Pesquisa
avalia suplemento mineral para combate à anemia
Por José Tadeu Arantes,
Agência FAPESP - 04/01/2013
No prazo de cinco anos, um
suplemento mineral, produzido a partir de matérias-primas de alta
disponibilidade e baixo custo, poderá contribuir para que sejam supridas as
necessidades de ferro de quem carece desse nutriente.
O potencial do novo produto
é uma das aplicações possíveis de um projeto de pesquisa recém-concluído por
Maria Teresa Bertoldo Pacheco e sua equipe, do Centro de Química de Alimentos e
Nutrição Aplicada do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), com apoio
da FAPESP.
O conjunto dos potenciais
beneficiários é extremamente vasto. No Brasil, segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), 21% das crianças com até 5 anos, 43% das gestantes e 23% das
mulheres em idade fértil (que sofrem depleção periódica do nutriente devido à
menstruação) possuem algum grau de deficiência em ferro.
“Testamos duas
matérias-primas abundantes e baratas: o
soro de leite e as leveduras de cana-de-açúcar (Saccharomyces cerevisae).
As proteínas de uma e de outra fonte foram hidrolisadas, isto é, ‘clivadas’ ou
‘cortadas’, com diferentes enzimas”, disse Pacheco.
“Os peptídeos (fragmentos de
proteínas) resultantes passaram por ultrafiltragem para a obtenção de frações
com massas menores do que 5KDa (cinco quilodaltons). Essas foram utilizadas na
reação de quelação com o ferro, na forma de sulfato ferroso (FeSO4)”, explicou.
A quelação consiste em ligar
o íon ferro a mais de um radical do peptídeo. “Os peptídeos com capacidade
quelante foram isolados e enviados ao Centro de Investigación de Alimentos, em
Madri, para o sequenciamento dos aminoácidos presentes”, disse.
A pesquisadora contou que,
para o produto resultante ser ideal como suplemento alimentar, a quelação ao
ferro deve ser forte, mas não demais. “Deve ser forte o suficiente, para
garantir a estabilidade do composto durante sua passagem pelo trato digestivo,
caracterizado pelo pH ácido do estômago; mas não tão forte, de modo que a
molécula seja capaz de liberar o ferro ao chegar aos enterócitos da membrana
intestinal, possibilitando sua absorção”, disse.
Novos estudos
A força das ligações é um
fator decisivo, por ser ela que determina a biodisponibilidade do mineral. Por
apresentarem baixa biodisponibilidade, muitos alimentos ricos em ferro acabam
sendo de pouca utilidade para o ser humano.
Não basta que haja ferro, é
preciso que o organismo consiga absorvê-lo. “De modo geral, a absorção é muito
pequena, pois, devido ao potencial oxidativo e tóxico do ferro, o organismo
possui mecanismos naturais de defesa, para limitar sua assimilação”, disse
Pacheco.
Segundo a pesquisadora do
Ital, os resultados obtidos com as proteínas hidrolisadas do soro de leite
foram muito favoráveis. Já os hidrolisados de proteína de levedura apresentaram
menor capacidade de quelação ao ferro (destes, aquele cuja hidrólise foi obtida
por meio da enzima viscozyme exibiu maior biodisponibilidade do ferro ligado).
“Isso se deve provavelmente
ao fato de essas proteínas serem materiais de menor pureza, contaminados com
polissacarídeos provenientes da parede celular”, disse.
Constatado o potencial do
soro de leite, o próximo passo é testar a biodisponibilidade do material com
células conhecidas como CACO 2, que simulam o comportamento fisiológico e
metabólico da borda intestinal humana, e, em seguida, com modelos animais.
“Se chegarmos a um peptídeo
com alta biodisponibilidade, poderemos até sintetizá-lo a partir dos
aminoácidos componentes”, afirmou Pacheco.
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