segunda-feira, 4 de junho de 2012

REPORTAGEM: OSTEOPOROSE - PÓS-MENOPAUSA EM BRASILEIRAS

Um terço das brasileiras na pós-menopausa tem osteoporose
Pesquisa revela que doença atinge boa parte das mulheres acima de 50 anos e número de fraturas vertebrais chega a 2,9 milhões

O Globo, 25-05-2012
SÃO PAULO - Um terço das mulheres brasileiras na pós-menopausa tem osteoporose, doença que fragiliza os ossos e os deixa suscetíveis a fraturas. Pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela International Osteoporosis Foundation (IOF) revela que, além da doença atingir boa parte das mulheres acima de 50 anos, o número de fraturas vertebrais pode chegar a 2,9 milhões. A maioria dessas fraturas está sem diagnóstico e sem tratamento. O relatório estima ainda que as fraturas por fragilidade decorrentes da osteoporose vão crescer nas próximas décadas entre 28% e 49% em vários países, devido ao envelhecimento populacional e aumento da expectativa de vida.
— Em apenas um terço dos casos de fratura a pessoa sente dor. Por isso, muitas vezes a mulher descobre muito tarde uma fratura. E pode nem chegar a saber que isso ocorreu por causa da osteoporose. Devemos lembrar também que, antes mesmo de chegar à osteoporose, a osteopenia, quando há perda de massa óssea, chega a 56% — revela o reumatologista Cristiano Zerbini, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica do Serviço de Reumatologia do Hospital Heliópolis, de São Paulo. O primeiro relatório regional sobre a situação da doença foi realizado em 14 países da América Latina, incluindo o Brasil.
De acordo com Zerbini, no Brasil, Argentina, Colômbia, México e Porto Rico a prevalência de fraturas vertebrais em mulheres a partir dos 50 anos é de 14,2 %. Esse número sobe para 80% na população feminina com 80 anos ou mais.
As fraturas de quadril são outra consequência da osteoporose. Vários estudos internacionais mostram que cerca de 20% dos pacientes morrem um ano após a fratura, mas um levantamento que avaliou pacientes em vários hospitais do Rio de Janeiro revelou que 35% dos doentes morreram durante a internação ou logo após a alta hospitalar.
— Após uma fratura de quadril, 55% das pessoas não tomam banho sozinhas e 48% precisam de ajuda para se vestir. E 68% têm incontinência urinária ou fecal — alerta o reumatologista.
— O sofrimento pessoal e a incapacidade representam apenas um lado da moeda. As fraturas não são apenas caras para tratar, mas muitos idosos tornam-se dependentes de suas famílias ou passam o resto de sua vida em casas de saúde — disse o professor José Zanchetta, autor principal do relatório e chefe do Instituto de Pesquisa Metabólica de Buenos Aires.
Prevenção
Tomar sol durante 15 minutos, três vezes por semana, consumir alimentos ricos em cálcio, como leite, iogurtes e queijos, além de exercícios físicos desde a infância ajudam a pessoa a atingir um pico de massa óssea forte — explica Bruno Muzzi, presidente da Associação Brasileira de Avaliação da Saúde Óssea e Osteometabolismo (Abrasso). Ele comenta ainda que é falsa a ideia de que a obesidade protege a pessoa de fraturas. — A magreza excessiva expõe o indivíduo a fraturas, mas a obesidade não é sinal de proteção — avisa Muzzi.
Às pessoas que não têm hábito de consumir alimentos ricos em cálcio ou sofrem de algum tipo de intolerância à lactose os médicos costumam recomendar os suplementos de cálcio para reforçar os ossos, e assim prevenir fraturas. Nesta quarta-feira, no entanto, foi divulgado que pessoas que tomam suplementos de cálcio podem estar aumentando o risco de sofrer um ataque cardíaco, de acordo com pesquisadores alemães. O estudo, publicado na revista “Heart”, disse que os suplementos “devem ser tomados com cuidado”.
Bruno Muzzi explica que o estudo considerou os dados de forma retrospectiva, ou seja, não foi realizado para avaliar o risco cardíaco em pacientes que tomaram cálcio. — Ao levantar hipóteses que associam a suplementação em excesso e o risco cardíaco, os médicos preferem que o consumo de cálcio seja feito com a alimentação, preferencialmente — afirma Muzzi. E os suplementos de cálcio devem ser usados de forma moderada, completa ele.
Tratamentos
O tratamento da doença é feito geralmente com os bifosfonatos. Nos Estados Unidos, o FDA, órgão que regulamenta alimentos e medicamentos publicou nota recomendando cautela para o uso desta classe tradicional de medicamentos. O uso prolongado poderia, em casos raros, enfraquecer os ossos. Além de comprimidos para tratar a doença, há também disponível uma forma de injeção intravenosa anual, à base de ácido zoledrônico. Neste caso, a dose é anual.
Como opção para os pacientes existe ainda o ranelato de estrôncio, que faz parte de uma classe terapêutica que atua em duas frentes: além de diminuir a reabsorção de osso, aumenta a formação de massa óssea.

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