quarta-feira, 2 de maio de 2012

ARTIGO: SÍNDROME DE TOURETTE (ST)

SÍNDROME DE TOURETTE (ST)
Por Rosana Mastrorosa *
ORIENTAÇÕES AO PORTADOR E SEUS FAMILIARES


O QUE É A SÍNDROME DE TOURETTE (ST)?

ST é um transtorno neuropsiquiátrico crônico definido pela presença por mais de um ano de múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais. Esses sintomas causam um impacto importante na vida do portador. Os tiques geralmente aparecem por volta dos 7 anos, havendo uma faixa de início que varia dos 2 aos 15 anos.

Em geral, apresentam-se na forma de tiques motores simples, mais comumente piscadelas dos olhos e/ou movimentos de ombros, da cabeça, só para citar alguns exemplos. O início dos tiques vocais ocorre posteriormente ao dos tiques motores, na idade média de 11 anos, freqüentemente na forma de pigarro, fungadelas, tosse, exclamações coloquiais, entre outras. Estima-se que um terço dos pacientes apresente o desaparecimento completo dos sintomas ao final da adolescência, outro terço apresente melhora dos tiques e o restante continue com os sintomas durante a vida adulta.

O paciente consegue evitar os tiques, porém com esforço e tensão emocional. Algumas vezes, as manifestações são precedidas por uma sensação desconfortável, chamada premonitória e, freqüentemente, seguidas por um sentimento de alívio. Costumam desaparecer durante o sono e diminuir com a ingestão de bebidas alcoólicas ou durante atividades que exijam concentração. Por outro lado, fatores como estresse, fadiga, ansiedade e excitação aumentam a intensidade dos movimentos característicos.

O QUE CAUSA A ST?

A causa não foi ainda definitivamente encontrada, mas sabe-se que o TT é um transtorno biológico com forte base genética e que a base do problema estaria numa complexa interação entre genes e fatores de risco ambientais específicos. É fato que ansiedade e estresse podem exacerbar os tiques, mas isto não significa que se trate de um problema psicológico.

QUAL O TRATAMENTO QUE TEM SE MOSTRADO MAIS EFICAZ PARA A ST?

Antes de o tratamento ser iniciado, deve-se fazer uma avaliação dos tiques, no que diz respeito à localização, freqüência, intensidade, complexidade e interferência na vida cotidiana. Também devem ser analisados aspectos como ambiente escolar e familiar, relacionamentos e distúrbios associados ao problema.

Quando os tiques são mais graves pode haver necessidade de medicar o paciente. É importante destacar que o resultado da medicação pode demorar a aparecer. Pode ainda ocorrer uma piora dos sintomas com o início da medicação, levando a família a acreditar que foram os remédios que pioraram os tiques.

É necessário neste momento que pacientes e familiares confiem no médico e aguardem, pois o resultado do uso da medicação deve aparecer em algumas semanas. Na psicoterapia bons resultados têm se obtido com uma das técnicas comportamentais chamada de reversão de hábitos e com a psicoeducação.

COMO A ST PODE AFETAR A VIDA DO PORTADOR E DE SEUS FAMILIARES?

Os tiques ocorrem de forma episódica (em "acessos") ao longo de um dia. São episódios onde há um intervalo curto (0,5 a 1s) entre tiques sucessivos. Alguns portadores descrevem uma "tensão interna" progressivamente crescente, e que só é aliviada pela realização do tique. Essas sensações – e a luta para controlá-las – podem ser muito debilitante.

A família necessita entender que se trata de um problema orgânico e que ninguém é culpado por isto. Compreender que em muitos casos os sintomas são transitórios é outro dado importante. Para os portadores em fase escolar, os tiques, com freqüência, geram brincadeiras e apelidos dentro do grupo. A criança se esforça para não dar vazão aos tiques, mas não consegue permanecer longos períodos livre dos tiques e, quando se concentra em alguma atividade, eles surgem sem que a criança note.

Portanto, dependendo da intensidade dos tiques, é comum o surgimento de problemas de sociabilidade. Os familiares devem estar atentos para que a criança não sofra maus tratos no ambiente escolar.

AJUDANDO NO TRATAMENTO DOS PORTADORES

Receber apoio do cuidador, de familiares e dos amigos facilita ao portador seguir o tratamento e obter sucesso. O envolvimento de todos torna as intervenções mais eficientes, multiplica os recursos ao paciente, em especial sua adesão ao processo terapêutico. É importante, também, saber que critica e rejeição ao paciente podem cooperar para uma recaída. Para a melhor convivência de todos é necessário que o transtorno seja aceito e compreendido por aqueles que convivem com o portador. Pessoas com esses transtornos estão em sofrimento e precisam de tratamentos eficazes para um bom enfrentamento.

Diagnóstico e tratamento apropriados podem ensiná-los e ter um controle e a lidar bem com o problema. Os transtornos são como inimigos que entram nos lares sem pedir permissão. Os familiares e os pacientes, juntos, podem aprender como combatê-los.

Ao saber que alguém na sua família é portador de TOC ou Tourette, talvez você se sinta alarmado e confuso, principalmente pela presença de comportamentos estranhos apresentados pelo indivíduo e também por não saber como reagir aos mesmos.

É importante reconhecer que não há culpados pelo surgimento do transtorno, o qual é uma condição médica como qualquer outra, como por exemplo, asma, diabetes ou alergia.

Cientistas acreditam que, no caso dos transtornos psiquiátricos, as alterações nos processos químicos no cérebro contribuem para o surgimento de sintomas como os pensamentos, comportamentos e emoções que podem perturbar o portador e aqueles com quem ele convive.

Para reduzir seu próprio estresse e promover uma boa atenção ao familiar necessitado, o cuidador precisa conhecer o transtorno, buscar o tratamento correto e aprender a reconhecer e a lidar com os sintomas. Quando o portador for uma criança ou adolescente, o cuidador precisará, também, ajudar os professores a entender como o transtorno pode afetar o paciente no ambiente escolar.

Para que o paciente tenha uma boa adesão tanto ao tratamento medicamentoso quanto à psicoterapia é necessária a cooperação dos familiares. Prover o portador do TOC ou Tourette com o tratamento adequado requer da família e/ou do cuidador tempo e esforço. É importante reconhecer que o tratamento é difícil para o paciente e que ele precisará de apoio, inclusive, para Praticar em casa as atividades recomendadas pelo terapeuta ou médico.

Recomenda-se que pacientes e familiares frequentem um grupo de apoio, pois os familiares de outros pacientes e os próprios portadores poderão dar dicas valiosas sobre como lidar com os sintomas e com as diferentes situações que ocorrem a todo o momento. O cuidador deve tentar auxiliar o paciente a identificar sintomas, apontando aqueles que ele, talvez, não tenha percebido e é preciso, também, que cuidador fique atento a sinais de recaída e descubra uma forma gentil e delicada de sinalizar isso ao paciente. Aqueles que convivem com o portador de um desses transtornos deve evitar críticas, brigas, discussões ou perder a paciência no que se refere a aspectos do transtorno.

Manter a calma, ter paciência e controlar a aflição será de grande ajuda para se atingir bons resultados no tratamento.

Busque mais informações:
http://www.astoc.org.br/source/php/index.php

* Psicóloga Clínica (CRP-06/93664) com especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental. Membro do C-TOC (Consórcio Brasileiro de Pesquisa em Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo) e colaboradora do ambulatório de TOC da UNIFESP. Orientadora de grupos de apoio da Associação de Portadores de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo (ASTOC). Mestranda em Psiquiatria e Psicologia Médica na UNIFESP.

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