sábado, 7 de janeiro de 2012

REPORTAGEM: IMPLANTE DE OSSOS EM ODONTOLOGIA

Brasil vive boom de transplante de osso
Técnicas de aproveitamento de osso de doador humano permitem aumentar oferta do tecido para a reconstrução de face e região da arcada dentária

O Estado de São Paulo, 03-01-2012
 
A busca por um sorriso perfeito tem lotado os consultórios dentários para alegria não só dos pacientes que recuperam sua autoestima, mas também dos profissionais especializados e de um novato nos bancos de tecidos, o osso. A odontologia tem sido responsável por uma explosão nos números de transplantes desse órgão que até bem pouco tempo era ignorado como alternativa de doação humana.

O volume do transplante ósseo no País saltou de 755 casos em 2005 para 23.647 em 2010. Nos primeiros nove meses de 2011, os registros chegaram a 17.609 casos, segundo a Associação Brasileira dos Transplantes de Órgãos (ABTO).

“Há uma forte procura por esse tipo de tecido para tratamento com implantes dentários”, afirma Augusto Santos, responsável pelo Banco de Tecidos do Hospital das Clínicas de São Paulo, ligado à Faculdade de Ortopedia da USP. “O transplante de ossos é oficial, como de fígado ou rim”, explica Santos. “E tem sido muito usado nos consultórios”.

O estudo da entidade mostra que a curva dos transplantes de osso dispara a partir da regulamentação da nova lei dos bancos de tecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com as modernas técnicas de aproveitamento do osso de doador humano, a oferta do tecido para a reconstrução de face e região da arcada dentária aumentou de 4,1 transplantes de osso por milhão de pacientes (pmp), naquele ano, para 123,1 pmp em 2011 (janeiro a setembro).

Profissionais

O número de dentistas credenciados pelo Ministério da Saúde, habilitados para usar material doado a Banco de Tecido, também é recorde. Em 2005 eram 22 profissionais credenciados, segundo estudo da Universidade de Medicina da USP. Esse número subiu para 402 em 2006 e foi, em 2009, para 2.653. Em 2010, o número de dentistas habilitados foi para 3.585.

O resultado do aumento da oferta de osso, da regulamentação e do incremento dos profissionais de saúde bucal foi uma avalanche de procedimentos de correção nos consultórios.

De acordo com o cirurgião bucomaxilo do Hospital das Clínicas André Caroli Rocha, os enxertos de osso humano para correção odontológica funcionam no apoio de tratamentos como os implantes que usam bases de titânio, o “ouro” da moda dos consultórios dentários.

De acordo com o cirurgião do HC, “o osso transplantado é usado para completar cavidades junto com os pinos. O material de banco de tecidos pode ser granulado ou em blocos, conforme a necessidade e a indicação de cada paciente,” explica Caroli.

Ele explica ainda que o enxerto é também usado no levantamento do maxilar e no alargamento dos ossos da parede da boca para posterior aplicação no local das bases de titânio que darão sustentação para dentes individuais, recuperando as funções de mastigação do paciente e permitindo a reparação estética.
Tratamento

O tratamento é longo. Exige de quatro a oito meses para a boa cicatrização do osso transplantado, um processo também chamado de osseointegração. Segundo o cirurgião da USP, os índices de sucesso são da ordem de 97%.

Caroli explica ainda que os altos índices de desdentados do País levam a um elevado número de pessoas com redução óssea na face e com indicação de reconstrução óssea.

“Quando você extrai um dente, ou o paciente perde esse dente de qualquer outra forma, ocorre uma natural diminuição do osso naquela região da boca”, explica ele. Isso leva, segundo o especialista, a uma necessidade de reorganização do local com estímulos para que os ossos da boca voltem a se formar e a oferecer a base requerida para a recolocação dos dentes.

Uma das técnicas nesse tratamento de reposição é a do transplante de osso direto de outras partes do corpo, como da bacia do próprio paciente, para que haja reconstrução da estrutura reduzida. Os resultados são considerados excelentes, porém pode haver resistência do paciente em razão do trauma da cirurgia.

O cirurgião do HC diz que eventuais falhas podem ocorrer, mas que são, em regra, mais ligadas à técnica de implante, ou seja, às habilidades do profissional que opera, do que à rejeição do organismo receptor do osso.

“A parte do osso que é colocada no paciente é somente a estrutura mineral do órgão. Não há partículas orgânicas no processo”, afirma.

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