Entenda o que é o
hidrogel e quais são os riscos do procedimento
Produto
esteve relacionado a problemas graves nos últimos meses.
Ele é regulamentado no Brasil, mas especialistas recomendam cautela.
Ele é regulamentado no Brasil, mas especialistas recomendam cautela.
(Mariana
Lenharo do G1, em São Paulo – 02/12/2014)
O
hidrogel, produto usado principalmente para preenchimento e aumento de volume
em regiões como o bumbum e as coxas, esteve relacionado a problemas graves de
saúde em pessoas que recorreram a esse procedimento nos últimos meses.
Neste
fim de semana, a modelo Andressa Urach foi internada com uma infecção na coxa
esquerda que teve origem em uma aplicação de hidrogel. Ela está em estado
grave, segundo o hospital. Em outubro, uma mulher morreu em Goiânia depois de
passar pelo procedimento de aplicação de hidrogel no bumbum.
O
G1 conversou com médicos que explicaram o que é o hidrogel, para que serve,
quais são os riscos de sua aplicação e quais são os cuidados que os pacientes
devem ter, caso queiram se submeter ao procedimento. Veja, abaixo, perguntas e
respostas sobre o produto:
O que é o hidrogel?
Trata-se
de um gel que tem em sua composição 98% de água e 2% de poliamida utilizado no
Brasil desde 2008, de acordo com a médica Valéria Campos, membro da Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD).
Para que serve?
O
hidrogel é usado para aumento de volume em regiões como o bumbum e as coxas.
Também é usado para o preenchimento de linhas e rugas no rosto e no pescoço.
O produto é
regulamentado?
A
marca mais conhecida de hidrogel, chamada Aqualift, tem registro na Anvisa. Sua
colocação é, portanto, um procedimento regulamentado pelas autoridades sanitárias
do Brasil.
A
dermatologista Valéria Campos observa que o hidrogel não é aprovado pelo órgão
americano que regulamenta alimentos e medicamentos, o Food and Drug
Administration (FDA). “O FDA é um órgão bastante rigoroso, portanto o fato de o
hidrogel não ser aprovado por ele é um sinal de alerta”, diz a dermatologista.
O
médico Fernando de Almeida Prado, presidente da Regional São Paulo da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP-SP), afirma que, embora seja um
procedimento regulamentado, não há estudos suficientes que garantam a segurança
da técnica em longo prazo, por isso é necessário ter cautela.
Como é a colocação?
O
hidrogel é injetado com uma microcânula sob a pele da área em que o paciente
quer aumento de volume. Trata-se de um procedimento cirúrgico feito sob
anestesia local e que deve, portanto, ser feito em um centro cirúrgico ou em um
estabelecimento que tenha condições de atender possíveis emergências médicas.
O
profissional habilitado para fazer o procedimento é um médico, de preferência
um cirurgião plástico ou um dermatologista com treinamento em técnicas de
preenchimento do corpo.
É um procedimento
permanente?
Segundo
o cirurgião plástico Rogerio Ruiz, da SBCP, o hidrogel é um produto absorvível
que fica no organismo por um período que vai de 1,5 a 2 anos, dependendo do
local onde é injetado e das características do paciente. O previsto é que,
depois desse tempo, o produto seja absorvido pelo próprio organismo e, caso o
paciente queira que o volume aumentado continue, é necessário fazer uma nova
aplicação.
Quais são os riscos?
Segundo
Ruiz, como o procedimento prevê o depósito de uma grande quantidade de material
sob a pele, há risco de o produto ser injetado perto de um vaso e comprimi-lo.
Isso pode levar a uma isquemia, ou seja, a uma interrupção do fluxo de sangue,
que pode ocasionar uma necrose da pele. Também há risco de o produto comprimir
um nervo importante, provocando dores fortes.
Outro
risco é que o produto seja equivocadamente injetado dentro de um vaso
sanguíneo, o que pode levar a uma trombose e à necrose da pele no local. Pode
também provocar uma embolia pulmonar ou até cerebral, e levar à morte. O
paciente está sujeito ainda a ter hematomas, dores e alergia ao produto.
Caso
ocorra algum problema, o produto pode ser retirado com uma cirurgia ou usando a
técnica da lipoaspiração. Ruiz alerta, porém, que se o produto utilizado não
for o original, a retirada tende a ser muito mais difícil porque outros
produtos tendem a ser mais viscosos e pesados.
Quais são os cuidados
que o paciente deve ter?
O
paciente deve procurar um profissional habilitado para fazer o procedimento. De
preferência, um cirurgião plástico ou um dermatologista com experiência no uso
do produto. O estabelecimento onde a aplicação será feita deve ser um centro
cirúrgico ou um estabelecimento que tenha condições de atender possíveis
intercorrências médicas.
Ruiz
observa que os pacientes devem ficar atentos ao preço do procedimento: valores
muito baixos podem indicar que o material utilizado não é original. Segundo
ele, o hidrogel é um produto caro e, para se fazer um aumento de volume
razoável nos glúteos, por exemplo, utiliza-se ao menos 300 ml de cada lado.
“Isso tem um custo realmente bastante alto. Algumas pacientes vão procurar um
procedimento mais barato e acabam tendo complicações.”
Valéria
recomenda que o paciente peça para ver o frasco do produto e, se possível,
fotografe a embalagem e o código de barras para que, se houver algum problema
relacionado ao produto, ele possa recorrer ao fabricante.
Que outros
procedimentos têm o mesmo efeito?
Ruiz
observa que, para pessoas que querem o efeito de aumento do volume, existem
outras estratégias que podem ser consideradas e que são mais seguras do que a
aplicação de hidrogel. Uma delas é o uso da gordura do próprio paciente para
preenchimento. Outra é o implante de próteses de silicone.
“Cabe
ao médico conversar com a paciente, tirar todas as dúvidas e, junto com
paciente, discutir qual o procedimento mais indicado. Além disso, trabalhar com
técnica precisa e com material que seja aprovado pelo Ministério da Saúde e
pela Anvisa”, diz Ruiz.