Relação De Risco: Colesterol E Diabetes
O Globo, 16-06-2011
Antônio Marinho
Antônio Marinho
Os remédios para manter os níveis saudáveis de colesterol, as estatinas, estão mais uma vez na berlinda. Estudos recentes indicaram risco de até 9% destas drogas causarem diabetes tipo 2 — o mais comum em adultos —, após o tempo médio de uso de quatro anos, como alerta o cardiologista Cláudio Domênico S. Schettino. Quem toma esses fármacos fica se perguntando se corre ou não o risco de trocar uma doença coronariana por outra tão grave quanto, ou pior. Especialistas afirmam que é preciso bom senso. E alertam: as pessoas não devem interromper por conta própria o consumo de remédios que protegem as artérias.
A suspeita de que as estatinas elevam o risco de diabetes não é a primeira polêmica envolvendo este tipo de remédio. No início deste ano, a revisão e a análise de 14 estudos — 13 deles patrocinados pela indústria farmacêutica — com 34.272 pacientes constatou não haver evidências suficientes de que as drogas para baixar o colesterol, especialmente sua fração ruim (o LDL) — entre as mais vendidas em todo o mundo e com movimento de US$16 bilhões ao ano — são benéficas para pessoas com baixo risco para as doenças cardiovasculares.
Cláudio Domênico, da Clínica São Vicente da Gávea e membro do Colégio Americano de Cardiologia e da Sociedade Europeia de Cardiologia, diz que ainda há questões sem resposta no que se refere à relação entre estatinas e diabetes. Por exemplo, o efeito seria causado por todos os fármacos desta classe ou por alguns? Dependeria do tempo de uso e da faixa etária? Haveria relação com nível prévio de glicemia e índice de massa corporal?
— A análise de estudos mostrou relação com idade acima de 70 anos, e em outros casos o diabetes apareceu em indivíduos com síndrome metabólica, que inclui hipertensão, peso acima do ideal e excesso de gorduras no sangue. São pacientes mais propensos a ter diabetes — explica Domênico.
Segundo o cardiologista, inexistem evidências suficientes para afirmar que há um tipo de estatina que ofereça menor ou maior risco para diabetes. E reforça que os benefícios delas superam o possível risco de o paciente sofrer de diabetes. As estatinas geralmente são indicadas a pessoas que tiveram problemas cardiovasculares, como, por exemplo, infarto, obstrução das carótidas ou coronárias e derrame.
— Nesses casos, o fármaco serve não só para manter os níveis saudáveis de colesterol, mas para que o entupimento das artérias não piore — diz. — O principal efeito colateral são dores musculares. O médico deve pedir exame de sangue para saber como estão o fígado e os rins.
As taxas recomendadas de colesterol, diz Domênico, vão depender da faixa etária e, principalmente, de fatores de risco agravantes, como, por exemplo, história de pais com morte por doença cardiovascular em idade jovem (pai com menos 55 ou mãe antes dos 65), diabetes, hipertensão, aumento da gordura abdominal e da calcificação nas artérias carótidas e coronárias, insuficiência renal e elevação da proteína C reativa. O LDL deve ficar abaixo de 160mg/dL, 130mg/dL ou 100mg/dL conforme o risco.
Por exemplo, em pessoas que tiveram doença cardiovascular, habitualmente os níveis devem ser inferiores a 100mg/dl ou 70mg/dl, nos casos de muito alto risco. Em relação ao HDL, o colesterol bom, ele deve ser mantido acima de 50mg/dl em mulheres e 40mg/dl, homens; e os triglicerídeos abaixo de 150mg/dl, afirma Domênico.
— O HDL alto diminui parcialmente o risco de LDL alto. Manter o peso adequado, fazer exercícios, beber um cálice pequeno de vinho tinto diariamente e não fumar são hábitos que ajudam a elevar os níveis do colesterol bom — ensina.
Taxas muito baixas fazem mal à saúde
Augusto Pimazoni-Netto, coordenador do Grupo de Educação e Controle do Diabetes do Hospital do Rim e da Hipertensão da Unifesp e do Centro de Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, cita estudo publicado em abril deste ano na revista “Journal of the American College of Cardiology”, por David Waters, para afirmar que os benefícios da estatinas superam em muito os riscos em indivíduos com doença coronariana ou cerebrovascular terem diabetes:
— Os pacientes não devem interromper o tratamento com estatinas por receio de diabetes, a não ser por orientação de seus médicos.
Já Marco Antonio de Mattos, diretor do Instituto Nacional de Cardiologia, diz que em 225 pacientes tratados com estatinas por 4 anos haveria um caso de diabetes e seriam evitados 9 males vasculares, como derrame e infarto.
— O potencial de risco de diabetes não pode contra-indicar tratamento com estatinas em indivíduos de risco moderado ou alto. Mas em pacientes de baixo risco acima de 65 anos, a chance de ter diabetes deve ser avaliada e, provavelmente, a estatina não deva ser receitada — diz Mattos. — Diabetes é um dos fatores para doença cardíaca.
Vale lembrar que autores afirmam que o colesterol total muito baixo pode estar relacionado a canceres e à depressão. Além disso, o colesterol é importante matéria-prima para hormônios, síntese da vitamina D e membrana celular.
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