Técnica menos invasiva garante marcapasso para recém-nascido
Folha de São Paulo, 26-09-2011
DÉBORA MISMETTI
DÉBORA MISMETTI
Brayan Alves Farias, de sete meses, começou sua vida em sério risco. Enquanto ele ainda estava no útero, um ultrassom revelou que seu coração tinha um bloqueio elétrico, isto é, batia muito mais devagar (60 batimentos por minuto) do que o ideal (cerca de 120 bpm).
"Isso poderia levar ao aborto ou à insuficiência cardíaca, que causa inchaço nos órgãos. O fígado e o coração já estavam aumentados", diz o cardiologista José Carlos Pachón, do Hospital do Coração, onde Brayan nasceu.
A solução foi colocar um marcapasso, que vai regular os batimentos cardíacos do menino por toda sua vida.
Pachón, seu irmão Enrique Pachón e sua equipe desenvolveram um método menos invasivo de colocação de marcapasso em crianças, sem necessidade de cortar e afastar as costelas para instalar os fios do aparelho.
Em vez disso, o eletrodo é passado por uma veia abaixo do ombro até o coração, onde é parafusado. O outro lado do fio fica embaixo da pele e vai até o aparelho, que é colocado embaixo do músculo, no abdome. É neste local onde é feito o maior corte necessário para esse procedimento.
"Em crianças com menos de 12 kg que precisam de marcapasso, a rotina é a abertura do tórax, uma cirurgia traumática. Nossa técnica é minimamente invasiva", afirma o José Carlos Pachón.
PARA DURAR
Um marcapasso é trocado, em geral, a cada oito anos. Em crianças, são cinco anos, porque o aparelho tem de bater mais vezes por minuto.
A colocação em bebês tem um desafio a mais porque eles crescem muito rápido, o que vai deixando os fios "curtos" demais. Para evitar novas intervenções por causa disso, os cirurgiões deixam sobras de fio enrolado dentro do corpo do bebê. À medida que ele cresce, o fio se solta. A manutenção do marcapasso é feita de seis em seis meses.
A primeira consulta de Brayan foi na quinta passada. "Ele é lindo, saudável e nem dá para perceber que tem marcapasso", diz a mãe, Antonia Alves Pedrosa, 34.
Ela soube na gravidez que tinha lúpus. Mulheres com a doença autoimune têm 7% de risco de gerar bebês com bloqueio elétrico no coração. Sem marcapasso, só 11% das crianças com o problema, que atinge um em 20 mil bebês, chegam à vida adulta.
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