terça-feira, 21 de agosto de 2012

REPORTAGEM: UMAMI - O 5º GOSTO DO PALADAR

Professor da Unicamp faz livro sobre o umami, o quinto gosto do paladar
Por: Jornal da UNICAMP, 19/08/2012.


São Paulo - Pesquisadores descobriram que se pode atribuir ao aminoácido glutamato monossódico (MSG) o quinto gosto do paladar humano, o umami, que aparece em alimentos como o queijo parmesão, o tomate e o shoyu. Umami origina de umai que, em japonês, significa saboroso ou delicioso. O tema agora é tratado no livro "Umami e Glutamato: Aspectos Químicos, Biológicos e Tecnológicos", do professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade de Campinas (Unicamp) Felix G. Reyes, publicado pela editora Plêiade.

Reyes lembra que até pouco tempo só eram reconhecidos pela comunidade científica os gostos básicos, quais sejam, doce (sacarose), salgado (sal de cozinha), azedo (ácido cítrico) e amargo (cafeína). 
O quinto gosto foi descoberto quando Kikunae Ikeda, químico japonês e pesquisador da Universidade Imperial de Tóquio, percebeu que um dos ingredientes da comida que ele consumia diariamente - a sopa de caldo dashi, feita com a alga konbu, era responsável por sensações agradáveis além dos gostos até então conhecidos.

Kikunae desvendou que as algas poderiam conter alguma substância capaz de produzir aquela sensação agradável e começou a pesquisar uma possível molécula responsável pelo novo gosto. Constatou que, quando o glutamato estava ligado a proteínas, não apresentava o novo gosto. Só era notado em sua forma livre.

Após detectar a substância responsável pelo quinto gosto a partir desta descoberta, em 1909, Kikunae Ikeda registrou a patente do produto glutamato monossódico, e o empresário japonês Saburosuke Suzuki II fundou a empresa Ajinomoto. Os orientais são os que mais produzem e mais consomem o glutamato.

Após a descoberta, em pouco tempo, o produto começou a ser comercializado e agregado a alimentos durante o preparo. Foi  aceito como aditivo alimentar, como realçador de sabor, inicialmente fabricado pela hidrólise de proteínas, em geral de cereais. Mas como tratava-se de um processo caro, demorado e complexo, passou a ser produzido com mais de 99% de pureza por meio de fermentação a partir do melaço da cana, com microorganismos que geram o glutamato livre.

Segundo o professor Reyes, peritos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde, entre outras entidades, avaliaram ao longo do século 20 o glutamato e atestaram o uso seguro como aditivo alimentar. 

Na Unicamp o professor abriu uma linha de pesquisa em Toxicologia de Alimentos na FEA. As especulações começaram pelos aspectos bioquímicos, utilizando um modelo de estudo com ratos que até então não havia sido praticado – a exposição subcrônica com posterior indução do diabetes.

Todos os estudos com o glutamato eram feitos com vistas ao seu uso como aditivo alimentar, mas a partir do ano 2000 houve um marco divisor, quando pesquisadores da Universidade de Miami publicaram uma pesquisa indicando haver receptores para o glutamato nas papilas gustativas da língua.

Era o que faltava para comprovar que ele seria o responsável pelo quinto gosto básico, nascendo, cientificamente, o conceito umami, naturalmente presente em diversos alimentos, como o queijo parmesão, por exemplo. “Este é um dos alimentos mais ricos em umami”, afirma o docente. “Com isso, ele pode ser adicionado na salada, na sopa e na pizza, potencializando o sabor do alimento.”

Outro alimento rico em umami é o tomate. À medida que amadurece, aumenta a sua quantidade de glutamato livre. 

O molho de soja, o shoyu, também tem glutamato livre em boa quantidade. “E adicionamos ao alimento uma pequena quantidade, pois seu uso é autolimitante. É que, em excesso, o glutamato torna o quinto gosto desagradável, como o açúcar, quando adoçamos demais, e o sal, quando salgamos demais.”

Recomenda-se algo entre 0,3% e 0,8%, o que equivale a uma colher de sobremesa para cada 100 gramas de alimento. Usado conjuntamente, frisa o professor, o glutamato exigiria uma menor quantidade de sal.

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