Pacientes
com transtornos mentais tomam remédios em excesso
Por: Luany Rosa, Rede
Brasil Atual - 24/06/2012.
São Paulo – Os avanços na
área psiquiátrica brasileira estão colocando um fim nos sistemas manicomiais e
a cada dia reintegram mais pessoas com transtornos mentais a sociedade. Porém,
os pacientes continuam tomando muitos medicamentos, principalmente os das
classes menos favorecidas. As informações são da pesquisa do Departamento de
Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FMC) da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp) em conjunto com com os Centros de Atenção Psicossocial
(Caps) do Estado de São Paulo.
A professora Rosana Teresa
Onocko-Campos coordenou a pesquisa realizada nas cidades de Campinas, interior
de São Paulo, e identificou que a
maioria dos pacientes toma muitos remédios, tanto na rede de atenção primária
como nos Centros de Atenção Psicossocial. Segundo a autora, o tratamento em
saúde mental está reduzido ao uso de psicotrópicos, medicamentos que agem no
sistema nervoso provocando alterações de comportamento e humor.
A pesquisa aponta que o uso crescente destes medicamentos está
associada a fatores econômicos. Os
pacientes que mais tomam remédios são os mais pobres e com baixa escolaridade.
De acordo com dados do estudo, em Campinas no primeiro semestre de 2010, mais
de 65.778 pessoas receberam prescrições de psicofármacos - antidepressivos,
tranquilizantes e estabilizadores de humor -, o número equivale a 6,5% dos
habitantes da cidade.
Além do número crescente de prescrições de antidepressivos, a
auto-medicação é outro fenômeno que vem atingindo a população. Segundo a
pesquisadora Rosana Onocko-Campos, as
pessoas utilizam medicamentos para tentar resolver problemas que fazem parte da
vida e não para combater doenças.
Outro problema apresentado
pela pesquisa é a centralização da prescrição de medicamentos. Como apenas os
médicos têm conhecimento sobre os componentes presentes nas medicações e suas
contraindicações, quando os pacientes precisam tirar suas dúvidas os demais
trabalhadores da saúde não sabem informar, o que demostra uma contradição no
sistema de saúde brasileiro.
A pesquisadora da Unicamp
ressalta em seu estudo que os pacientes
devem se responsabilizar mais por seu tratamento. De acordo com ela, apenas
os usuários de medicamentos podem saber se estão melhorando ou não, uma vez que
a melhora nesse caso se resume à experiência de estar menos depressivo ou
psicótico.
A professora Rosana
Onacko-Campos coordenou também uma pesquisa realizada em 25 dos 26 Caps III paulistas.
As unidades estudadas são referência em
saúde mental e visam a substituir os hospitais psiquiátricos com tratamentos
diferenciados que evitam a internação psiquiátrica integral e reintegram o
paciente à comunidade. Cada Caps
possui em média 400 pacientes cadastrados, sendo que a frequência deles depende
do tratamento planejado pela equipe
multiprofissional.
Segundo Rosana
Onacko-Campos, o objetivo dessa pesquisa foi mostrar que a reforma psiquiátrica no Brasil avançou o suficiente para acabar com
receios sobre a importância dos Caps. Os estudos mostraram que a
reintegração dos pacientes à comunidade com a ajuda de familiares trouxe
avanços nos quadros de transtornos mentais e que os Caps são mais viáveis do que os antigos manicômios.
Após realizar as pesquisas,
a professora Rosana Onocko-Campos e seus colegas decidiram elaborar um guia
para ajudar os pacientes a auto-gerenciar as suas medicações. Esse guia é
baseado em um outro já existente na Universidade de Montreal. Segundo a
pesquisadora da Unicamp, o guia foi adaptado à realidade brasileira e deve ser
estar disponível na internet até o final deste ano.
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