Criação da terceira dentição para humanos está mais próxima
Divicity, 04-10-2011
Ao longo da vida, os dentes, com os demais componentes da boca, terão de rasgar, esmagar ou triturar de 25 a 30 toneladas de alimentos. Suportarão centenas de agressões e terão de enfrentar o constante ataque de bactérias. Além disso, a constituição genética, que torna certas pessoas mais suscetíveis a ter problemas dentais, e um estilo de vida impróprio prejudicam a saúde bucal.
Com toda essa configuração atuando durante a vida, na maior parte dos casos seria preciso uma terceira dentição para assegurar, na velhice, a integridade da arcada dentária. O problema é que na espécie humana não existe essa possibilidade. Quando a pessoa perde um dente permanente, outro não nasce no lugar.
Essa realidade, porém, está bem perto de mudar. Um casal de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) acaba de dar um passo importante para a viabilização da terceira dentição. Os dois desenvolveram dentes a partir de moldes biodegradáveis e células-tronco adultas. Os primeiros experimentos, feitos em ratos, mostraram resultados positivos — os cientistas conseguiram criar dentes nos animais —, abrindo caminho para a criação da terceira dentição para humanos.
O estudo, iniciado em 2001, rendeu frutos já em 2004, quando o casal Silvio e Mônica Duailibi, ambos coordenadores do Laboratório de Engenharia e Biofabricação da Unifesp, conseguiu recriar compostos no abdômen de ratos e, em 2008, na mandíbula, tudo a partir de células-tronco adultas do próprio animal. “Não era um dente propriamente, mas coroas com todas as estruturas, como dentina, esmalte, polpa e ligamento periodontal. As dimensões e o formato, porém, não eram de um dente normal”, explica Mônica.
A partir daí, os pesquisadores se debruçaram sobre materiais e metodologias para encontrar quais poderiam servir como uma espécie de suporte, com as dimensões e o formato do dente, para receber as células-tronco e, dessa forma, chegar a uma reprodução fidedigna.
A formação do dente biológico é muito mais difícil que a de uma orelha, por exemplo, pois envolve duas etapas distintas: a composição do dente e a estrutura que o suporta na mandíbula.
Na etapa atual do estudo, realizado em parceria com o Centro de Tecnologia da Informação Renato Acher, órgão de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia, os cientistas conseguiram reproduzir exatamente essas estruturas, fiéis ao tamanho e ao formato do dente humano.
“Conseguimos chegar a polímeros biodegradáveis, que são como arcabouços para a diferenciação das células-tronco precursoras das estruturas dentais”, comemora Silvio Duailibi. Os resultados serão apresentados na 5ª Conferência Internacional de Pesquisa Avançada em Prototipagem Rápida e Virtual, este mês, em Portugal.
Engenharia tecidual
Todo o processo se baseia nas técnicas da chamada engenharia tecidual, que reúne um conjunto de células-tronco com estruturas construídas para servir como apoio para que essas células se diferenciem e se transformem no tecido desejado.
Esse método reúne os princípios da biologia com técnicas da engenharia biomédica, inclusive a computacional. “Com a união das técnicas, é possível elaborar a forma dos dentes e alcançar não só a reparação, mas a regeneração”, afirma Silvio. Esse conjunto de procedimentos parece um tanto curioso ou mesmo tirado de um filme de ficção-científica, já que, por meio de imagens de tomografia ou ressonância magnética, um software gera uma estrutura tridimensional de um dente.
“É como se o programa copiasse as dimensões do dente, de acordo com as imagens dos exames, e depois imprimisse camada por camada até que o molde esteja na forma desejada”, explica Silvio.
“Com isso, reproduzimos dentes na forma que quisermos: o incisivo, o molar, o pré-molar e o canino”, acrescenta Mônica.Outro resultado positivo é que o arcabouço, feito com material biorreabsorvível ou biocompatível, tem completa aceitação no organismo, fazendo com que as células se moldem e se diferenciem dentro dele, ou seja, transformem-se nos componentes do dente.
Depois do processo de diferenciação celular, o organismo reabsorve os elementos do molde e deixa a estrutura do dente feita. Com essa estratégia, é possível regenerar dentes, e não mais apenas repará-los”, diz Silvio. Mesmo com um longo caminho pela frente, os pesquisadores acreditam que estão perto de desenvolver métodos para a regeneração parcial ou total do dente humano proveniente de suas próprias células.
“Precisamos realizar mais testes em nível celular para garantir a segurança da diferenciação das células, para que elas não tenham mutações ou alterações genéticas que possam causar um tumor, por exemplo”, diz Silvio Duailibi.
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