Desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, imunizante será aplicado em macacos anda neste semestre.
(Por Karina Toledo, da Agência Fapesp, publicado em 05/08/2013)
Desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, imunizante será aplicado em macacos anda neste semestre
Imunizante desenvolvido e patenteado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP mostrou alta potência em camundongos (NIH)
São Paulo – Uma vacina
brasileira contra o vírus HIV, causador da Aids, começará a ser testada em
macacos no segundo semestre deste ano. Com duração prevista de 24 meses, os
experimentos têm o objetivo de encontrar o método de imunização mais eficaz
para ser usado em humanos. Concluída essa fase, e se houver financiamento
suficiente, poderão ter início os primeiros ensaios clínicos.
Denominado HIVBr18, o
imunizante foi desenvolvido e patenteado pelos pesquisadores da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Edecio Cunha Neto, Jorge Kalil e
Simone Fonseca. Atualmente, o projeto é conduzido no âmbito do Instituto de
Investigação em Imunologia, um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia
(INCTs), um programa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI),
apoiado pela FAPESP no Estado de São Paulo.
O trabalho teve início em
2001, sob a coordenação de Cunha Neto. Em parceria com Kalil, o pesquisador
analisou o sistema imunológico de um grupo especial de portadores do vírus que
mantinham o HIV sob controle por mais tempo e demoravam para adoecer. No sangue
dessas pessoas, a quantidade de linfócitos T do tipo CD4 – o principal alvo do
HIV – permanecia mais elevada que o normal.
Após testes diversos, o
grupo desenvolveu uma nova versão da vacina com elementos conservados de todos
os subtipos do HIV do grupo principal, chamado grupo M, que mostrou-se capaz de
induzir respostas imunes contra fragmentos de todos os subtipos testados até o
momento. “Os resultados sugerem que uma única vacina poderia, em tese, ser
usada em diversas regiões do mundo, onde diferentes subtipos do HIV são
prevalentes”, afirmou Cunha Neto.
No teste mais recente, feito
com camundongos e ainda não publicado, os pesquisadores avaliaram a capacidade
dessa nova vacina de reduzir a carga viral no organismo. “O HIV normalmente não
infecta camundongos, então nós pegamos um vírus chamado vaccinia – que é
aparentado do causador da varíola – e colocamos dentro dele antígenos do HIV”,
contou Cunha Neto.
Nos animais imunizados com a
vacina, a quantidade do vírus modificado encontrada foi 50 vezes menor que a do
grupo controle. Agora estão sendo realizados experimentos para descobrir se, de
fato, a destruição viral aconteceu por causa da ativação das células TCD4
citotóxicas.
Macacos Rhesus
A última etapa do teste
pré-clínico será realizada na colônia de macacos Rhesus do Instituto Butantan.
A vantagem de fazer testes em primatas é a semelhança com o sistema imunológico
humano e o fato de eles serem suscetíveis ao SIV, vírus que deu origem ao HIV.
“Nosso objetivo é testar
diversos métodos de imunização para selecionar aquele capaz de induzir a
resposta imunológica mais forte e então poder testá-lo em humanos. Além da
vacina de DNA originalmente criada, vamos colocar os nossos peptídeos dentro de
outros vírus vacinais, como o adenovírus de chimpanzé, vacina da febre amarela
ou o MVA, e selecionar a melhor combinação de vetores”, afirmou Cunha Neto.
O ensaio clínico de fase 1
deverá abranger uma população saudável e com baixo risco de contrair o HIV, que
será acompanhada de perto por vários anos. Nesse primeiro momento, além de
avaliar a segurança do imunizante, o objetivo é verificar a magnitude da
resposta imune que ele é capaz de desencadear e por quanto tempo os anticorpos
permanecem no organismo.
Se a HIVBr18 for
bem-sucedida nessa primeira etapa da fase clínica, poderá despertar interesse
comercial. A esperança dos cientistas é atrair investidores privados, uma vez
que o custo estimado para chegar até terceira fase dos testes clínicos é de R$
250 milhões. Até o momento, somando o financiamento da FAPESP e do governo
federal, foi investido cerca de R$ 1 milhão no projeto.
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