domingo, 11 de setembro de 2011

REPORTAGEM: PORTADOR DE ASPERGER NÃO COMPREENDE A MORTE

Portador de Asperger não tem plena compreensão da morte
Pessoas com a síndrome têm dificuldade de abstração, linguagem e socialização

Agência USP - 05/09/2011

Questionada sobre a morte de uma namorada, a pessoa com síndrome de Asperger ou autismo de alto funcionamento limita-se a substituí-la por outra. Pois não consegue prever o seu comportamento diante de uma situação hipotética. Isso acontece devido à forma peculiar destas pessoas em se relacionar com o mundo. Inseridas no espectro do autismo apresentam dificuldades na comunicação, abstração e socialização e compreendem apenas alguns aspectos da morte.

Um estudo realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP comparou jovens, com idade média de 19 anos,e concluiu que portadores da síndrome de Asperger conseguem entender melhor a morte do que os deficientes intelectuais leves, mas apresentam prejuízo neste conceito quando comparadas as pessoas sem psicopatologia.

Para amparar sua pesquisa, a psiquiatra Letícia Calmon Drummond Amorim apoiou-se sobre o conceito de morte de Jean Piaget.”Segundo o epistemólogo, enquanto se desenvolve a criança apreende as três dimensões do conceito de morte: universalidade (todos os seres vivos morrem), irreversibilidade (não há retorno à vida) e não-funcionalidade (as funções vitais acabam com a morte)” relata a pesquisadora.

Metodologia

A pesquisa envolveu 90 participantes voluntários, sendo trinta considerados sadios, outros trinta com síndrome de asperger e trinta com deficiência intelectual leve. O grau de escolaridade dos envolvidos variou do ensino fundamental ao superior, tendo sido também selecionados pacientes que estudassem em escolas especiais no grupo com deficiência intelectual.

Para o desenvolvimento da metodologia, a cada grupo foi apresentado um questionário sobre a morte. Além de um questionário sócio-econômico para identificação da classe social dos envolvidos. E, somente para os grupos com a síndrome ou com deficiência leve foi realizada uma avaliação quanto ao desenvolvimento adaptativo a partir da escala Vineland, que mede o nível de adaptação em atividades de vida diária e prática. E, o enquadramento de cada paciente na escala de traços do autismo (ATA), que pontua sintomas de autismo.

Durante a análise estatística, Letícia percebeu que em quaisquer das três dimensões o grupo de pessoas com síndrome de Asperger tinham o conceito de morte prejudicado em relação ao grupo de voluntários sadios. Enquanto superou ao grupo com deficiência leve nas dimensões universalidade e não funcionalidade. E, assemelhou-se a este último grupo apenas em não compreender sobre o entendimento quanto à irreversibilidade.

Dificuldade em entender a morte

A psiquiatra diz que “pessoas do espectro do autismo não conseguem ter uma compreensão ampla sobre a morte, por terem déficits na teoria da mente [saber se colocar no lugar do outro e prever suas ações], da coerência central [não conseguem perceber o contexto geral, pois focam em detalhes] e da função executiva [planejar estratégias para resolver o problema]”.

Para a compreensão de cada aspecto, a pesquisadora exemplifica quanto à teoria da mente que ao ser questionado sobre o que aconteceria se morresse limita-se a responder que não sabe pois nunca morreu. Já, em relação à coerência central, por exemplo, ao se mostrar uma fotografia com vários animais e perguntar o que esta pessoa está vendo, ela irá responder um animal que lhe chama mais atenção, ao invés de falar que tem vários animais diferentes.

Pois não consegue observar a foto em sua totalidade. Por fim, quanto à função executiva, pessoas do espectro do autismo tendem a solucionar problemas apenas por repetição de atos ou por meio de atitudes objetivas, pois não conseguem elaborar estratégias viáveis para resolvê-los.

A dissertação O conceito de Morte e A Síndrome de Asperger foi orientada pelo professor Francisco Baptista Assumpção Jr, do Instituto de Psicologia. A pesquisa deu origem ao livro Autismo e Morte publicado em 2010 pela Editora Rúbio.

A pesquisadora participa do grupo da USP: Clube de Amigos da Sociedade de Asperger.

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