Especialista
defende a criação de pelo menos seis bancos de pele no Brasil
(Por Alana Gandra, Repórter
da Agência Brasil. Edição: Tereza Barbosa, 03/03/2013).
Rio de Janeiro - O Brasil
deveria ter, no mínimo, seis bancos de pele distribuídos em todo o seu
território, “mas o adequado mesmo seriam dez”. A opinião é do médico Marcelo
Borges, responsável técnico pelo banco de pele do Recife (PE). Em entrevista à Agência
Brasil ele disse que atualmente, existem
três unidades no país: no Recife, em São Paulo e em Porto Alegre.
Para Borges, a cidade do Rio
de Janeiro deveria fazer parte desse processo de expansão, já que a população
da região justifica a criação de um banco de pele. “Vejo com muito bons olhos
toda e qualquer iniciativa que faça com que a cidade passe a ter também um
banco de pele”.
Marcelo Borges comentou a
dificuldade que existe no país para a captação de pele depois do óbito do
doador. “É uma questão cultural”, indicou. Segundo ele, a sociedade ainda
interpreta a retirada de pele como uma mutilação do doador e isso não é
verdade.
Para
a retirada da pele é usado um equipamento cirúrgico especial,
de forma que ela se apresenta em longas lâminas muito finas, com espessura de
cerca de 1 milímetro. Essas lâminas são retiradas de áreas estrategicamente selecionadas, como a região das costas, coxas
anteriores e posteriores e pernas posteriores. “De tal forma que,
retirando-se nessas condições e nessas localidades, não há nenhum
constrangimento, porque essas áreas não serão visíveis nos doadores”.
A melhor idade para a
captação de pele em crianças é acima dos
10 anos e nos adultos até os 60 anos. Acima dessa faixa etária, a pele não
tem a elasticidade necessária, disse à Agência Brasil a chefe do
Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Municipal Souza Aguiar,
Maria Cristina Serra.
Para que possa haver a
captação, é preciso que o doador não
tenha doenças contagiosas como aids e hepatite. A morte por qualquer
infecção anula a possibilidade de doação de órgãos, inclusive de pele, que é o
maior órgão do corpo. “Tem que seguir um
protocolo de banco de sangue, que é regido por lei federal”.
Em geral, o doador de pele é uma pessoa que teve um
trauma, ou seja, uma morte por acidente de carro, por exemplo. “É o mesmo
doador que vai doar coração, rim”, observou Maria Cristina. Marcelo Borges
acrescentou que o modelo usado no Brasil para definir o momento da retirada de
órgãos é o diagnóstico de morte encefálica (morte cerebral).
Os chamados órgãos quentes, como coração, rins e
fígado, têm prioridade na captação. A
pele é retirada no momento imediatamente posterior à captação da córnea e
anterior à captação de ossos. A médica destacou que é preciso organizar
primeiro a captação de pele no Rio e isso pode ser feito nas grandes
emergências dos hospitais públicos da cidade. A pele captada necessita de
espaço apropriado para ser estocada, com equipamentos específicos, comuns nos
bancos de pele.
Por ocasião do incêndio na
Boate Kiss no município de Santa Maria (RS), que completou um mês, o banco do
Recife doou 2.500 centímetros quadrados de pele. Essa quantidade de material
foi suficiente para tratar dois pacientes queimados na tragédia. A dificuldade
na captação impediu que a doação fosse maior. “Nós zeramos o nosso estoque
naquele momento”, revelou Marcelo Borges. Agora, o banco tem 2 mil centímetros
quadrados de pele como reserva técnica.
O estoque mínimo do banco de
pele de Recife deveria ser 3 mil centímetros quadrados por mês. “Significaria
em média duas doações/mês. Estamos ainda com 50% dessa cota”. Hoje, o banco de
Pernambuco trabalha com uma doação mensal. o que é considerado muito pouco
pelos especialistas.
O banco de São Paulo está
trabalhando com uma média de quatro doações por mês. Borges deixou claro que
tanto São Paulo como Recife e Porto Alegre ainda têm um número bem abaixo das
demandas mínimas em termos de doação. “Isso é um processo de modificação de
conceito na sociedade brasileira como um todo”.
Borges revelou que a Europa
é bem abastecida pelo Banco de Pele Internacional, sediado na Holanda. O mesmo
acontece nos Estados Unidos, que contam com uma rede de dez bancos de pele.
Para ele, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer nessa área.
Segundo Borges, caso a
criação do banco de pele do Rio de Janeiro venha a se tornar realidade, a
unidade deveria começar com pelo menos duas doações por mês. “Porque a
população do Rio de Janeiro é três a quatro vezes maior que a do Recife e
região metropolitana”.
Esses são os três locais que você pode fazer doações ou se
informar a respeito:
* Porto Alegre - Santa
Casa de Misericórdia (apenas doadores falecidos)
Contato - (51) 3213
7172
* Recife - Instituto
de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira
Contato - (81)
2122.4100 ou imip@imip.org.br
* São Paulo - Hospital
das Clínicas
Contato - (11)
2661-0000
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