FAO: mudanças
climáticas desafiam políticas de combate à fome
Diretor-geral
da FAO, José Graziano da Silva, disse que alterações já causam impacto na
agricultura e que a revisão das metas para 2025 deverá considerá-las
(Por
Leandra Felipe, da Agência Brasil/EBC - 08/05/2014)
Para
Graziano, mudanças climáticas afetarão a agricultura. "Impactos serão
maiores do que pensávamos"
A
partir de agora, as políticas de segurança alimentar na América do Sul e no
Caribe terão de considerar os efeitos na agricultura de prolongados períodos de
escassez de chuvas e do aumento da temperatura. Nesse cenário de mudanças
climáticas e de revisão das ações para a erradicação da fome na região até
2025, representantes de 33 países estão reunidos, até amanhã (9), em Santiago
(Chile), para a 33ª Conferência Regional das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO, a sigla em inglês).
Antes
da abertura, na terça-feira (7), o diretor-geral da FAO, José Graziano da
Silva, conversou com jornalistas e disse que as alterações climáticas já causam
impacto na agricultura e que a revisão das metas para 2025 deverá considerar
tais mudanças.
“Não
é um tema de futuro, senão do presente, e os impactos são muito maiores do que
pensávamos”, acrescentou. Para ele, as mudanças climáticas afetarão a
agricultura economicamente e isso trará incertezas.
“Por
um tempo, tivemos a ideia de que o mundo havia se transformado em um supermercado
e que podíamos comprar tudo quanto queríamos. Nós havíamos alcançado a situação
do pleno abastecimento, mas agora a mudança climática reintroduz o tema da
incerteza e não sabemos o que vai acontecer”, ponderou.
Graziano
destacou que essa incerteza afetará todo o comércio, determinará a volatilidade
dos preços internacionais e poderá obrigar os países a assegurar o
abastecimento interno com medidas protecionistas que já haviam sido
abandonadas. “Nesse contexto, não podemos perder de vista o horizonte de
erradicar a fome na região.”
Depois
de conversar com os jornalistas, Graziano participou da sessão inaugural, com a
presença de representantes dos 32 países. O Brasil enviou o ministro do
Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto.
No
discurso de abertura, o diretor-geral da FAO concentrou-se nos êxitos da
América Latina e do Caribe – região que se converteu em exemplo mundial na luta
contra a fome e que conseguiu reduzir a proporção de subalimentação de 15% para
8%. “Desde 1990, o número total de pessoas desnutridas caiu de 66 milhões para
47 milhões”, comentou.
Graziano
fez um chamado para que os países continuem a priorizar políticas para cumprir
a meta de uma América Latina e um Caribe sem fome até 2025. A meta foi
estabelecida em 2006 pelos chefes de Estado e de governo da região, como
iniciativa comum a ser alcançada.
O
primeiro objetivo – reduzir a proporção de desnutrição pela metade até 2015 –
foi alcançado por 16 países, mas o desafio agora é erradicar a fome nos
próximos 11 anos.
Durante
a sessão, a presidenta do Chile, Michelle Bachelet, recebeu um reconhecimento
da FAO pelo cumprimento da meta de reduzir a menos da metade o número de
pessoas com fome no país. “Reduzimos a prevalência de desnutrição de 9%, nos
anos 90, para menos de 5%, entre 2011 e 2013, estamos orgulhosos desse avanço e
conscientes de que devemos nos aplicar para erradicar esse índice”, disse.
Entre
os países que conseguiram reduzir a desnutrição em 50%, sete chegaram a índices
inferiores a 5%. Desse modo, a FAO considera que a Argentina, Barbados, a
Dominica, o Chile, Cuba, o México e a Venezuela erradicaram a fome. O Brasil, a
Guiana, Honduras, a Nicarágua, o Panamá, Peru e San Vicente e Granadinas
reduziram o índice de subalimentação à metade.
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