segunda-feira, 28 de março de 2011

NOTÍCIA: ÓVULOS RENOVADOS (INFERTILIDADE)

Óvulos renovados
Agência Fapesp. 28-03-2011
Fábio de Castro

Um grupo de pesquisadores brasileiros confirmou a eficiência de uma nova
ferramenta biotecnológica para recuperar o desenvolvimento de óvulos de
mulheres inférteis. O estudo, feito em modelos bovinos, foi capa edição de
fevereiro da revista
O trabalho foi coordenado por Flávio Meirelles, professor da Faculdade de
Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP),
em Pirassununga, e teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa –
Regular.
Além de Meirelles e do primeiro autor do artigo, Marcos Chiaratti, pós-doutorando
da FZEA-USP, o estudo também teve colaboração de pesquisadores da Faculdade
de Ciências Agrárias e Veterinárias de Universidade Estadual Paulista (Unesp) em
Jaboticabal (SP), da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), e da
Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Montréal (Canadá).
De acordo com Chiaratti, o trabalho ressalta a enorme capacidade da técnica para
restaurar o desenvolvimento embrionário de óvulos inférteis sem consequências
para o recém-nascido.
“No estudo, utilizamos o modelo bovino, mas a grande similaridade do período de
desenvolvimento embrionário e fetal indica que a técnica poderá ser importante
também no contexto humano. O estudo abre as portas para estudos pré-clínicos
visando à futura aplicação dessa ferramenta em humanos”, disse à Agência
FAPESP.
Segundo Chiaritti, a técnica tem grande implicação para mulheres que sofrem de
infertilidade, principalmente devido ao envelhecimento. “De acordo com a
Sociedade Norte-Americana de Medicina Reprodutiva, 30% das mulheres entre 35
e 39 anos de idade são inférteis e esta porcentagem cresce para 64% entre as
mulheres com 40 a 44 anos”, disse.
A técnica consiste na transferência de pequenas porções de citoplasma
provenientes de óvulos de mulheres mais jovens para óvulos de mulheres
inférteis. “Havia a hipótese de que essa transferência de citoplasma pudesse suprir
possíveis deficiências dos óvulos dessas mulheres com problemas de fertilidade”,
apontou.
A transferência de citoplasma foi utilizada no final da década de 1990 em clínicas
de reprodução humana assistida dos Estados Unidos e também em alguns outros
países, resultando no nascimento de pelo menos 16 crianças. Entretanto, embora
tenha se mostrado muito promissora, foi proibida pela pela Food and Drug
Administration (FDA), agência do governo dos Estados Unidos.
“A ferramenta foi utilizada em humanos sem a realização de ensaios pré-clínicos.
Embora fosse um recurso promissor, não havia informação suficiente sobre ela,
que acabou sendo proibida. Não se tinha garantias de que o uso da técnica
pudesse perpetuar alguma patologia hereditária de uma mãe que tem um quadro
de infertilidade”, disse.
Na época, segundo Chiaritti, não se sabia porque a técnica funcionava. Uma das
hipóteses levantadas era a de que os óvulos recuperavam o desenvolvimento
Reproductive Biomedicine.
embrionário graças à introdução de mitocôndrias novas contidas no citoplasma
implantado. “Conjecturou-se que a infertilidade fosse causada por baixa atividade
das mitocôndrias, mas nada disso foi provado”, disse.
Gravidez tardia e segura
Nos últimos anos, vários trabalhos têm investigado a técnica em modelos animais,
confirmando os resultados prévios descritos em humanos. “Nosso experimento
gerou animais saudáveis em 100% dos casos. Como foi feito em bovinos, é um
excelente indicativo de que a técnica é segura também para humanos”, disse
Chiaritti.
No experimento, os óvulos bovinos foram submetidos a aplicação de brometo de
etídio. A droga tem efeito específico nas mitocôndrias e o defeito causado nos
óvulos simulava o problema das mulheres que sofrem com a infertilidade.
“Depois disso, utilizamos a técnica de transferência de citoplasma e tivemos uma
recuperação de 100% do rendimento dos óvulos, em termos de desenvolvimento
embrionário”, afirmou.
Na época em que a técnica foi aplicada em humanos, duas das crianças nasceram
com defeitos cromossômicos. Isso também foi um dos argumentos para que a FDA
proibisse o procedimento.
“Hoje, sabemos que esses defeitos não foram causados pelo uso da técnica, mas
porque há uma incidência maior desses defeitos cromossômicos na gravidez de
mulheres mais velhas. No caso das vacas, nenhum dos animais nascidos
apresentou qualquer anomalia”, disse.
De acordo com Meirelles, após a publicação, o artigo mereceu um comentário
própria
especialista em reprodução humana assistida do centro Genesis Fertility and
Reproductive Medicine, nos Estados Unidos.
“O artigo foi considerado muito importante, porque a técnica, que pode trazer
grandes benefícios para a medicina reprodutiva, havia sido deixada de lado há
muitos anos. A pesquisa abre a perspectiva para que finalmente possam ser feitos
estudos pré-clínicos, possibilitando a aplicação no futuro”, afirmou Meirelles.
Segundo ele, o desenvolvimento de técnicas que ajudem a recuperar o
desenvolvimento embrionário se torna cada vez mais importante à medida que as
mulheres estão engravidando cada vez mais tarde.
“Sabemos que a fertilidade do ser humano cai gradualmente com o tempo. Essa
técnica, especificamente, consegue trazer benefícios para indivíduos que não
respondem nem mesmo à fertilização
representa consiste em mostrar, mediante o modelo animal, que a técnica é
segura”, afirmou.
O artigo
ethidium bromide
Meirelles e outros, pode ser lido por assinantes da
 naReproductive Biomedicine, assinado por Henry Malter, renomadoin vitro. O grande avanço que esse trabalhoOoplast-mediated developmental rescue of bovine oocytes exposed to(doi:10.1016/j.rbmo.2010.10.011), de Marcos Chiaratti, FlávioReproductive Biomedicine em
www.rbmojournal.com/article/S1472-6483(10)00706-6
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