Por
que os homens têm cada vez menos espermatozoides?
Estudos mostram queda na
qualidade do sêmen ao longo dos anos em todo o mundo, inclusive o Brasil. Stress, obesidade, poucas horas de sono e
poluição do ar, entre outros fatores ligados à vida moderna, podem ser os
culpados.
(Por Juliana Santos, Veja - 05/02/2013)
Nos últimos anos, estudos de
diversos países chegaram a uma conclusão preocupante: a quantidade e a qualidade dos espermatozoides no sêmen dos homens
estão diminuindo. Ainda não é possível afirmar se a fertilidade está
sendo afetada por esse fenômeno, mas essa redução não deixa de ser alerta
importante sobre a saúde masculina. O sêmen é considerado um
"termômetro" da saúde do homem, de forma que a queda na sua
qualidade, mesmo que não implique em dificuldades de reprodução, não é um bom
sinal.
Um dos estudos mais
relevantes, realizado com 26.609 homens na França e publicado em dezembro do
ano passado no periódico Human
Reproduction, mostrou uma redução de 32% na concentração dos
espermatozoides em um período de 17 anos. A média para homens de 35 anos de
idade caiu de 73,6 milhões por mililitro de sêmen para 49,9 milhões.
Na Espanha, um estudo
comparou 273 amostras de sêmen de 2001 e 2002 com 215 amostras de 2010 e 2011 e
observou uma redução na concentração de espermatozoides de 72 milhões por
mililitro de sêmen para 52,1. A Finlândia mostrou um padrão parecido: um estudo
com 858 homens mostrou que a concentração espermática, que em 1998 era de 67
milhões por mililitro de sêmen, caiu para 48 milhões em 2006.
Além da quantidade de
espermatozoides por mililitro, denominada concentração espermática, outros
fatores importantes para a qualidade do sêmen são a motilidade e a morfologia.
A primeira se refere à capacidade de movimentação do espermatozoide: aqueles
com mais chances de realizar a fecundação são os que "nadam" rápido e
em linha reta. Já a morfologia se refere à forma do gameta, como o tamanho da
cabeça em relação à cauda.
Um estudo realizado na
Dinamarca e publicado no periódico British Medical Journal (BMJ), concluiu
que apenas um quarto dos homens tinha qualidade espermática ideal, levando em
consideração os fatores explicados acima. A pesquisa contou com a participação
de 4.867 homens, com idade média de 19 anos, e mostrou também que um em cada
quatro homens deve levar um tempo prolongado para conseguir engravidar a
parceira e 15% apresentam alto risco de precisar de tratamento de fertilidade.
No Brasil, um estudo
realizado por pesquisadores da clínica de reprodução assistida Fertilityanalisou
2.300 amostras de sêmen de homens com idade média de 35 anos, com um
intervalo de 10 anos (743 amostras de 2000-2002 e 1536 de 2010-2012). Os
resultados mostraram uma redução na concentração de espermatozoides por
mililitro de 61,7 milhões para 26,7. A quantidade de espermatozoides
morfologicamente normais caiu de 4,6% para 2,7%.
Edson Borges, especialista
em reprodução humana e Diretor Cientifico da clínica Fertility, que coordenou o estudo, explica que os números
brasileiros são menores do que os resultados dos outros países porque a
pesquisa foi realizada com homens que procuraram a clínica para tratamento de
fertilidade, o que significa que a probabilidade de que eles já apresentem uma
quantidade menor de espermatozoides é maior. Ainda assim, a tendência de queda
observada é semelhante a dos outros estudos.
A pesquisa, que será
apresentada no Congresso Anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e
Embriologia (ESHRE), em julho de 2013, mostra também um aumento na azoospermia,
ausência de espermatozoides no sêmen. No período estudado, a quantidade de
homens com esse quadro aumentou de 4,9% para 8,5%. Além disso, foi encontrado
um aumento na quantidade de homens com alteração seminal grave (problemas na
concentração, morfologia e mobilidade dos espermatozoides): de 15,7% para
30,3%.
Mudança de parâmetros — Em
2010, os parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para
análise do sêmen se tornaram menos rígidos. A partir dessa data, a concentração mínima de espermatozoides
por mililitro de sêmen para o homem considerado normal passou de 20 milhões, no
manual de 1999 da OMS, para 15. Já a porcentagem mínima necessária de gametas
considerados morfologicamente normais passou de 14% para 4%.
