quinta-feira, 13 de novembro de 2014

NOTÍCIA: MEDICAMENTO MODERNO CONTRA AIDS DISTRIBUÍDO PELO SUS



Pacientes com HIV/aids receberão medicamentos mais modernos
Por Aline Leal - Repórter da Agência Brasil. Edição: Beto Coura. 10/11/2014.

 

Os pacientes com HIV/aids contarão com duas novas apresentações de medicamentos no Sistema Único de Saúde. Segundo o Ministério da Saúde, nesta semana, o ritonavir 100 miligramas (mg) termoestável começa a ser distribuído. Um novo comprimido denominado “dois em um”, por reunir dois princípios ativos, deve chegar aos postos de saúde em dezembro.

Segundo diretor do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais, Fábio Mesquita, o ritonavir faz parte do coquetel de medicamentos desde 1997, mas ele dependia de armazenamento em geladeira, pois precisava de uma temperatura de 2 graus centígrados (Cº) a 8Cº para a conservação.

“Colocava para o paciente o desafio de estar próximo de uma geladeira na hora de tomar a medicação. Do ponto de vista de logística, tinha a dificuldade de distribuir em todo o Brasil mantendo a temperatura e ter geladeira em todos os serviços provedores de antirretrovirais. Era bem mais complexo”, avalia o diretor. Cerca de 60 mil pessoas deverão ser beneficiadas com a nova versão do medicamento.

O “dois em um” é uma combinação do tenofovir 300 mg com a lamivudina 300mg em um único comprimido. Segundo Mesquita, os pacientes que tomam os medicamentos precisavam tomar três comprimidos, dois de lamivudina e um de tenofovir, agora reduzidos a um.

O “dois em um” será disponibilizado somente para os pacientes que não têm indicação clínica do “três em um” que, além da composição do "dois em um", conta com o efavirenz 600 mg. O "dois em um" é produzido no Brasil pela Farmanguinhos/Fiocruz e deve beneficiar aproximadamente 75 mil pacientes.
Para Mesquita, os novos medicamentos vão simplificar a vida do paciente e, com isso, melhorar a adesão ao tratamento.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

REFLEXÃO: VIVER A VIDA, SEGUNDO CHURCHILL



“Vivemos com o que recebemos, 
mas marcamos a vida com o que damos.” 

 
Winston Churchill

REPORTAGEM: REMÉDIO PODE CURAR TIPOS DE CÂNCER



Instituto Butantan espera aval para testar em humanos remédio que pode curar tipos de câncer.
31/10/2014 - Por Flávia Milhorance, O Globo.

Medicamento com saliva da carrapato, descoberto por acaso, reverteu tumores de pele, rim e pâncreas em animais

 

RIO - O Brasil está mais perto de desenvolver sua própria terapia contra o câncer, numa batalha em que o país ainda é coadjuvante, já que ela requer investimento às vezes bilionário e alta tecnologia. Mas uma pesquisa realizada integralmente em solo brasileiro pelo Instituto Butantan, de São Paulo, está prestes a entrar na última fase e gera grande expectativa entre cientistas. Inclusive porque a arma de combate ao câncer é um tanto inusitada e foi descoberta por acaso: uma molécula extraída da saliva do carrapato-estrela com ação contra tumores do tipo melanoma (pele), pâncreas e renais.

— O diferencial desta abordagem é que conseguimos matar as células tumorais, sem oferecer perigo para as células saudáveis — comentou Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, responsável pelo Laboratório de Bioquímica e Biofísica do Instituto Butatan.

A pesquisa, que vem sendo realizada há mais de uma década, pedirá agora autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para experimentar a molécula em humanos, na fase chamada teste clínico. Isso significa que ela foi reconhecidamente bem-sucedida em todas as outras etapas, quer dizer, em testes in vitro em laboratório, em animais e em células humanas. Em geral, a grande maioria das pesquisas com foco terapêutico empaca na fase de testes com animais.

ASSÉDIO DE GRUPOS DE PESQUISA

Ana Marisa Chudzinski-Tavassi não esconde a animação com o progresso desse projeto e conta que vem sendo assediada por toda parte:

— Confesso que está bem legal. Empresas e universidade do Brasil e de outros países estão fazendo contato. Há colaboração de muita gente.

A pesquisadora lembra que o processo começou despretensiosamente em 2003, quando uma aluna de mestrado passou a estudar a bioquímica do carrapato-estrela (Amblyoma cajennense), que pode transmitir a febre maculosa, uma doença mais comum na zona rural. Na ocasião, eles buscavam novos agentes para inibir a coagulação sanguínea e sabiam que o carrapato, por se um parasita que se alimenta de sangue (hematófago), provavelmente teria componentes eficientes para a tarefa.

