quinta-feira, 8 de setembro de 2011

REPORTAGEM: CUIDAR DA ÁGUA EM NOME DA BIOENERGIA

Cuidar da água em nome da bioenergia:
Relatório das Nações Unidas oferece diretrizes para tomadores de decisão

Revista Pesquisa Fapesp, 01-09-2011
Maria Guimarães

A relação estreita entre a disponibilidade de água e a produção de energia renovável a partir de biomassa vegetal– a bioenergia e em particular os biocombustíveis – corre nos dois sentidos. Uma irrigação deficiente, tanto em termos de quantidade como de qualidade da água, pode causar sérios danos às lavouras que sustentam a indústria da bioenergia, como a cana-de-açúcar. Quanto à produção, fertilizantes usados nas plantações podem ter impactos sobre a qualidade dos corpos de água, bem como a escolha de culturas menos “sedentas” pode afetar a disponibilidade de água da região. Em busca de tornar essa relação mais harmoniosa, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançou no dia 25 de agosto o relatório The bioenergy and water nexus.

Entre os especialistas convidados para elaborar o extenso documento de quase 200 páginas está Márcia Alcoforado de Moraes, professora do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que coordenou a preparação do capítulo dedicado a descrever e avaliar políticas e instrumentos regulatórios e econômicos que tenham influência sobre como a produção de bioenergia afetará a disponibilidade e o uso da água. O texto inclui estudos de caso como o que Márcia desenvolveu, junto com colaboradores do Brasil e dos Estados Unidos, sobre a bacia do rio Pirapama, em Pernambuco, e publicou no ano passado no Journal of Water Resources Planning and Management. “Os resíduos da vinhaça usada na produção de etanol contaminam os reservatórios, o que prejudica principalmente o uso da água para abastecimento humano”, resume.

Durante o doutorado ela desenvolveu, numa parceria entre os Departamentos de Economia e Engenharia Civil da UFPE e o International Food Police Research Institute (IFPRI), com recursos do CT-Hidro/ FINEP e CNPq, um modelo matemático que leva em conta a quantidade e a qualidade da água para apoiar o estabelecimento de uma regulação adequada. “Procuramos uma forma de dar incentivos econômicos para a distribuição sustentável dos contaminantes”, explica a pesquisadora, que considera o estudo de caso um exemplo de como modelos hidroeconômicos podem subsidiar os tomadores de decisão. “É preciso ter uma visão integrada, que inclua aspectos econômicos, políticos e sociais para fazer uma gestão adequada dos efluentes.”

Uma versão resumida do trabalho que integra o relatório do Pnuma foi publicada este ano na Biofuels, Bioproducts & Biorefining e chama atenção para a importância de se pensar políticas públicas para o uso da água. “Em São Paulo a regulação já é mais estrita do que no Nordeste”, diz Márcia. Segundo ela, as pressões de uso devem se intensificar com a ampliação das fronteiras paulistas de plantio da cana-de-açúcar: mais irrigação será necessária.

Além do relatório, que está sendo divulgado pelo Pnuma para atingir as organizações públicas e privadas envolvidas na tomada de decisões sobre água e bioenergia, a pesquisadora também apresentará os resultados em dois eventos internacionais: o Congresso Internacional sobre Água e a Conferência Internacional Especializada sobre Gestão de Águas e Bacias Hidrográficas, que por coincidência acontecem em setembro em Pernambuco.

O relatório completo e em versão resumida estão disponíveis no site do Pnuma.

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