Pesquisadores da USP comprovam que vírus Zika causa má
formação em fetos
(Por Daniel Mello -
Repórter da Agência Brasil - São Paulo. Edição: Jorge Cesar Bellez Wamburg.
Em 11/05/2016)
Um grupo de
pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) comprovou, experimentalmente,
a capacidade do vírus Zika de atravessar
a placenta e infectar bebês no útero da mãe. O trabalho, publicado hoje
(11) na revista Nature, também mostrou como a infecção afeta a formação do sistema nervoso central dos embriões.
“Esse é o primeiro
modelo experimental comprovado que mostra que o vírus é capaz de passar a barreira placentária, atingir o feto, ser
albergado no sistema nervoso e, a partir de então, todas as outras repercussões
foram observadas”, enfatizou o professor do Departamento de Imunologia do
Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Jean Pierre Schatzmann Peron.
Para os experimentos
foram usados camundongos e os chamados minicérebros, modelos do órgão humano
elaborados a partir de culturas de células-tronco. Com os animais foi possível
observar o comportamento do Zika em relação à, gestante e o filho. A partir dos
minicérebros, a ação sobre as células que vão formar o sistema nervoso e até
contra neurônios maduros.
Entre as conclusões,
foi identificado que, ao infectar o
embrião, o vírus Zika tem preferência por atacar as células que formam o
cérebro e o sistema nervoso. Essa ação, que mata as células antes que os
tecidos se desenvolvam, causa más formações nesses órgãos, como a microcefalia.
Primeiros registros oficiais de Zika no Brasil completam um ano. Pesquisadores
devem levar, pelo menos, cinco anos para concluir vacina de Zika.
A variedade que
circula no Brasil causou muito mais danos do que o tipo africano, que havia
sido estudado anteriormente. “Nós observamos que o vírus que está circulando
aqui é muito mais agressivo do que a cepa isolada em 1947 na África”, enfatizou
a professora doutora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Patricia
Cristina Baleeiro Beltrão Braga sobre os efeitos nos fetos ainda no útero.
Apesar de a
microcefalia ser o efeito mais difundido da infecção em bebês ainda não
nascidos, Patrícia destaca que o vírus
também ataca outros órgãos, afetando o desenvolvimento de diversas partes
do corpo: “O que nós temos visto é que existe
uma síndrome congênita da infecção pelo Zika vírus”.
O coordenador da
Rede Zika Vírus e professor do Departamento de Microbiologia da USP, Paolo
Zanotto, exemplifica: “Tem crianças crescem com má formação de membros, tem
sobreposição de dedos no pé e nas mãos”. Segundo Zanotto, estão sendo
acompanhados diversos casos de crianças que tiveram alterações no
desenvolvimento devido ao zika, inclusive, problemas de má formação no cérebro
mais discretos do que a microcefalia, que pode ser observada pelo tamanho do crânio.
A extensão dos danos
aos embriões está ligada, de acordo com os pesquisadores, ao estágio da
gestação em que houve a infecção. Quanto
mais cedo houver o ataque pelo vírus, mais drásticos são os efeitos sobre a
criança.
Vacina
Os resultados dos experimentos
com camundongos mostraram, entretanto, que uma linhagem de animais tem
resistência aos efeitos do vírus sobre os fetos. “O que a gente especula é que
a resposta imune que ele tem seja suficiente para conter o vírus e, pelo menos,
impedir que a replicação viral aconteça em níveis muito elevados, e impedir que
ele passe a placenta”, explica Peron.
Essa descoberta abre
espaço, segundo o cientista, para pesquisas que permitam a elaboração de uma
vacina contra o vírus.
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