Jornal do Brasil, 23-03-2012,
Carlos Caroni.
A decisão da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender temporariamente a comercialização de
próteses de silicone chama a atenção para os risco da busca por um padrão de beleza naturalmente inatingível.
Segundo dados da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica, cerca de 650 mil pessoas - mulheres em 82% dos casos - fazem operações com fins estéticos no país.
Isto coloca o Brasil na segunda posição do ranking mundial de cirurgias
plásticas. Em primeiro lugar está os Estados Unidos.
Até bem pouco tempo, a dona
das maiores próteses mamárias do planeta era brasileira. A modelo Sheyla
Hershey entrou para o Guinness Book por ostentar 5,5 litros de silicone em cada
seio. Em uma das 40 intervenções a que se submeteu, no entanto, quase morreu
após contrair uma infecção bacteriana. Precisou retirar os implantes, e admitiu
ter usado medicamentos por conta de um quadro depressivo. Apesar disso, pouco
tempo depois, voltou à mesa de operações: "É melhor ter peitão do que
depressão", declarou na época.
Segundo o psicólogo Paulo
Coletty, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade
Federal do Rio
de Janeiro , quadros como esse são um reflexo
da autoestima baixa de determinadas mulheres, que - mesmo dentro do considerado
belo pela sociedade - não conseguem sentir-se satisfeitas
com o próprio corpo. “É a ansiedade pela modificação que leva a esse tipo de
exagero”, resume. “Ainda assim, muitas
vezes a transformação não ocorre como o esperado e a pessoa passa a conviver
com um conflito que pode facilitar o desenvolvimento de alguns transtornos
psiquiátricos”, indica.
Membro titular da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica e professor da Escola Ivo Pitanguy, o cirurgião
Eduardo Duarte afirma que é obrigação do médico informar sobre todos os riscos
inerentes à operação. Ele conta que já se recusou a realizar o procedimento ao
avaliar que não seria benéfico para o paciente e alerta para o crescimento do
número de adolescentes que têm procurado clínicas em busca dos implantes.
“São jovens que muitas vezes
não tem a estrutura da mama completamente desenvolvida e que não têm maturidade
para tomar este tipo de decisão. É necessário ter profissionalismo, bom senso,
integridade e responsabilidade. Não posso fazer uma operação por fazer”,
explica. Ele fala ainda sobre os exageros: “Todo
e qualquer aumento deve ser proporcional ao biotipo da pessoa. Aqueles aceitam
fazer estas cirurgias que criam “verdeiras aberrações”, fugindo
completamente de todos protocolos médicos, terão responder por qualquer
complicação que venha a ocorrer ”, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário