Lente
de contato já vem com colírio para glaucoma
Folha de São Paulo, 26-06-2012
FILIPE MAURO
FILIPE MAURO
Uma equipe de farmacêuticos
brasileiros está desenvolvendo um dispositivo
oftalmológico capaz de facilitar o combate ao glaucoma, mal que afeta o
nervo responsável por levar informações visuais do olho ao cérebro.
Após três anos de pesquisa,
o Centro de Química e Meio Ambiente do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas
e Nucleares) já consegue fabricar lentes
de contato que liberam timolol, composto presente em diversos colírios
indicados para o tratamento dessa doença ocular.
Com isso, o medicamento
acaba sendo depositado sobre o olho dia após dia e em pequenas doses.
Fabricados a partir de silicone, os
dispositivos conseguiriam manter a difusão do colírio de forma ininterrupta por
até 30 dias.
De acordo com o coordenador
do projeto, o farmacêutico e bioquímico José Roberto Rogero, o produto facilitaria a vida dos idosos que
têm glaucoma. Eles têm mais dificuldade em pingar colírios sozinhos, por
exemplo, desperdiçando "grandes quantidades de remédios nem sempre
baratos".
Além disso, argumenta
Rogero, o paciente idoso pode acabar esquecendo a hora de pingar o colírio,
risco que é eliminado com a lente.
MUITA PRESSÃO
O olho é uma estrutura
preenchida, em parte, por um líquido chamado humor aquoso. O glaucoma surge
quando um indivíduo continua produzindo o humor aquoso, mas encontra
dificuldades para escoá-lo. O resultado é o aumento da pressão sobre o nervo
óptico, com a gradativa perda da visão.
O timolol retarda as
atividades do chamado processo ciliar, conjunto de células responsáveis pela
fabricação desse líquido.
Ivan Maynart, professor de
oftalmologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que o
efeito do glaucoma "ocorre lentamente, da periferia das imagens em direção
ao centro". Sem tratamento, a cegueira total vem em 15 ou 20 anos.
Dados de uma pesquisa feita
na UFPR (Universidade Federal do Paraná) indicam que, entre indivíduos com mais
de 80 anos, a incidência da doença atinge a marca de 6,5%, diz Maynart.
José Rogero afirma que as
lentes de contato com colírio já estão prontas para passar por testes em
humanos e sofrer adaptações industriais. Contudo, desde que chegou a esse
estágio, o projeto perdeu parte de sua verba, vinda de uma empresa.
"Para liberar o uso em
humanos, a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] demoraria de cinco
a dez anos", estima Rogero. Nesse período, "qualquer farmacêutica
multinacional conseguiria importar um produto semelhante, e a ideia acabaria
ficando ultrapassada".
Para manter o trabalho nessa
linha de pesquisa, Rogero está recorrendo agora ao setor veterinário.
No momento, ele tenta
adaptar as lentes de contato, substituindo os colírios que poderiam auxiliar no
tratamento das pessoas com glaucoma por medicamentos como anti-inflamatórios e
antibióticos já recomendados para cães e gatos com problemas de visão.
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