Estudo
liderado por Nicolelis confirma eficácia da estimulação elétrica da medula
espinhal
(Redação RBA, publicado 30/10/2014 - Miguel
Nicolelis/Divulgação Facebook)
As
pesquisas sobre Parkinson do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis estão entre
as mais avançadas do mundo. Em testes com saguis, equipe liderada pelo
neurocientista brasileiro abre a possibilidade para tratamentos mais baratos e
menos invasivos.
São
Paulo – A revista americana Neuron publicou (30/10/2014) artigo a partir dos
estudos liderados pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis e o chileno
Romulo Fuentes, que demonstram a eficácia
de uma nova neuroprótese no tratamento da doença de Parkinson. A nova
terapia, chamada estimulação epidural da
medula espinhal (EEMS), é menos
invasiva e pode, no futuro, ser realizada sem a necessidade de internação
hospitalar.
A
pesquisa foi realizada no Centro de Primatas do Instituto Internacional de
Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), localizado em Macaíba
(RN), que testou a técnica em saguis. De acordo com os cientistas, os resultados
abrem a possibilidade de um tratamento alternativo ao método tradicional – a
estimulação cerebral profunda (DBS) –, que envolve procedimento cirúrgico
complexo, demorado e que não é indicado para todos os pacientes justamente
pelos riscos associados.
A
EEMS foi inicialmente usada no tratamento de dor crônica, que não responde a
medicamentos. "Como alguns desses pacientes também desenvolveram a doença
de Parkinson, o uso contínuo da técnica também se mostrou eficaz no tratamento
de sintomas motores produzidos por essa doença neurodegenerativa,
principalmente aqueles relacionados a marcha e a postura”, disse Fuentes. Apesar
do sucesso inicial, nenhum estudo em animais ou pacientes havia até hoje investigado
os possíveis mecanismos por meio dos quais a EEMM produz seu efeito terapêutico
em pacientes parkinsonianos.
No
estudo publicado, foi usada uma toxina química, chamada 6-OHDA, para induzir a
degeneração de neurônios produtores de dopamina em cinco saguis. Essa lesão
química reproduziu, em todos os animais, as mesmas observadas no cérebro de
pacientes com Parkinson. Como consequência, todos os saguis apresentaram
sintomas motores como “congelamento de movimentos”, distúrbios de locomoção,
tremores, e falta de coordenação motora.
Como
o estudo foi feito?
Para
estudar os mecanismos neurofisiológicos envolvidos na doença de Parkinson induzida
nesses animais, foram implantadas matrizes de microeletrodos em múltiplas
estruturas cerebrais que definem o sistema motor desses primatas. A seguir,
eletrodos para estimulação foram implantados nos primeiros segmentos toráxicos
da medula espinhal dos mesmos animais. Imediatamente após o início da
estimulação elétrica da medula espinhal, todos animais apresentaram uma melhora
significativa dos seus déficits motores. Os efeitos dessa terapia foram
avaliados de duas formas: a primeira, realizada de forma manual, foi executada
por observadores que não sabiam se os animais estavam recebendo ou não a
estimulação medular.
Os
cientistas usaram uma escala para avaliar os sinais clínicos motores expressos
por cada animal. Essa escala incluiu a avaliação do grau de “congelamento
motor”, grau da redução de movimentos, coordenação motora, marcha, postura e
capacidade de realizar movimentos motores finos. A segunda avaliação foi feita
de forma automática, através da análise computacional de registros de vídeo que
gravaram a movimentação dos animais. Essa análise automática revelou que a EEMS
praticamente dobrou a produção de movimentos nos saguis parkinsonianos. Segundo
Fuentes, o nível de melhora variou de animal para animal, mas todos eles
demonstraram um alívio significativo do deficit motor. Em um desses animais,
que não era capaz de realizar nenhum movimento, o uso da EEMS fez com que o
macaco voltasse a se movimentar normalmente. Enquanto a EEMS perdurou, esse
animal foi capaz de usar as mãos para apanhar pedaços de alimentos e deglutir
normalmente.
Conforme
Nicolelis, esses dois métodos de avaliação revelaram uma melhora
signficativa na capacidade de locomoção que se assemelha aos resultados obtidos em nossos estudos com roedores e numa série de estudos em que a EEMS foi testada em pacientes parkinsonianos. “Os saguis tratados com a EEMS demonstraram melhora importante em sintomas motores que normalmente são difíceis de ser revertidos com o método da estimulação cerebral profunda, como por exemplo os distúrbios de postura, marcha e velocidade de movimento”, explicou o brasileiro.
signficativa na capacidade de locomoção que se assemelha aos resultados obtidos em nossos estudos com roedores e numa série de estudos em que a EEMS foi testada em pacientes parkinsonianos. “Os saguis tratados com a EEMS demonstraram melhora importante em sintomas motores que normalmente são difíceis de ser revertidos com o método da estimulação cerebral profunda, como por exemplo os distúrbios de postura, marcha e velocidade de movimento”, explicou o brasileiro.
Ao
analisar os resultados obtidos com os registros neurofisiológicos, os
neurocientistas do IINNELS observaram que os sinais clínicos da doença de Parkinson eram acompanhados por padrões oscilatórios patológicos da atividade elétrica neural em múltiplas estruturas do sistema motor. Essas oscilações neurais patológicas foram corrigidas com o uso da EEMS, fazendo com que o sistema motor voltasse a apresentar padrões normais de atividade neural. Em uma outra série de experimentos, observou-se que o uso da droga L-DOPA, normalmente usada no tratamento inicial da doença de Parkinson, produziu o mesmo efeito de eliminar as oscilações patológicas neurais do sistema motor.
neurocientistas do IINNELS observaram que os sinais clínicos da doença de Parkinson eram acompanhados por padrões oscilatórios patológicos da atividade elétrica neural em múltiplas estruturas do sistema motor. Essas oscilações neurais patológicas foram corrigidas com o uso da EEMS, fazendo com que o sistema motor voltasse a apresentar padrões normais de atividade neural. Em uma outra série de experimentos, observou-se que o uso da droga L-DOPA, normalmente usada no tratamento inicial da doença de Parkinson, produziu o mesmo efeito de eliminar as oscilações patológicas neurais do sistema motor.
“Foi
realmente surpreendente observar que a EEMS produziu efeitos muito similares aqueles
induzidos pelo uso da L-DOPA”, disse Fuentes. Para Nicolelis, “esses
experimentos foram fundamentais para estabelecer quais são os efeitos
fisiológicos da EEMS num sistema nervoso que é muito mais semelhante ao cérebro
humano”. “Esses estudos em primatas vão nos permitir selecionar parâmetros de
estimulação que podem gerar os melhores resultados possíveis em pacientes
parkinsonianos”, acrescentou Fuentes.
Segundo
os neurocientistas, o fato de a EEMS ser realizada por meio de um processo muito
menos invasivo e mais barato do que outras alternativas cirúrgicas, bem como o
sucesso do uso desse método em macacos, vai contribuir para a realização de
mais testes clínicos num futuro próximo, já que a EEMS não requer a invasão do
tecido nervoso, uma vez que os eletrodos de estimulação são implantados sobre a
membrana que recobre a medula espinhal. Nicolelis também enfatizou que, como a
EEMS requer um procedimento cirúrgico muito simples, os pacientes, no futuro,
poderão se submeter ao procedimento pela manhã e deixar o ambulatório no começo
da tarde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário