Sobrepesca
e ausência de planos de manejo põem em risco oceanos no Brasil
Isabela Vieira. Repórter da
Agência Brasil. 30/09/2012. Edição: Graça Adjuto
Rio de Janeiro - A
preservação de áreas marinhas e costeiras marcou o Congresso Brasileiro de
Unidades de Conservação, realizado na última semana em Natal (RN).
Especialistas defenderam a criação de mais áreas de proteção nos oceanos, como
forma de preservar os ecossistemas. De 1,3 mil espécies de peixes no bioma
marinho, por exemplo, 19 estão em extinção. Dos recifes de corais entre o Rio
Grande do Norte e o sul da Bahia, 80% também foram perdidos nos últimos 50
anos.
Os dados sobre os recifes
constam de estudo inédito divulgado pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) no evento. A poluição industrial, o despejo de esgoto e de adubo (levado
pelos rios) são os responsáveis pela morte dos corais, principalmente nas
grandes cidades do Nordeste, de acordo com o professor Mauro Maida. O
desmatamento da Mata Atlântica e de mangues e a retirada de calcário dos corais
para a construção civil acentuaram o problema.
Ao lado dos efeitos do
aquecimento global, como a elevação da temperatura do mar e a absorção em
excesso de dióxido de carbono, a sobrepesca - a pesca acima do limite de
reposição – tornou-se a principal inimiga dos ecossistemas marinhos, diz
Maida. “É preciso lembrar que peixe não cai do céu e que a proteção da
cadeia produtiva é o papel das unidades de conservação”. Lá, já que não
há ninguém matando – se dá a cria e a engorda. Com isso, os bichos saem
naturalmente dessas áreas e podem ser capturados, grandes, do lado de fora”,
completa o professor.
Nos 4,5 milhões de
quilômetros quadrados do bioma marinho brasileiro, o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio
Ambiente, identificou a necessidade de criação de pelo menos 50 reservas
extrativistas, uma das categorias de unidades de conservação, até 2014. Diante
da exploração intensa e desregulada de itens com valor comercial, as atuais 59
unidades não são suficientes para proteger o uso da zona costeira e não atendem
a 5% do total da área, informa o presidente Roberto Vizentin.
“O mar tem toda a potencialidade
em recursos para a segurança alimentar e em recursos que estão na base do
crescimento industrial, como petróleo e gás. É como no território, se não
tivermos uma estratégia de ordenar essa extraordinária riqueza, que já está
sofrendo pressão, as atividades no ambiente marítimo ficam cada vez mais
vulneráveis”, reconheceu Vizentin. Ele pretende ampliar ainda a área no
Pantanal, na Caatinga e Mata Atlântica, que são protegidos em menos de 10%.
Segundo a Organização das
Nações Unidas, que lançou recentemente o Pacto para os Oceanos, 3 bilhões de
pessoas dependem da biodiversidade marinha e costeira para a própria
subsistência. Com a iniciativa, o órgão multilateral quer que 10% das áreas
marítimas e costeiras no mundo sejam alvo de medidas de conservação até 2020 e
que até 2015 todos os países criem metas para reduzir o lançamento de poluentes
ao mar, além de propor medidas de mitigação.
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