Cerca
de 75% dos cemitérios do país têm problemas ambientais e sanitários
ISaúde.net,
03/11/12.
Com informações da Agência Brasil.
Problemas começam com a
proliferação de vetores de doenças e continuam no subsolo, com a contaminação
do lençol freático.
Levantamento feito em mais
de mil cemitérios do país, entre públicos e privados, aponta que pouco mais de
sete em cada dez têm problemas de ordem ambiental e sanitária. De acordo com
estudo do geólogo e mestre em engenharia sanitária Lezíro Marques Silva, os
problemas começam na superfície com a proliferação de animais vetores de
doenças e continuam no subsolo com a contaminação do lençol freático.
" Se o necrochorume
escapa do túmulo, ele pode entrar em contato com o lençol freático, criando uma
mancha de poluição que atinge quilômetros de distância a ponto de contaminar
poços e rios" , explica o geólogo. O necrochorume é um líquido formado
durante a decomposição de cadáveres enterrados, similar ao gerado pelos
resíduos sólidos em aterros sanitários. " Ele é rico em substâncias
tóxicas como putrecina, cadaverina e alguns metais pesados" , explica.
Lezíro Marques informou
ainda que a contaminação do lençol freático ocorre em quase a totalidade dos
cemitérios públicos com problemas ambientais e sanitários. Ele destaca que a
saturação desses equipamentos públicos agravam ainda mais os prejuízos
provocados por essas condições. " Com o esgotamento da capacidade de
sepultamento, o que sobra são terrenos do ponto de vista geológico inadequados,
como lençol freático raso, área de várzea e morro" , critica.
Construção inadequada
O professor Walter
Malagutti, do Departamento de Geologia da Universidade Estadual Paulista
(Unesp), que também desenvolve pesquisa na área, explica que não havia a
preocupação de observar os critérios geológicos para construção de cemitérios.
" Pode ocorrer de alguns terem sido implantados em locais inadequados.
Muitos estão em áreas nobres, como as regiões centrais."
Ele avalia que o ideal seria
considerar os mesmos critérios dos aterros sanitários, como lençol freático
mais profundo possível, rocha impermeável e distância dos centros urbanos, para
construção de cemitérios.
Walter Malagutti explica
ainda que os cemitérios são fonte renovável de contaminação, pois,
diferentemente dos aterros, eles não costumam ser desativados. " Pela
legislação brasileira, depois de cinco a sete anos, quando ficam só ossos, eles
são removidos e colocado outro corpo no local" , relata. Segundo o
professor da Unesp, um diagnóstico ambiental dos locais de enterro já
existentes e a observação de critérios geológicos para a implantação de novos
cemitérios são algumas medidas para amenizar a situação.
Contaminação
Já a pesquisa desenvolvida
por Lezíro Marques resultou no desenvolvimento de substâncias capazes de
neutralizar o necrochorume, reduzindo o nível de contaminação. " A grande
meta é não permitir que o líquido extravase" , destacou. Para tanto, foi
criada uma espécie de colchão a ser colocado na sepultura, o qual possui um
líquido que elimina os efeitos dos poluentes. Uma ação semelhante é conseguida
por uma substância que lava o subsolo retirando o necrochorume. " Tem
solução, mas pouco é feito" , avalia.
O geólogo destaca ainda a
necessidade de uma legislação mais específica, que oriente a construção de
lajes de contenção e obrigue uso de substâncias neutralizadoras do
necrochorume.
Os pesquisadores concordam
que a cremação seria a solução mais adequada para a preservação do meio físico.
Eles avaliam, no entanto, que a questão cultural é o principal empecilho para o
uso da técnica. " A cremação é muito incipiente no Brasil. E isso não tem
a ver diretamente com o custo. Enquanto se paga entre R$ 350 e R$ 400 para
cremar um corpo, o enterro mais simples custo no mínimo R$ 2 mil. É uma questão
cultural" , avalia Lezíro.
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