Cientistas
criam vacina contra a aids que usa o vírus do próprio infectado
A vacina foi capaz de
reduzir a carga viral em pacientes infectados de forma significativa e sem o
uso de antirretrovirais. Eficácia, no entanto, foi temporária.
(Veja, 03/01/2012)
Uma equipe de pesquisadores
espanhois desenvolveu uma vacina terapêutica capaz de controlar temporariamente
o avanço do vírus HIV no organismo de pessoas infectadas. A vacina é feita a
partir de células do sistema de defesa e com amostras do HIV obtidas do próprio
paciente para ajudar o sistema imunológico a combater a doença. Assim, embora
não promova a cura da enfermidade, ela é capaz de reduzir a carga viral na
corrente sanguínea dos infectados por um determinado período de tempo sem a
necessidade do uso de antirretrovirais. A pesquisa, desenvolvida na Universidade
de Barcelona, na Espanha, foi publicada nesta quarta-feira na
revista Science Translational Medicine.
O estudo testou a vacina
terapêutica em 36 pessoas infectadas pelo vírus HIV que faziam uso de terapia
antirretroviral, um grupo de medicamentos que ajudam a controlar a carga viral
no organismo de pacientes com aids. Os cientistas retiraram amostras do vírus e
também de células saudáveis (chamadas de dendríticas) dos próprios indivíduos.
Essas células ativam o sistema imunológico quando um vírus tenta atacar as
células de defesa.
Para validar os resultados,
os pesquisadores inativaram as amostras de HIV, que ainda assim continuavam
capazes de provocar uma resposta do sistema imunológico, e expuseram as células
saudáveis ao vírus. Com isso, a equipe tinha como objetivo fazer as células
"instruírem o sistema de defesa para que ele pudesse lutar contra o vírus
HIV, o que ele não faz normalmente", segundo explicou Felipe Garcia,
coordenador do estudo.
Testes — Antes de
aplicarem a vacina nos participantes, os cientistas pediram que eles deixassem
de fazer uso da terapia antirretroviral por um tempo. Assim, o HIV conseguiria
voltar a se replicar naturalmente e os pesquisadores poderiam comparar os reais
efeitos da substância testada. Segundo os resultados, a carga viral caiu de
forma significativa na maioria dos pacientes, que passaram a apresentar um
nível muito baixo de vírus no sangue mesmo sem o uso dos antirretrovirais. Além
disso, a vacina se mostrou segura, sem provocar os fortes efeitos colaterais
causados pela terapia convencional.
No entanto, a eficácia da vacina caiu 24 semanas após a
aplicação. Por esse motivo, outros estudos ainda são necessários para
entender de que forma seus efeitos positivos podem ser estendidos. Mesmo assim,
a equipe está otimista em relação aos resultados. "Essa é a demonstração
mais forte que há na literatura científica de que uma vacina terapêutica é
possível. Embora ainda não promova a cura, os resultados deixam em aberto a
possibilidade de conseguirmos criar a vacina ideal para combater a
doença", escreveram os pesquisadores em um comunicado.
CONHEÇA A PESQUISA
- Título original: A Dendritic Cell–Based Vaccine Elicits T Cell
Responses Associated with Control of HIV-1 Replication
- Onde foi divulgada: revista Science
Translational Medicine.
- Quem fez: Felipe
García, Nuria Climent, Alberto Guardo, Cristina Gil, Agathe León, Brigitte
Autran, Jeffrey Lifson, Javier Martínez-Picado, Judit Dalmau, Bonaventura
Clotet, Josep Gatell, Montserrat Plana e Teresa Gallart.
- Instituição: Universidade de Barcelona, Espanha.
- Instituição: Universidade de Barcelona, Espanha.
- Dados de amostragem: 36
pacientes com AIDS.
- Resultado: A
vacina terapêutica desenvolvida a partir de amostras de HIV e células
dendríticas reduziu de forma significativa, mas temporariamente, a carga viral
em pacientes com aids sem a necessidade da terapia antirretroviral.
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