Brasil
tenta se livrar de doenças ‘esquecidas’ pela indústria farmacêutica
Instituições públicas
brasileiras lideram pesquisas para combater as doenças negligenciadas, como a malária.
(Carta Capital,
18-07-2012)
Enfermidades como a
malária, esquistossomose e doença de chagas são conhecidas das populações em áreas
pobres do mundo, como América Latina, África e a porção tropical da Ásia. No
entanto, essas moléstias apelidadas de “doenças negligenciadas” ainda são
responsáveis pela morte de mais de 1 milhão de pessoas por ano.
Este grupo de doenças
negligenciadas – composto pela esquistossomose, leishmaniose, malária e doença de
chagas e do sono – ganhou o apelido por ser ignorado pelos laboratórios
farmacêuticos. Comuns em áreas pobres do mundo, as populações atingidas por
essas doenças não possuem recursos para pagar por um tratamento que exigiria
anos de pesquisa e um alto investimento dos laboratórios. Por essa razão, entre
1975 e 2004 apenas 1,3% dos medicamentos disponibilizados no mundo eram para as
doenças negligenciadas, apesar delas representarem 12% das doenças.
No entanto, o esforço
de instituições filantrópicas e de instituições públicas, principalmente do
Brasil, está mudando esse cenário. Em junho, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
anunciou a produção de uma vacina contra a esquistossomose, doença que atinge
200 milhões de pessoas no Brasil, África e na América Central. A vacina estará
disponível em até cinco anos e é fruto da liderança brasileira no combate a
este um grupo de doenças. “O Brasil entendeu que se não investisse no
tratamento de doenças que atingem essa população negligenciada, o País não
teria como se desenvolver com sustentabilidade”, afirma Gustavo Romero,
pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade de Brasília (UnB).
A liderança brasileira
é necessária devido à incidência das doenças negligenciadas no País. Mais de
20% dos casos de doenças de chagas de todo o mundo e cerca de 90% dos casos de
leishmanioses da América Latina ocorrem em território brasileiro. Isso explica
porque, segundo o professor Gustavo Romero, em dez anos o País se tornou líder
em pesquisas sobre doenças negligenciadas.
Atualmente, o
investimento brasileiro gira em torno de 75 milhões de reais ao ano, a maior
parte proveniente do Ministério da Saúde e do Ministério de Ciência e
Tecnologia, através das agências de fomento à pesquisa CNPq e Finep.
Para 2012, 20 milhões
de reais já estão reservados para os editais de pesquisa. “O Brasil já é líder
em pesquisas nesta área, mas ainda é preciso um volume maior de investimentos
para tirar o rótulo de doenças negligenciadas”, diz o professor Romero, que
também coordena a Rede Brasileira de Alternativas Terapêuticas para as
Leishmanioses, doença que mata 300 pessoas por ano no País.
Apesar dos
investimentos públicos e do anúncio da vacina contra a esquistossomose, as
expectativas de cura para as doenças negligenciadas, em geral, são de longo
prazo. “Trabalhamos com a expectativa de termos algo concreto em 20 anos. É um
período longo, mas pelo menos temos essa expectativa hoje”, diz.
“Há 15 anos, ninguém cogitava
um controle da doença”, completa Romero.
Atualmente, as
instituições brasileiras trabalham em cooperação científica com a Índia e
outros países africanos, asiáticos e da América Latina para obter avanços nos
tratamentos dessas doenças. “Temos que trocar informações sobre pesquisas e
testes de medicamentos para avançar mais rápido neste tema. O setor público
colocou essas doenças na pauta, agora, temos que trabalhar para mantê-las em
discussão e aumentar os investimentos na área”, conclui Romero.
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