Especialista
diz que reciclagem no Brasil alcança menos de 2% de todo o potencial
Alana Gandra. Edição: Davi
Oliveira - Agência Brasil, 14/09/2012.
Rio de Janeiro - O Brasil
ainda tem 4 mil lixões e apenas 30% a 40% do lixo total coletado no país são
dispostos em aterros sanitários adequados. Além disso, a reciclagem é
muito baixa no Brasil, segundo avalia o secretário da Associação Brasileira de
Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), Antonio Simões Garcia. Ele informou
que os serviços de aproveitamento de material descartado não transformam no
país sequer 2% do volume que pode ser reciclado.
À Agência Brasil,
Garcia disse que estão “muito próximos da realidade” os números divulgados hoje
(14) na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo os quais apenas 40% do lixo separado dentro de casa pelos brasileiros
são coletados seletivamente ao chegarem na rua.
Alex Cardoso, da coordenação
nacional do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR),
acrescentou que, do total de lixões ainda existentes no Brasil, 1,7 mil estão
na Região Nordeste. “Chega a ter cidades com dois lixões”, informou. O MNCR
avalia que há grande mobilização da sociedade em torno da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, que exige a coleta seletiva para municípios com mais de 30
mil habitantes.
Na avaliação de Cardoso, no
entanto, esse processo ainda é “tímido” no Brasil, “porque a política já tem
dois anos e cerca de 40% dos municípios brasileiros ainda têm lixões e
não dispõem de sistema de coleta seletiva”. O integrante do MNCR lembra que,
até 2014, os lixões terão que ser desativados. Segundo ele, com a implantação
da coleta seletiva e a desativação dos lixões, haverá também a inclusão dos
catadores.
O MNCR está preocupado com a
disposição de alguns municípios de incinerar os resíduos para geração de
energia. Alex Cardoso avaliou que essa é uma atividade negativa. Além de
ser uma tecnologia cara, não inclui os catadores e é prejudicial à saúde humana
e ao meio ambiente, na medida em que libera gases causadores do efeito estufa.
Rita Sairi Kogachi Cortez,
técnica do Instituto Gea, disse à Agência Brasil que o avanço do país
em coleta do lixo “é muito pequeno em relação ao número de resíduos
gerados”. Ela ponderou, contudo, que o “despertar” da população está ocorrendo,
porque as pessoas se mostram interessadas em participar cada vez mais do
processo de separar o seu lixo.
Segundo ela, é necessário
que se criem mais coletas e mais cooperativas de catadores, “para que a
coisa possa caminhar melhor no Brasil”. O Instituto Gea é uma Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que tem entre as finalidades assessorar
a população a implantar programas de coleta seletiva de lixo e reciclagem.
A defesa dessa estratégia é
compartilhada por André Vilhena, diretor do Compromisso Empresarial para
Reciclagem (Cempre), associação sem fins lucrativos dedicada à promoção da
reciclagem com base no conceito de gerenciamento integrado do lixo. Disse que,
nos últimos dois anos, desde a aprovação da Política Nacional de Resíduos
Sólidos, “houve um incremento significativo [das atividades de reciclagem], mas
ainda muito longe do desejado”.
Vilhena comentou que, nesse
período, cresceu o número de prefeituras oferecendo serviço de coleta seletiva
ou ampliando o serviço onde já existia. O problema para a desativação dos
lixões, segundo ele, é que a população brasileira se concentra nos grandes
centros, em especial próximos ao litoral. “Se nós conseguirmos avançar nessas
regiões de maior densidade populacional, com certeza nós vamos equacionar boa
parte do problema”.
O diretor do Cempre disse
que, para ter todo o território com a situação equacionada, existe a
possibilidade de os municípios serem apoiados, por meio de financiamento do
governo federal, para a formação de consórcios que vão elaborar os planos de
resíduos e construir os aterros sanitários.
Segundo o diretor do Cempre,
se forem formados 450 consórcios no Brasil, a questão será resolvida, “porque,
em alguns estados, um aterro sanitário pode atender até 150 municípios”. Para
ele, a solução é a melhor também pelo ponto de vista econômico. “Não faz
sentido você ter um aterro sanitário para municípios com 10 mil ou 15 mil
habitantes”.
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