Isso significa que os homens
com concentração espermática entre 20 e 15 milhões de espermatozoides, por
exemplo, que antes seriam considerados abaixo do normal e, por isso, deveriam
realizar diversos exames para determinar as causas da concentração baixa, passam
a ser considerados pacientes dentro da média. Para Conrado Alvarenga,
urologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e do
Hospital Sírio Libanês, o impacto dessa modificação ainda é incerto, mas pode
levar a um atraso na busca por ajuda médica. De acordo com ele, cerca de 40% de
homens com espermograma alterado antes de 2010 passaram a ser considerados
normais.
A redução nos valores de
normalidade para os parâmetros seminais ocorreu devido aos resultados de um
estudo multicêntrico, realizado pela própria OMS, que mostrou que os valores
encontrados na média dos homens considerados férteis eram menores do que
aqueles que estavam sendo adotados como normais. "Antes de 2010 era comum
os médicos sentirem que os critérios da OMS eram muito rígidos. A gente via
vários homens nos consultórios que conseguiam engravidar a esposa mesmo estando
abaixo dos valores determinados", diz Conrado. "O estudo de 2010
mostrou para o mundo que os valores normais não são tão altos quanto se achava
antes."
Uma crítica feita por
especialistas ao estudo da OMS é o fato e que ele não incluiu amostragem de
participantes latinos, de modo que é possível que os valores continuem
inadequados para a população desses países, inclusive o Brasil. De acordo com Aguinaldo
Nardi, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a entidade está
desenvolvendo um estudo que busca descobrir os valores normais de espermograma
dos brasileiros, que deve ficar pronto em cerca de 10 meses. "O estudo
também servirá para futuras comparações em relação à qualidade e quantidade de
espermatozoides no sêmen", diz Aguinaldo.
Fertilidade – Segundo a
definição da OMS, um homem só pode
ser considerado infértil se ele não consegue engravidar sua companheira (desde
que ela seja normal no que se refere à fertilidade) em até 12 meses de
tentativa, uma vez que esse é o período em que 90% dos casais conseguem
atingir o objetivo. Isso significa que um homem não pode ser considerado
infértil com base nos resultados da análise de sêmen, a não ser em casos
extremos, como a azoospermia, ausência total de espermatozoides no sêmen
ejaculado.
Por essa razão, apesar das
diversas evidências científicas apontando para a redução na quantidade e piora
na qualidade dos espermatozoides, ainda não se pode afirmar se isso provocou ou
não o aumento da infertilidade. "Os estudos são realizados com base em espermogramas. Esse exame não é um
carimbo de fértil ou infértil, ele é um sinal indireto de que alguma coisa não
está bem", explica Conrado. "Um individuo com concentração
espermática menor que 15 milhões por mililitro de sêmen, por exemplo, não é
infértil. Ele pode engravidar a esposa, mas ele pode demorar mais que um ano,
ou pode ser que ele tenha dificuldades mesmo."
De acordo com os
especialistas, o aumento da procura por tratamentos para infertilidade e
reprodução assistida também é uma realidade, mas ainda não é possível avaliar o
impacto que a queda na qualidade dos espermatozoides pode ter nesse
crescimento. Outros fatores, como as mulheres estarem engravidando cada vez
mais tarde e um aumento do poder aquisitivo de classes mais baixas, que tornou
esse tipo de tratamento mais acessível do que no passado, podem ter um peso
maior nesse aumento do que a queda na qualidade seminal.
Alerta – Os dados
existentes até o momento, apesar de não demonstrarem um comprometimento da
fertilidade, são motivo de preocupação para os especialistas. Além de suas
funções reprodutivas, o sêmen é
considerado uma espécie de termômetro para saúde do homem, de forma que
a queda da sua qualidade pode ser um reflexo de outros problemas de saúde.
"Será que a piora na qualidade seminal não é um reflexo da piora da saúde
no mundo, mesmo nos países desenvolvidos?", questiona Conrado Alvarenga.
Para os especialistas, tudo
indica que a resposta é positiva, e as possíveis causas estão associadas àquilo
que se convencionou chamar de "vida moderna". "O estereótipo do homem moderno é aquele
mais gordinho, estressado, ejaculador precoce, muitas vezes impotente, que não
tem tanto interesse sexual e que está as três da manhã checando o celular. Esse
homem pode ficar cada vez mais infértil", afirma Conrado.
