sábado, 10 de dezembro de 2011

ARTIGO: TRANSTORNO ALIMENTAR UNISSEX

TRANSTORNO ALIMENTAR UNISSEX
UM PROBLEMA UNISSEX
(Por Mariana Hansen: http://www.fiocruz.br/jovem/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from%5Finfo%5Findex=9&infoid=61&sid=1)



Associados à figura feminina obcecada pelo seu peso, os transtornos alimentares (TA) não atingem apenas mulheres. Atualmente, é registrado um caso masculino para cada grupo de 10 femininos.

O primeiro relato de transtorno alimentar em um paciente do sexo masculino é de 1689, feito por Richard Morton. O caso de anorexia nervosa em um jovem de 16 anos foi registrado como “nervous consumption”. Os homens tendem a não aparecer tanto nas pesquisas sobre distúrbios alimentares devido ao pequeno número de casos registrados, ao preconceito ou mesmo à falsa crença de que são limitados ao gênero feminino.

Os transtornos alimentares em homens ainda não foram muito explorados em pesquisas cientificas. Porém, o trabalho desenvolvido em entidades que atendem esses casos apontam algumas conclusões sobre o problema, como o Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com o psicólogo Raphael Cangelli Filho, coordenador do grupo de Homens com Transtornos Alimentares do Ambulim, existem algumas diferenças entre os distúrbios apresentados por homens e mulheres. Ele conta que os pacientes do sexo masculino colaboram mais com o tratamento.

"Chegam em situações mais precárias, com indicação de internação e não de tratamento ambulatorial. Isso se deve à demora no diagnóstico do transtorno, já que eles costumam buscar outros especialistas para tratar sintomas físicos decorrentes da doença até descobrirem o que realmente têm".

Em ambos os sexos, os distúrbios alimentares começam, na maioria dos casos, na adolescência. Segundo Cangelli, porém, isto não significa que adultos não desenvolvam a doença. Os pacientes têm uma preocupação exagerada com o corpo e com a boa forma, atribuindo o sucesso pessoal à beleza física. A imagem do próprio corpo fica distorcida. "Eles se acham gordos, mesmo sendo magros", explica o médico.

Os sintomas físicos mais aparentes dos transtornos alimentares são: queda de cabelo, unhas quebradiças ou mesmo a queda das mesmas, fraqueza, desmaios e dificuldade de concentração. Com o tempo, o quadro clínico se agrava e o jovem apresenta anemia, alterações endócrinas, osteoporose, alterações hidroeletrolíticas, que podem provocar arritmia cardíaca e morte súbita.

Múltiplos fatores

Cangelli esclarece que os distúrbios alimentares são multicausais: “Há fatores familiares, sociais e pessoais. E não existe um que seja mais importante. Ele exemplifica situações em que, por exemplo, a família que estimula exageradamente a preocupação com o corpo ou que é conflituosa, a influência da mídia e os padrões de beleza impostos pela sociedade, as brincadeiras e apelidos, ou mesmo as dietas prolongadas.

Embora haja estudos como o de Christopher Russell e Pamela Keel (Homosexuality as a Specific Risk Factor for Eating Disorders in Men, desenvolvido pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard, em 2002) que relacionam os transtornos alimentares em homens à homossexualidade, a experiência do Ambulim não confirma esses dados. Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e  diretora-executiva da ONG Seu abrigo, Ana Helena Soares é enfática ao dizer que não há nenhuma relação.

“Os transtornos alimentares podem afetar qualquer pessoa independente de cor, raça, nível socioeconômico, nacionalidade ou orientação sexual”. Ela acredita que a associação dos transtornos em homens com a homossexualidade é uma visão errônea e estigmatizante, que contribui com a exclusão de milhões de meninos dos tratamentos de recuperação e apoio. “Observamos em nossa linha de ajuda que esta visão dos distúrbios como doenças femininas faz com que os jovens do sexo masculino resistam a procurar ajuda e conseqüentemente serem diagnosticados e tratados”, alerta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Marcadores