segunda-feira, 2 de abril de 2012

REPORTAGEM: O PERIGO DA INSATISFAÇÃO COM O CORPO

Eterna insatisfação com o corpo coloca saúde de mulheres em risco
Jornal do Brasil, 23-03-2012, Carlos Caroni.

A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender temporariamente a comercialização de próteses de silicone chama a atenção para os risco da busca por um padrão de beleza naturalmente inatingível. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, cerca de 650 mil pessoas - mulheres em 82% dos casos - fazem operações com fins estéticos no país. Isto coloca o Brasil na segunda posição do ranking mundial de cirurgias plásticas. Em primeiro lugar está os Estados Unidos.
Até bem pouco tempo, a dona das maiores próteses mamárias do planeta era brasileira. A modelo Sheyla Hershey entrou para o Guinness Book por ostentar 5,5 litros de silicone em cada seio. Em uma das 40 intervenções a que se submeteu, no entanto, quase morreu após contrair uma infecção bacteriana. Precisou retirar os implantes, e admitiu ter usado medicamentos por conta de um quadro depressivo. Apesar disso, pouco tempo depois, voltou à mesa de operações: "É melhor ter peitão do que depressão", declarou na época.
Segundo o psicólogo Paulo Coletty, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro , quadros como esse são um reflexo da autoestima baixa de determinadas mulheres, que - mesmo dentro do considerado belo pela sociedade - não conseguem sentir-se satisfeitas com o próprio corpo. “É a ansiedade pela modificação que leva a esse tipo de exagero”, resume. “Ainda assim, muitas vezes a transformação não ocorre como o esperado e a pessoa passa a conviver com um conflito que pode facilitar o desenvolvimento de alguns transtornos psiquiátricos”, indica.
Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e professor da Escola Ivo Pitanguy, o cirurgião Eduardo Duarte afirma que é obrigação do médico informar sobre todos os riscos inerentes à operação. Ele conta que já se recusou a realizar o procedimento ao avaliar que não seria benéfico para o paciente e alerta para o crescimento do número de adolescentes que têm procurado clínicas em busca dos implantes.
“São jovens que muitas vezes não tem a estrutura da mama completamente desenvolvida e que não têm maturidade para tomar este tipo de decisão. É necessário ter profissionalismo, bom senso, integridade e responsabilidade. Não posso fazer uma operação por fazer”, explica. Ele fala ainda sobre os exageros: “Todo e qualquer aumento deve ser proporcional ao biotipo da pessoa. Aqueles aceitam fazer estas cirurgias que criam “verdeiras aberrações”, fugindo completamente de todos protocolos médicos, terão responder por qualquer complicação que venha a ocorrer ”, conclui.

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