Entrevista - estudo
busca desvendar síndrome do ovário policístico
Por Dr. Antônio Sproesser.com
Pesquisa
realizada pelo ginecologista Dr. Fábio Lopes Teixeira Filho, professor do
Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e
pesquisador do Departamento de Medicina Reprodutiva da Universidade da
Califórnia, San Diego, pode ajudar a explicar a origem da síndrome dos ovários
policísticos ( SOP) e indicar possíveis caminhos para seu tratamento e cura. Segundo dados
internacionais, cerca de 10% das mulheres em todo o mundo apresentam a síndrome
dos ovário policísticos, doença pouco conhecida e que tem como principal
conseqüência a infertilidade.
* Em que consiste a síndrome?
Dr.Fábio Lopes: A SOP caracteriza-se pela ausência de ovulação, em função do aumento do nível de hormônios masculinos.O fato provoca alterações na estrutura dos ovários,com formação de microcistos. Estas modificações ocorrem devido a expressão anormal do gene relacionado ao fator de crescimento e diferenciação 9 (GDF-9). Este impede a formação do óvulo e favorece o acúmulo de pequenos cistos nos ovários, gerando aumento de volume dos mesmos.
* Quais os sintomas apresentados
por mulheres com SOP?
FL:
Classicamente, elas apresentam atraso menstrual, aumento de peso, pele
oleosa e acne, presença de pêlos no queixo, buço, tórax, abdômen, braços,
face interna das coxas e região dorsal.
* Além da infertilidade, a SOP
traz outras consequências?
FL:
A síndrome também pode ampliar as chances de desenvolver diabetes tipo 2,
doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, infarto do miocárdio),câncer do
endométrio e abortos, além de aumento do tamanho do clitóris. Observa-se ainda
tendência a sobrepeso, quase 60% das mulheres com SOP são obesas.
* Desde quando desenvolve estudos nesse campo?
* Desde quando desenvolve estudos nesse campo?
FL:
Interessei-me por este tema durante meu mestrado, em 1997. Meu ponto de partida
foram estudos realizados por pequisadores da Universidade da Califórnia
Stanford. Estes conseguiram bloquear em modelo animal (ratos), através de
técnicas de biologia molecular, o gene responsável pela produção do fator de
crescimento e diferenciação 9 ( GDF-9). Nessa pesquisa notou-se que as
alterações causadas pela ausência do gene nos animais foram muito semelhantes
àquelas observadas nos ovários das pacientes com a SOP. Nos roedores, aqueles
que tiveram o gene bloqueado não apresentaram desenvolvimento do óvulo,
tornando-se inférteis. Tal descoberta, motivou-me a estudar a expressão do
GDF-9 em humanos,comparando o padrão de expressão do GDF-9 no processo da
foliculogênese (desenvolvimento dos folículos dentro do ovário) em mulheres
normais, naquelas com ovários policísticos (OP) e nas que apresentavam a
Síndrome do Ovário Policístico (SOP). Foram analisados cerca de 4 mil folículos
ovarianos, de 24 mulheres com idades de 18 a 40 anos.
* De que forma o resultado do estudo pode ajudar a desvendar o distúrbio e contribuir para seu tratamento?
FL:
A partir destes resultados é possível partir para um estudo um pouco mais
detalhado, em busca da cura para a síndrome. Ainda é preciso identificar os
mecanismos que controlam a expressão do GDF-9. Quando tivermos esta informação,
poderemos controlar a SPO por meio de medicamentos. Além disso, a partir
de estudos adicionais da expressão do GDF-9 em ovários de mulheres normais,
poderemos avaliar a interferência do GDF-9 na qualidade do óvulo, e assim
melhorar os resultados da técnica de fertilização in vitro, criar novos
recursos anticoncepcionais ou ainda métodos para retardar a menopausa.
* Quais são os tratamentos
para SOP disponíveis hoje?
FL:
O tratamento é individualizado e multidisciplinar conforme as manifestções
clínicas de cada paciente. Inicialmente,recomenda-se perda de peso por
meio de dieta adequada aliada a exercício físico. O tratamento medicamentoso,
baseia-se na prescrição da pílula anticoncepcional para as pacientes que não
desejam engravidar, ou medicamentos para induzir a ovulação no caso das
pacientes que queiram ser mães. Além disso, pode-se utilizar medicamentos
para inibir o aumento de pelos e acne, assim como drogas para reduzir a
resistência periférica à insulina,diminuindo desta forma o risco de se
desenvolver diabete Tipo 2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário