Remédio usado para “enganar”
o bafômetro é vendido sem receita
No entanto, especialistas
garantem que o metadoxil não anula o efeito do álcool no sangue e pode causar
taquicardia, mal-estar e até convulsão
(Fabiana Grillo, do R7 - 14/2/2013)
Com a Lei Seca mais rígida,
jovens buscam alternativas irresponsáveis para “enganar” o bafômetro sem se
preocuparem com os riscos à saúde. Uma delas é o uso de um remédio tarja
vermelha — o que indica ausência de risco de morte — chamado metadoxil. Apesar
de ser controlado, a reportagem do R7 visitou seis farmácias na
região da zona oeste de São Paulo e constatou que o remédio é vendido sem
receita médica.
Questionado sobre a
necessidade de prescrição, o balconista de uma drogaria no bairro de Perdizes
foi enfático:
— Para esse medicamento? Não
precisa.
Além da venda livre, a
reportagem também descobriu que o metadoxil está com o estoque baixo — em
quatro farmácias o medicamento não foi encontrado. A atendente de uma grande
rede de drogarias afirmou:
— Estamos vendendo bastante
e só tenho uma caixa. Vai levar?
A denúncia do uso inadequado
da droga pode ser vista em um vídeo postado no YouTube pelo grupo de humor
alternativo La Fênix. Apesar de não sabermos se a cena é real, três jovens
bebem vodca e um deles, exatamente o que tomou o metadoxil, consegue driblar o
bafômetro.
Indicado para o tratamento
de alcoolismo e alterações hepáticas, o remédio, segundo a bula, acelera o
metabolismo do álcool, o que na cabeça dos jovens deveria mascarar o nível da
substância no sangue. Mas, a hepatologista dra. Edna Strauss, da Sociedade
Brasileira de Hepatologia (SBH), alerta para os perigos.
— Isso é uma loucura e as
pessoas estão sendo enganadas. O medicamento é eficaz no tratamento de quadros
clínicos específicos e não para deixar o motorista sóbrio.
A médica acrescenta que,
“por ser uma droga relativamente nova, seus efeitos em longo prazo ainda são
desconhecidos”. Mas, ela cita taquicardia, sensação de mal-estar e até
convulsão como possíveis consequências da administração do comprimido sem
orientação médica.
Indignado, o psiquiatra dr.
Ronaldo Laranjeiras, professor titular da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo) e coordenador do Instituto Nacional de Políticas de Álcool e Drogas,
critica quem acredita nessa “promessa”.
— É muita ingenuidade
acreditar que um remédio possa anular o efeito do álcool. Isso é perigoso. Há
poucas evidências científicas a favor do metadoxil que, aliás, nem é aprovado
pelo FDA.
Em nota, o laboratório
Baldacci S.A., que comercializa o remédio, desaconselha a automedicação e
ressalta que “o uso do metadoxil não
protege o motorista que ingeriu bebida alcoólica da condição de infrator e
também não impede a detecção do uso de álcool pelo bafômetro”.
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