Sem consenso
científico sobre motivo, dengue migra e ganha novas fronteiras em São Paulo
(24/04/2014
- Por Sarah Fernandes, Arquivo RBA)
São
Paulo – Pesquisadores ainda não chegaram a um consenso sobre o aumento do
número de casos de dengue na capital paulista neste ano, nem sobre a migração
dos focos da doença de municípios que tradicionalmente registravam muitos casos
para outros. As hipóteses vão
desde mosquitos melhor adaptados para a
transmissão do vírus até transporte
de ovos nas lonas de caminhões que interligam a capital com regiões epidêmicas.
Com
base nas notificações computadas pela Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo
houve uma redução de 82,8% do número de casos de dengue no estado no primeiro
trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2013. Em números
absolutos, os municípios paulistas registraram 18.445 casos de janeiro a março
de 2014, contra 107.739 nos três primeiros meses de 2013.
Ao
todo, 10 dos 645 municípios do estado concentraram 68,6% das ocorrências:
Americana (2.711), Campinas (2.520), Jaú (1.387), Taubaté (862), Votuporanga
(775), Santa Bárbara D’Oeste (744), Boa Esperança do Sul (725), Casa Branca
(642), Osasco (477) e São Paulo (1.802), novata na lista, segundo o Centro de
Vigilância Epidemiológica de São Paulo. Na última contagem da prefeitura,
divulgada no último dia 10, o número de ocorrências é um pouco menor, de 1.745.
“Não
temos um quadro mais alarmante neste ano, mas diferente. São Paulo nunca teve
tantos casos e isso sempre foi um grande mistério, porque sempre tivemos todas
as condições: mosquito, grande número de pessoas e calor”,
diz o pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São
Paulo (USP), José Eduardo Levi. “O sorotipo
predominante neste ano é o 4,
que já tivemos no ano passado, no interior e no litoral. Não conseguimos
precisar por que agora ele se adaptou melhor à capital.”
A
possibilidade, ainda sem
evidência científica, é de que os
mosquitos da cidade tenham se tornado transmissores mais eficientes da doença.
“O mosquito pode estar mais apto a incubar o vírus e replicá-lo em seu corpo,
nas glândulas salivares. Todos os mosquitos
que transmitem dengue são Aedes
Aegypti, da mesma forma que somos todos Homo Sapiens, e veja só nossa
diversidade”, diz o pesquisador. “Se houvesse mais investimentos em pesquisas
teríamos mais respostas para dar. Não conseguimos monitorar da forma mais
eficiente, nem colher material nos momentos necessários.”
Dengue é uma doença tropical infecciosa causada por
um vírus de quatro tipos
imunológicos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e
DEN-4. Quando uma pessoa contrai um determinado sorotipo de dengue, ela se
torna imune ao vírus, reduzindo a população vulnerável. A doença é transmitida
principalmente pelo mosquito Aedes
Aegypti, que se reproduz em água limpa e parada, acumulada, por exemplo, em
pratos de planta, garrafas vazias, pneus velhos e caixas d'água descobertas.
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