Mães de crianças com
microcefalia lutam para não cair no esquecimento
Famílias
afetadas pela epidemia do vírus Zika afirmam que têm problemas para receber
apoio durante a criação de seus filhos, tanto financeiro quanto logístico.
Governo abandona crianças com a doença
(Por Redação
RBA - 16/07/2017)
Brasil
não solucionou os antigos problemas de direitos humanos que permitiram que a
epidemia de Zika se intensificasse. Em maio deste ano, o governo federal declarou o fim do estado de
emergência para o vírus Zika. Entretanto, as marcas da epidemia
continuam. Um relatório da Human
Right Watch aponta que lacunas
na resposta das autoridades brasileiras trouxeram impactos prejudiciais às
mulheres. Mães afirmam que o Estado se esqueceu das crianças afetadas
pelo vírus à medida que a taxa de novos casos e a atenção da mídia e do público
para o surto diminuíram.
Segundo
Amanda Klasing, pesquisadora sênior de Direitos da Mulher da Human Rights
Watch e coautora do relatório, os
direitos básicos continuarão ameaçados caso o governo federal não reduza a
infestação de mosquitos e não apoie as famílias com crianças afetadas pelo
Zika.
"Os
brasileiros podem até ver a declaração do Ministério da Saúde sobre o fim da
emergência para o Zika como uma vitória, mas riscos significativos ainda permanecem, assim como persistem os
problemas subjacentes de direitos expostos pela epidemia", afirma.
Segundo
a entidade, cerca de 2.600 crianças
brasileira nascidas com microcefalia e outras condições do vírus Zika
precisarão de cuidados a longo prazo. A ONG alerta que os principais cuidadores desses bebês não recebem do governo e da
sociedade o apoio integral de que precisam, sendo financeiro e
logístico para ter acesso aos cuidados.
As
mães de crianças com a síndrome de Zika disseram, em
entrevista ao HRW, que foi difícil conseguir informações e apoio, tanto no
momento do nascimento quanto agora, à medida que seus filhos crescem e se
desenvolvem.
A
entidade também alerta que os mosquitos Aedes – responsável pela
transmissão do vírus – continuam presentes no Brasil, e ainda carregam o
Zika e outros vírus nocivos, como a dengue. Um surto recente de febre amarela,
doença que pode ser disseminada pelo mesmo mosquito, matou
pelo menos 240 pessoas no Brasil desde dezembro de 2016.
Uma das advertências
feitas pela Human Right Watch é a defasagem na infraestrutura de água e saneamento para controlar a
reprodução dos mosquitos e melhorar a saúde pública. "Mais de um
terço da população do Brasil não tem acesso a um abastecimento contínuo de
água. Esse acesso intermitente à água deixa as pessoas sem escolha e obrigadas
a encher tanques e outros recipientes com água para uso doméstico, que podem se
tornar involuntariamente focos potenciais de proliferação de mosquitos se
deixados descobertos e sem tratamento", diz o texto.
"Muitas
mulheres e meninas grávidas entrevistadas afirmaram que, durante suas consultas
pré-natais, profissionais do sistema público de saúde não forneceram
informações abrangentes sobre a prevenção da transmissão do Zika. Muitas
disseram que os profissionais da saúde não as informaram sobre a possibilidade
de transmissão sexual do Zika, o que aconteceu parcialmente devido a
informações contraditórias ou inconsistentes vindas das autoridades sobre a
transmissão do vírus. Como resultado, poucas mulheres estavam usando
preservativos para protegerem a si mesmas e os fetos da transmissão do
Zika", diz a HRW.
Em
2017, o número de casos de Zika, assim como o número de bebês nascidos com
deficiências relacionadas ao vírus, diminuiu
drasticamente se comparado com o mesmo período em 2016, mas as autoridades
não conseguem identificar a causa dessa redução.
"À
medida que as temporadas de mosquitos se intensificam em partes da América e
dos Estados Unidos, outros países afetados pelo Zika devem reconhecer que
problemas de direitos humanos podem contribuir para a rápida expansão e impacto
da epidemia de Zika", diz Klasing. "Países
que querem evitar passar pela crise que o Brasil continua a enfrentar devem
solucionar questões de direitos humanos logo no início do seu planejamento e
respostas à doença."
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