Pesquisa da Fiocruz aponta alterações neurológicas em gestações com Zika
(Por Akemi Nitahara - Edição: Augusto Queiroz. Agência Brasil – 15/12/2016)
Além
da microcefalia, que tem relação comprovada com o Zika, um estudo
recente da Fiocruz constatou que 39,2% das grávidas infectadas com o
vírus tiveram bebês com alterações neurológicas e 7,2% das
gestações não chegaram ao fim, totalizando 46,4% de desfechos
adversos.
O
artigo com o resultado da pesquisa foi publicado esta semana no The
New England Journal of Medicine. O estudo foi feito com 345 gestantes
que apresentaram manchas vermelhas, sendo que 182 delas (53%) tiveram
positivo para Zika. Desse total, 125 fizeram parte do estudo, das
quais116 tiveram os filhos nascidos vivos, sendo que uma gravidez foi
de gêmeos. Portanto participaram do estudo 117 bebês nascidos entre
janeiro e julho de 2016.
A
chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas
do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz),
Patrícia Brasil, uma das autoras do estudo, explica que dos 117
bebês expostos ao Zika, 49 (42%) tiveram algum tipo de alteração
comprovada em exame clínico ou radiológico de imagem do cérebro.
“Isso
significa que a microcefalia seria apenas uma ponta do iceberg.
Nenhuma alteração é mais grave que a microcefalia, mas a gravidade
[nesse caso] é que a gente não sabe como essas crianças com essas
alterações vão evoluir”, disse.
O
estudo começou em setembro de 2015 e em março deste ano foi
publicado um trabalho mostrando as alterações que apareceram nos
fetos. “Agora nós publicamos os resultados depois que o bebê
nasceu. Porque você via no ultrassom e não sabia se era aquilo
mesmo ou não. Agora, quando os bebês nasceram, a gente pôde
reavaliar os achados e, para nossa surpresa, a proporção de bebês
acometidos foi maior do que no ultrassom”, disse Patrícia.
Entre
as 125 grávidas que fizeram parte da pesquisa foram registradas nove
mortes fetais, sendo cinco abortos espontâneos no primeiro
trimestre, dois no segundo e dois natimortos. Foi constatada
microcefalia em quatro bebês (3,4%), sendo que dois tinham o tamanho
normal e dois eram menores do que o esperado para a idade
gestacional.
Entre
o grupo sem Zika acompanhado pela pesquisa, composto por 61
gestantes, sete (11,5%) apresentaram gravidez de risco, enquanto no
grupo com Zika o percentual foi de 46.4%, ou 58 casos. Entre as não
infectadas, foram registrados quatro casos de mortesfetais, sendo que
em dois deles a gestante teve chikungunya. Em apenas três (5%) dos
bebês nascidos vivos nesse grupo foi registrada alguma alteração,
sendo todos de baixo peso e uma das mães teve chikungunya.
O
estudo mostrou também a gestação em que a mãe teve Zika aumenta o
risco de alteração neurológica no bebê. Entre as que tiveram a
doença no primeiro trimestre, 55% registraram anomalias, enquanto
entre as que tiveram nos últimos três meses a proporção cai para
29%. Os cinco casos de aborto espontâneo também ocorreram nas
gestantes que tiveram Zika no primeiro trimestre da gravidez, bem
como nos dois casos de microcefalia desproporcional.
Entre
as alterações mais verificadas estão calcificações cerebrais,
atrofia cerebral, aumento ventricular e hipoplasia (desenvolvimento
precário de um órgão ou tecido] de estruturas cerebrais, mas
também houve casos de hemorragias cerebrais. Um total de 31 bebês
apresentou resultados excessivamente anormais em exames neurológicos.
Também foram observados alterações em exames oftalmológicos e de
audição.
“São
alterações neurológicas, a criança pode ter alteração de fundo
de olho, pode ter uma crise convulsiva... Às vezes é uma coisa
muito sutil que só o neurologista percebe, às vezes a mãe percebe
que tem alguma cosia estranha e não sabe exatamente o que é. Muitas
dessas alterações podem ser corrigidas se a mãe for orientada a
estimular a criança”, explicou Patrícia Brasil.
A
pesquisadora recomenda um acompanhamento cuidadoso do desenvolvimento
neurológico e com estímulo precoce dos bebês, para que o dano seja
o menor possível. “Existe uma luz no final do túnel, que é a
estimulação dos bebês. Quanto mais cedo fizer, melhor. Às vezes o
bebê nasce aparentemente normal e quando faz um exame neurológico
ou de imagem pode ter alguma alteração, como mostrou o nosso
trabalho”, disse.
Os
bebês que participam do estudo vão ser acompanhados até pelo menos
os dois anos de idade.
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