Pesquisa desvenda como maconha afeta a forma como o cérebro processa informações emocionais
O Globo (RIO), 06/04/2011.
Drogas como a maconha atuam naturalmente no cérebro por meio dos chamados receptores canabinoides. No entanto, o mecanismo pelo qual essas drogas produzem suas alterações sensoriais e de humor no interior do cérebro era amplamente desconhecido até agora. Pesquisa comandada por Steven Laviolette, da Universidade de Ontário Ocidental, identificou uma importante via responsável pelos efeitos da cannabis sobre como o cérebro processa informações emocionais. A descoberta, publicada no "Journal of Neuroscience", também ajuda a explicar a possível ligação entre o uso da droga e a esquizofrenia.
Laviolette e sua equipe da Escola de Medicina e Odontologia descobriram que a ativação dos receptores canabinoides diretamente na região do cérebro chamada de amígdala pode influenciar muito a interpretação de informações emocionais e os processos de memória. Também aumentou consideravelmente os padrões de atividade dos neurônios no córtex pré-frontal, controlando a forma como o cérebro percebe o significado emocional da informação sensorial recebida, e a força das memórias associadas a essas experiências.
- Essa descoberta é de grande relevância clínica, dadas as evidências que sugerem que a exposição à maconha durante a adolescência pode aumentar a probabilidade de desenvolver esquizofrenia no futuro -disse Laviolette, professor associado do Departamento de Anatomia e Biologia Celular. - Sabemos que há anormalidades na amígdala e no córtex pré-frontal em pacientes que têm esquizofrenia e sabemos que estas mesmas áreas do cérebro são sensíveis aos efeitos da maconha e de outras drogas à base da cannabis no processo emocional.
Além disso, a descoberta de Laviolette identifica uma nova via cerebral pela qual a ação de drogas no sistema canabinoide pode distorcer a relevância emocional de informações sensoriais que, por sua vez, pode levar a efeitos psicóticos secundários, como paranoia, associada ao uso excessivo de maconha. O desenvolvimento de compostos que bloqueiem ou modifiquem essa via pode ajudar a controlar episódios psicóticos. Já há algumas substâncias usadas para essa finalidade e que também podem ser empregadas para ajudar pacientes com estresse pós-traumático, que têm dificuldades em lembrar de eventos altamente emocionais.
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