‘Ser amoroso faz bem para o sistema imunológico’
(Por
Paula Ferreira, Jornal O GLOBO, 03/08/2015)
Em
visita ao Rio, médico americano famoso por defender a humanização dos
tratamentos pediu mais carinho nos hospitais e criatividade para se alcançar a
universalização da saúde
RIO
— Uma consulta com quatro horas de duração, na qual o paciente é indagado sobre
seus hobbies, os detalhes de sua relação amorosa e até a maneira como beija seu
companheiro. O médico quer saber como anda sua vida e, se para além dos
problemas físicos, você está bem consigo mesmo. Durante o atendimento, as
únicas regras são o amor e o cuidado com
o outro. Essa “consulta dos sonhos” diz muito sobre a maneira como Patch
Adams entende a medicina.
Interpretado
no cinema pelo ator Robin Williams no filme “Patch Adams: o amor é contagioso,”
o médico americano é famoso por adotar uma metodologia de trabalho voltada para
a humanização da medicina. Em visita ao Rio para uma palestra intitulada “A
alegria do Cuidar”, o oncologista pediatra contou casos, criticou o sistema de
saúde americano e a formação nas universidades mundo afora. Ele também pediu
que os médicos usem a criatividade para universalizar o acesso à saúde.
—
Você não pode se tornar um médico em poucos minutos. Decidi que passaria quatro
horas com os novos pacientes. Você escolhe quem vai ser, e eu decidi ser
criativo, carinhoso. Na História, nunca houve nenhum estudo mostrando que ser
sério, violento e rude é bom. Milhares de artigos falam do valor de ser
amoroso. É bom para o sistema imunológico — contou Patch Adams a uma plateia
composta por diversas faixas etárias, lembrando que a imensa maioria de seus
professores universitários eram arrogantes e tratavam mal os pacientes.
Com
o cabelo metade branco e metade azul caindo pelas costas e trajando roupas
extravagantes como as usadas pelos palhaços de circo, o médico pediu que os
profissionais sejam criativos para promover o acesso à saúde de maneira
igualitária.
—
Quando vejo um médico que, em vez de querer ganhar muito dinheiro, quer
trabalhar em uma favela, vejo que ele tem uma inspiração heroica. Se você se
sente herói é muito difícil se esgotar. Se tivermos cuidado suficiente, não
teremos guerra na Humanidade. Como podemos dar um cuidado para alguém de uma
favela da mesma maneira que é dado para alguém que mora na orla da praia? É
necessário muita criatividade — defendeu.
Nas
horas em que se dedicou a falar ao público, ele fez rir e chorar, mas também
sorriu e se emocionou. Patch Adams criticou o fato de os hospitais serem
lugares tristes.
—
Não há um único hospital feliz no mundo inteiro. E por quê? — perguntou,
aproveitando para convidar os presentes para para uma “revolução” enquanto
comentava a situação da saúde em seu próprio país. — O sistema de saúde dos
Estados Unidos é uma vergonha. Os planos dão ordem aos médicos. Como podemos, assim, ter um hospital onde o
amor faça parte do contexto?
O
espaço reservado para o amor no ambiente hospitalar também é uma preocupação no
Instituto Nacional do Câncer (Inca), referência no tratamento da doença no
Brasil. Com uma área dedicada aos programas de voluntariado, o instituto aposta
na atenção e no carinho como agentes potencializadores da recuperação dos
pacientes, como explica Angélica Nasser, supervisora do Inca-voluntário,
presente na palestra de Patch Adams.
—
A humanização é fundamental para levar a casa ao hospital. A gente tenta
comemorar datas como o Dia das Crianças. É uma forma de integrar a equipe
médica, os voluntários e os pacientes. Para estes últimos, isso é fundamental,
já que muitos chegam com medo do tratamento. Esse contato é como um
renascimento. A explicação para que os pacientes se sintam mais felizes, mesmo
em situações de sofrimento, segundo Patch Adams, é simples.
—
O mundo inteiro é seu quando se tem amor.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/ser-amoroso-faz-bem-para-sistema-imunologico-diz-patch-adams-17058458#ixzz3hlh6iOQe
Leia o livro: ADAMS, Patch. O Amor é Contagioso. Sextante, 2004.
Patch Adams foi criticado oficialmente na escola de Medicina
por sua 'alegria excessiva' e recebeu o seguinte conselho de um professor: 'Se
quiser ser palhaço, vá para o circo'. Na verdade, Patch queria ser palhaço. Mas
também queria ser médico. Ele conseguiu unir esses dois lados tão diferentes de sua personalidade e
acabou sendo as duas coisas. A incrível história de Patch, que inclui ter sido
paciente e, mais tarde, médico de uma instituição mental, celebra o triunfo da
busca interminável de um ideal.
Utilizando métodos nada convencionais e surpresas extravagantes para aplacar a ansiedade dos pacientes, Patch foi o pioneiro na idéia, considerada então 'radical', de que os médicos devem tratar as pessoas, e não apenas as doenças. Compaixão, envolvimento e empatia têm tanto valor para os médicos quanto os remédios e os avanços tecnológicos.
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