Bebidas
alcoólicas clandestinas podem conter substâncias tóxicas, aponta estudo da
Unifesp
Agência Brasil, 30/10/2012.
Por Fernanda Cruz, Repórter.
Edição: Fábio Massalli.
São Paulo – Uma pesquisa
feita com amostras de bebidas – como cachaças, uísques falsificados e licores
artesanais – produzidas de forma clandestina, de sete municípios de São Paulo e
Minas Gerais, apontou a presença de substâncias tóxicas como cobre, metanol e
carbamato de etila. O estudo foi feito pelo Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), com apoio parcial do Icap (International Center for Alcohol
Policies). Além do Brasil, participaram da pesquisa países como Rússia, China,
Índia, México e Sri Lanka.
Para as análises
brasileiras, foram consideradas 65 amostras de bebidas (51 somente de cachaças)
colhidas nas cidades de São Paulo e Diadema, município localizado na região
metropolitana de São Paulo, durante o ano de 2010. Dessas, 61 foram obtidas
entre consumidores e vendedores informais. O restante foi pego diretamente com
produtores. “Coletamos principalmente as [bebidas] que achávamos que eram
falsificadas, porque percebíamos claramente que eram falsas. Quando tinham
rótulos, não tinham selo de garantia do Ministério da Agricultura e os preços
eram muito baixos”, explicou Elisaldo Carlini, professor do Cebrid e
coordenador do estudo.
Outras 87 amostras (63
apenas de cachaças) foram obtidas em cinco cidades de Minas Gerais, entre elas
a capital Belo Horizonte, além de cidades famosas pela produção de cachaça como
Passa Quatro e Salinas. As bebidas foram colhidas entre 2011 e 2012, em bares,
festas e vendedores de rua.
Os resultados do estudo
foram apresentados hoje (30) na capital paulista durante um simpósio sobre o
assunto. De acordo com Carlini, um dos elementos tóxicos encontrados nas
amostras foi o metanol, tipo de álcool altamente tóxico e que, se ingerido,
pode causar cegueira e até levar à morte, explicou o professor.
Entre as amostras mineiras,
em 25 do total de 87 garrafas foi encontrado metanol, mas nenhuma das amostras
ultrapassou o limite permitido de 200 partes por milhão (ppm), disse Carlini.
Das amostras paulistas, 24 das 54 que foram levadas para análise apresentaram o
álcool tóxico, mas apenas uma amostra de vinho registrou índice acima do limite
legal.
Outro elemento presente nas
bebidas foi o cobre, que pode prejudicar a absorção de minerais no organismo. O
elemento foi encontrado em 11 amostras de São Paulo e em 15 das mineiras.
Algumas estavam muito acima do limite legal, de 5 ppm, chegando a 26 ou
27 ppm.
O carbamato de etila, um
agente cancerígeno, também estava presente em 65 das 87 bebidas de Minas
Gerais. “Em algumas amostras, [a concentração] era tão grande que dava para
saber que estava exagerado”, concluiu o pesquisador.
Outra irregularidade
constatada foi que a concentração alcoólica de 27 das 51 amostras de São Paulo
e de 30 das 63 amostras de Minas Gerias ficaram abaixo do que determina a lei.
“Ficamos surpresos. Não sabemos se isso é ruim ou se é bom, nós só sabemos que
não está legal”.
Além de analisar as bebidas,
o estudo ouviu 430 adultos do estado de São Paulo e 564 de Minas Gerais. Os
participantes eram, majoritariamente, homens com idades entre 18 e 30 anos, e
nível de escolaridade entre nível médio e superior. A ampla maioria dos entrevistados,
60,1% dos mineiros e 96,3% dos paulistas, declarou consumir álcool.
O tipo de bebida mais
frequente foi a cerveja, seguido pelo vinho. A cachaça ficou em terceiro lugar
como a mais consumida em Minas Gerais e em quarto entre as preferidas dos paulistas.
As razões apontadas pelo estudo para esse alto consumo de cachaça foram o baixo
preço e o fácil acesso à bebida.