Vacina contra dengue já pode ser
comercializada no Brasil
(Por Aline
Leal – Repórter da Agência Brasil. Edição: Denise Griesinger. 26/07/2016)
Após
sete meses registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a vacina
contra a dengue já pode ser comercializada no Brasil. O Comitê Técnico
Executivo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) determinou
que o preço da Dengvaxia, como é
chamada a vacina da Sanofi Pasteur, vai variar entre R$ 132,76 e R$ 138,53,
dependendo do ICMS adotado em cada estado.
O valor
estipulado é o que será pago ao fabricante por clínicas, hospitais e
distribuidores e deve ser bem diferente do que será cobrado do consumidor
final. "Os valores para um mercado privado não refletem o que vai ser
praticado. As clínicas tem taxa de aplicação, tem tributação da clínica, tem
que pagar sua estrutura. Esse preço é muito longe do que o mercado vai
trabalhar para o consumidor final. Esse é o preço de fábrica que a Sanofi vai
colocar no comércio", explicou Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Imunizações.
De
acordo com o infectologista, o produto é um avanço, considerando que o Brasil
vivencia há muitos anos um grande problema de saúde pública devido ao vírus da
dengue. Em 2016, até 11 de junho, mais de 1,3 milhão de pessoas tiveram dengue
em todo o país e 318 pessoas morreram em decorrência da infecção pelo vírus.
Fabricada
pela empresa francesa Sanofi Pasteur e registrada no Brasil desde dezembro
de 2015, a Dengvaxia é a primeira vacina
desenvolvida contra a dengue no mundo e só precisava da determinação do
valor de fábrica para poder ser vendida. Segundo a Anvisa, a demora ocorreu
devido ao ineditismo do produto, já que normalmente a estipulação de preços
leva em conta outros produtos semelhantes no mercado.
Saiba Mais: Vacina contra dengue mostra
mais eficácia em maiores de 9 anos
O
imunizante é indicado para pessoas entre
9 e 45 anos, deve ser aplicado em
três doses com intervalo de seis
meses entre elas. O fabricante garante proteção contra os quatro tipos do
vírus da dengue. Segundo os estudos, a
proteção é de 93% contra casos graves da doença, redução de 80% das
internações e eficácia global de pouco mais de 60% contra todos os tipos do
vírus. A capacidade de produção do laboratório é de 100 milhões de doses por
ano.
Para
Kfouri, a eficácia da vacina é satisfatória e segue o padrão de vacina como a
contra varicela e contra o rotavírus, que evitam completamente cerca de 60% dos
casos das doenças, mas tem um impacto maior na redução de casos graves, que
poderiam levar a hospitalizações e à morte.
SUS
Apesar
de poder ser comercializada em todo o Brasil, ainda não há determinação sobre se a Dengvaxia será utilizada na rede
pública. Para isso, o Ministério da Saúde deve fazer estudos sobre o
custo/benefício da compra e distribuição do produto e de qual seria a
estratégia de aplicação para ter impacto em termos de saúde pública.
Para
Renato Kfouri, a decisão do Ministério da Saúde de não adotar imediatamente a
vacina é adequada, já que um programa nacional de imunização requer uma visão
ampla de como a doença se comporta e de quais seriam as estratégias de
aplicação.
"A
vacina tem eficácia de cerca de 60%
contra os quatro tipos de dengue, mas em termos de saúde pública, para
conseguir atingir esses números, quantas pessoas teríamos que vacinar? Todas de
nove a quarenta e cinco? Crianças entre nove e dez anos? Adultos? Quem devo
vacinar? Que quantidade de vacinas tenho a oferecer? Quantas seriam necessárias
para um bom impacto? Com quantos indivíduos vacinados terei impacto?",
questionou o especialista.
Ele
ressalta ainda que as estratégias de vacinação em adultos costumam ser bem
menos eficazes do que as que têm como público alvo as crianças, já que a adesão
é frequentemetne menor.
Desta
forma, como uma ação individual, de quem pode pagar, a vacina é uma boa
estratégia de prevenção, porém, para a
introdução em um programa de imunizações são necessários estudos mais
aprofundados. "Em nível de saúde individual, em clínica privada, é um
ganho enorme, revoluciona, mas a posição do Ministério da Saúde foi cautelosa e
adequada", pontuou Kfouri.
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