Durante as análises do sequenciamento genético da espécie, eles se depararam com uma molécula na glândula salivar do aracnídeo que tinha esta característica e que ainda não havia sido descrita na literatura médica. Com mais estudos de sua estrutura, descobriram que ela integrava uma classe que já estava sendo descrita em outros estudos como capaz de inibir a proliferação celular. Foi quando a pesquisa mudou o foco e passou a investir energia para analisar sua ação contra os tumores.

O Instituto Butantan firmou uma parceria com a empresa brasileira União Química Farmacêutica com o objetivo de desenvolver uma fórmula para ser utilizada nos testes. A molécula já não era mais extraída do carrapato, mas produzida em larga escala em laboratório por meio de um sistema de expressão de proteínas recombinantes, ou seja, manipulando bactérias ou leveduras para imitar suas propriedades. Os pesquisadores obtiveram ainda a patente da molécula, batizada de Amblyomin-X, registrada no Instituto de Propriedade Industrial (INPI). Além disso, o estudo está sob proteção do Patent Cooperation Treaty (PCT).
— Isso nos deu mais segurança para trabalhar sem pressa e, inicialmente, num processo sigiloso, já que a molécula tem este grande potencial terapêutico. Fomos divulgando as informações aos poucos — explica Ana Marisa.

A pesquisa custou até o momento em torno de R$ 20 milhões, investidos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPQ) e, principalmente, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). Caso seja aprovada para testes em humanos, o montante empregado será bem maior, mas ainda não há uma estimativa. A título de comparação, em grandes indústrias farmacêuticas internacionais, o desenvolvimento de novas drogas contra o câncer pode superar US$ 1 bilhão.

— Nem 1% dos ensaios básicos de laboratório chega ao paciente. Por isso, é realmente um grande passo — avaliou o farmacêutico Robson Monteiro, professor associado do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ. — Será muito interessante se tiver sucesso em humanos, principalmente porque todos os processos estão sendo feitos no Brasil, desde a demonstração da molécula na saliva até sua produção artificial e a conclusão dos testes pré-clínicos.

Monteiro integra o Laboratório de Trombose e Câncer da universidade e também trabalha com os hematófagos, grupo que inclui ainda morcegos, sanguessugas e alguns insetos. O laboratório, por exemplo, já analisou a molécula ixolaris, presente em outra espécie de carrapato, que apresentou efeito contra a trombose e o câncer.

— Tivemos resultados positivos, mas neste caso não avançamos para testes em humanos, porque isto demandaria produção em larga escala da proteína. Além disso, o National Institute of Health (NIH), dos Estados Unidos, já tinha a patente da molécula — afirma Monteiro, que defende a pesquisa com os hematófagos. — Esses seres têm moléculas muito diferentes e interessantes. Algumas propriedades já foram verificadas, como a antitrombótica, mas certamente há outras ainda a serem descobertas — anima-se.

Monteiro também explica que a trombose e o câncer têm estreita relação: por um lado, pacientes com câncer têm mais propensão à trombose (que é a coagulação dentro dos vasos sanguíneos), e a ocorrência de trombose durante o câncer faz com que o tumor se torne mais agressivo. Esse conhecimento, agora com as novas informações da pesquisa do Butantan, podem abrir uma nova linha de pesquisa.

Apesar da empolgação dos cientistas, os testes em humanos são uma fase tão arriscada quanto as demais e podem não surtir o efeito desejado. Mas, até agora, os testes tiveram bons resultados quando avaliados em camundongos e, depois, em animais mais complexos, como coelhos.

MECANISMO AINDA MISTERIOSO

Nesta etapa, a fórmula foi testada em animais saudáveis e com câncer. Os pesquisadores notaram que ela tinha ação apenas nos animais doentes, enquanto que nos demais a substância era eliminada pela urina. Além disso, a reação só ocorria em células tumorais, sem qualquer efeito sobre as normais. As cobaias começavam a melhorar depois de 14 dias de injeções diárias, e os tumores desapareciam após cerca de 40 dias de tratamento. Os mamíferos foram acompanhados por seis meses, período em que não houve recidiva, ou seja, a volta do tumor maligno. Os cientistas descobriram que a Amblyomin-X consegue inibir, dentro da célula, o chamado proteassomo, estrutura responsável pela “limpeza celular”. E essa inibição leva à morte das células, no caso, das tumorais.

— Como a molécula faz essa seleção entre a célula tumoral e a normal ainda está sendo estudado. Precisamos desvendar este mecanismo — diz Ana Marisa.

O motivo por que ela teve ação sobre tipos específicos de câncer foi uma escolha dos próprios pesquisadores, que decidiram focar naqueles de mais difícil tratamento, como o de pâncreas. De difícil detecção e comportamento bastante agressivo, este tipo de tumor apresenta alta taxa de mortalidade. No Brasil, 7.726 pessoas morreram em 2011 por causa dele, segundo os dados mais atualizados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

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