quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

DEPOIMENTO: UM MÉDICO SEM FRONTEIRAS- ROBERTO KIKAWA

DEPOIMENTO: UM MÉDICO SEM FRONTEIRAS
(Por Comunidade Escola. Obs: O texto passou por algumas alterações)

Querido(a) Leitor(a) do Blog Gera Saúde,
Gostaria de compartilhar com você a história de um médico que tem feito a diferença no cenário brasileiro da saúde, em prol da vida. Espero que com a sua profissão, você também possa realizar grandes feitos, neste finalzinho de ano, e no Ano que se aproxima!!! 


Os gritos do pai no hospital nunca deixaram de atormentar Roberto Kikawa...

"Lembro como se fosse hoje... Era um salão enorme com camas esparramadas e doentes terminais esperando para morrer. Meu pai só repetia: 'Me tira daqui, me tira daqui'." O ambiente cheirava a fezes e a urina. Pouquíssimos enfermeiros se revezavam nos cuidados com os pacientes. A preocupação em amenizar a dor da morte breve simplesmente inexistia.

Com a ajuda de um casal de médicos missionários, Kikawa conseguiu retirar o pai, vítima de um câncer na laringe, desse depósito de moribundos. E lhe dar um pouco de dignidade no momento da partida. Na conversa de despedida, o jovem ouviu o último pedido. "Ele me disse: 'Não sei se vou te ver de novo. Quero que se torne um médico tão humano quanto esses que nos ajudaram'."

Assim, Kikawa, hoje com 41 anos, casado e pai de dois filhos, foi parar na medicina e na dedicação às famílias de pacientes terminais. Embora tenha atendido ao chamado do pai, ele percebeu que os cuidados com esses doentes era só uma parte do problema. Voltou então seu trabalho para a precaução. Em 2008, Kikawa criou um centro móvel com equipamentos de alta tecnologia, capaz de atender 3 mil pacientes (e realizar 9 mil procedimentos) por mês em qualquer região do Brasil. O veículo, avaliado em R$ 3,2 milhões, oferece dez especialidades relativamente complexas, como mamografia e endoscopia, além de ter capacidade para receber pequenas cirurgias. "O grande gargalo da saúde está nas periferias", afirma Kikawa.


"Com a carreta, podemos não só tratar os pacientes, mas também educá-los para a prevenção e preparar as equipes médicas locais." O projeto de Kikawa, batizado de Centro de Integração de Educação e Saúde (Cies), leva à população carente mais do que a cura. Resgata a noção de que todo ser humano tem direito à saúde de qualidade. O paciente não paga nada pelos serviços.

Para ser atendido, precisa apenas estar na lista de espera do Sistema Único de Saúde (SUS). O centro móvel complementa o trabalho do governo ao tratar os doentes que agonizam nas filas. "Atendemos os arredores dos grandes centros para desinchar os hospitais de alta complexidade", diz Kikawa. "A ideia é que eles fiquem livres para tratar os casos mais graves." A carreta funciona principalmente em pequenas e médias cidades. Nelas, nem sempre é vantagem criar postos médicos com equipamentos caríssimos. A demanda para determinados exames não é tão grande. O risco de as máquinas ficarem paradas é enorme.

No Brasil, 23% da população tem acesso ao sistema privado de saúde. O restante depende do SUS. A lista de espera é longa. Não raro, o paciente morre antes de ser atendido. Na carreta da saúde, os doentes saem da consulta com o diagnóstico em mãos. Vão para casa com os resultados dos exames clínicos. Tudo no mesmo dia. "É como uma linha de montagem da Toyota", afirma Kikawa. "Essa agilidade permite o atendimento de mais gente num curto espaço de tempo." Além dos ganhos com escala, é uma forma de garantir a continuidade do tratamento. Muitos pacientes não retornam para pegar os exames por causa dos gastos com o transporte.  

Mais do que equipamentos de alta tecnologia, a grande inovação do Cies é o modelo de gestão. Com exceção de Kikawa (que vive de seu salário de professor do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo), os médicos são contratados e recebem R$ 36 por atendimento. É o valor médio pago pelo SUS. O dinheiro chega de duas formas: do setor privado, quando uma empresa financia uma ação (em troca de associar sua marca a iniciativas de responsabilidade social). Ou do setor público, pelas prefeituras ou pelo próprio Estado. Em 2011, o Cies recebeu R$ 1,3 milhão em investimentos. A equipe de quase 90 profissionais (entre diretos e indiretos) conta com médicos de hospitais conceituados, como o Sírio-Libanês e o São Luiz, de São Paulo.


Em três anos, a carreta da saúde atendeu 57 mil pacientes em 28 cidades, num total de 136 mil procedimentos. Pelo trabalho que envolve a sociedade civil, o governo e a iniciativa privada, recebeu o Prêmio Finep de Inovação em 2009. Além da carreta, o Cies tem uma espécie de contêiner, que viaja de barco para atender a população ribeirinha da Amazônia. E uma van da saúde para escalar as regiões mais íngremes. A necessidade de um veículo menor veio de uma dificuldade prática. Numa ação no Morro do Alemão, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, o caminhão ficou entalado na rua e não conseguiu subir.

De todos os atendimentos realizados nesses centros médicos móveis, o de resultado mais notório é a cirurgia de catarata. "Os pacientes chegam com a visão comprometida e saem enxergando", diz Kikawa. A expectativa do Cies é chegar a 50 unidades entre carretas e vans até 2015, com a ajuda de prefeituras e governos estaduais. Nos tempos de escola, Kikawa gostava mesmo era dos números. Tirava de letra as equações mais cabeludas. Ganhava o dinheiro do almoço em apostas por terminar primeiro os problemas de geometria. Aluno empenhado, ganhou uma bolsa para frequentar o curso preparatório para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). "Meu forte sempre foi exatas", diz.

Quando optou pela medicina, Kikawa tinha o sonho de trabalhar na organização Médico Sem Fronteiras. Queria ajudar a população da África, carente de recursos, mas principalmente de humanidade. Mas seu primeiro contato com uma favela em São Paulo o fez mudar de objetivo. "Percebi que não era preciso ir à África. Poderia encontrar a África aqui mesmo, no Brasil." Daí surgiu a idéia da carreta.

Quando fala, Kikawa mantém sempre o mesmo tom de voz, não importa a história que conte. Discursa baixo e sem pressa. Quando pergunto se acha que o pai, de onde quer que esteja, está satisfeito com seu trabalho, me olha com um sorriso tímido e diz: "Esta é uma resposta que gostaria muito de saber". A julgar por sua história, não resta dúvida.


Não perca a oportunidade de fazer o bem a si e ao seu próximo!
Assim conseguiremos resgatar, tratar e acolher 
muitas vidas, rumo a um mundo melhor!!!

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