecnologia e de Agricultura e Reforma Agrária, antes de ir para a discussão em plenário.

Mercado

O diretor-geral de agrotóxicos do Ministério da Agricultura, Luiz Rangel, confirma que o Brasil lidera o mercado de comercialização de agrotóxicos em função da dimensão de sua produção agrícola. Ele garante, no entanto, que os alimentos comercializados no país, mesmo com o uso de agrotóxicos em sua produção, são seguros, já que para serem autorizados os defensivos passam por “severo controle”.

“Todos os alimentos consumidos aqui ou exportados têm garantias de segurança, porque todos os níveis de resíduos são avaliados e considerados seguros. Além disso, todos os produtos liberados no Brasil passam por severo processo de reavaliação, que pode ocorrer até mais de uma vez por ano. Se há indício de problema à luz do conhecimento científico, temos a obrigação de revisar os dados para ver se a molécula deve ser substituída”, defende.

Luiz Rangel também explicou que o Ministério da Agricultura coordena as ações de fiscalização executadas pelos estados para verificar se o comércio e o uso desses produtos estão sendo realizados de forma adequada.

Para ser comercializado no país, o agrotóxico precisa ser registrado pelo Ministério da Agricultura, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Agência Nacional de Anvisa.

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