Carlos Petta, coordenador do
Centro de Reprodução Humana do Hospital Sírio-Libanês, relaciona as causas
dessa redução com a vida nas grandes cidades: "Essa situação é quase um
retrato dos homens de cidade grande. Muitas vezes esses efeitos são maiores nas
grandes cidades, porque o estilo de vida que a gente tem hoje é pior do que era
há vários anos atrás. Só numa cidade como São Paulo, em termos de poluição, o
quanto essa poluição está afetando várias funções do nosso organismo, inclusive
a produção e qualidade dos espermatozoides?"
Estilo de vida — As
principais causas apontadas por especialistas para a queda na qualidade do sêmen são: poluição do ar, obesidade, estresse, consumo de bebidas alcoólicas,
cocaína e crack, tabagismo, alimentação deficiente e sedentarismo.
Esses fatores, que mais recentemente têm sido relacionados com prejuízos na
produção de gametas, já são conhecidos há mais tempo por serem prejudiciais
para a saúde e a qualidade de vida.
A obesidade e o sedentarismo, por exemplo, ajudam a
intensificar a conversão de hormônio masculino (testosterona) em hormônio
feminino (estrogênio) no homem. Uma quantidade elevada de gordura na região do
púbis também ajuda a elevar a temperatura dos testículos, o que é prejudicial
para a espermatogênese. Além disso, tanto a obesidade quanto o stress provocam
um desequilíbrio hormonal, que exerce efeitos negativos sobre a produção dos
espermatozoides. A relação entre a obesidade
e a piora da qualidade seminal foi observada por um artigo de revisão, que
analisou 21 estudos sobre o assunto, publicado em dezembro de 2012 no periódico Human
Reproduction. A pesquisa concluiu que tanto a obesidade quanto o fato de estar
acima do peso estão relacionados com o aumento da prevalência de azoospermia.
Já a poluição do ar, tabagismo e uso de drogas, como a cocaína e
o crack, provocam o aumento da produção de substâncias que são tóxicas para os
testículos, enquanto uma alimentação deficiente leva à diminuição da produção
de antioxidantes, que combatem os radicais livres e seus efeitos negativos na
produção dos espermatozoides.
Previsões – A maior
parte dos estudos sobre o assunto ainda é muito recente, e mais pesquisas serão
necessárias para que se possa ter uma ideia mais clara da dimensão que essa
redução da qualidade do sêmen pode atingir no futuro. "Não deu tempo ainda de
falar 'temos dez anos de estudos mostrando que o homem moderno está ficando
infértil'. Tudo está surgindo agora, 2012, 2010, para a ciência é ontem, é
muito recente", afirma Conrado Alvarenga. "A gente está acompanhando
a queda nos parâmetros seminais no dia a dia."
Para Daniel Zylberstejn,
urologista e assessor técnico de análise seminal do laboratório Fleury Medicina
e Saúde, o potencial reprodutivo do homem é um fator decisivo para determinar o
quanto ele será afetado pelos estímulos externos. "Ainda é difícil de
entender o quanto isso pode significar uma perda de potencial reprodutivo no futuro.
Provavelmente aqueles que já nascem com potencial baixo podem ser mais afetados
por esses agravos, mas talvez esses fatores não causem tantos efeitos naquele
homem que tem potencial reprodutivo muito alto", afirma. Se, por enquanto, a queda na
qualidade seminal não pode ser considerada um problema reprodutivo, ela é mais
um sinal de que hábitos pouco saudáveis, principalmente os relacionados ao
estilo de vida moderno, podem afetar a saúde de diversas formas. "Essa
redução pode ser transitória e melhorar. Mas é óbvio que a vida moderna traz
consequências ruins para os espermatozoides", afirma Aguinaldo Nardi.
PREVENÇÃO
- Visite seu médico e busque orientações;
- Dieta balanceada, conforme as necessidades energéticas;
- Parar de fumar;
- Reduzir o consumo de álcool e outras drogas;
- Fazer Exercícios Físicos regularmente;
- Buscar alternativas relaxantes para aliviar o estresse.
Você merece o devido cuidado. Pense nisso!!! E garanta o futuro de sua família!!!
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