quarta-feira, 31 de agosto de 2011

ARTIGO: AVC - DRAMA DO TÉCNICO DE FUTEBOL RICARDO GOMES

Saiba mais sobre o AVC, doença que atacou o técnico Ricardo Gomes

(Por Carlos Caroni - carlos.caroni@jb.com.br, ao Jornal do Brasil, 31/08/2011)


O incidente com o técnico Ricardo Gomes, que precisou ser submetido a uma cirurgia de emergência após ter sofrido um acidente vascular cerebral durante a partida entre Flamengo e Vasco, volta a chamar atenção para os riscos da enfermidade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), são registradas anualmente cerca de 5,7 milhões de mortes relacionadas à doença. No Brasil, é a que mais mata: cerca de 100 mil vítimas todo ano, uma a cada cinco minutos.

Os sintomas mais característicos do derrame, como é popularmente conhecido o AVC, são a perda de força em um dos lados do corpo, alterações na coordenação motora e na articulação da fala, dificuldades para enxergar (perda de visão ou visão turva/dupla), além de dores de cabeça e dormência nos braços ou nas pernas. Náuseas, vômitos e convulsões são sinais menos comuns.

O problema pode ser causado pelo entupimento de vasos sanguíneos do cérebro (AVC isquêmico), impedindo que o sangue - e consequentemente o oxigênio - chegue à região afetada, ou pela ruptura dos vasos (AVC hemorrágico). Este tipo, o que teve Ricardo Gomes, provoca aumento da pressão intracraniana e pode prejudicar rapidamente outras áreas que não a da lesão. É mais grave e menos comum, correspondendo a cerca de 20% dos episódios.


Ricardo Gomes foi levado de ambulância para centro médico.

Médico da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, o neurologista Ricardo Novis alerta para a necessidade de atendimento urgente à vítima. Embora ressalte ser difícil comentar um caso do qual não tenha participado, ele acredita que o eficiente processo de assistência e remoção prestado pela equipe médica presente no Engenhão, no último domingo, pode ter aumentado consideravelmente as chances de sobrevivência do treinador cruzmaltino. 

"A velocidade é fundamental. A falta de aporte sanguíneo provoca a rápida degeneração do tecido nervoso próximo à região afetada, podendo evoluir para uma necrose. O indivíduo precisa ser levado a uma unidade hospitalar o mais rapidamente possível para que o fluxo no local seja reestabelecido, diminuindo assim o risco de óbito e do desenvolvimento de possíveis sequelas", diz.

Novis esclarece que a terapia é escolhida de acordo com o tipo do caso. Se for isquêmico, o doente é tratado à base de medicamentos trombolíticos (ministradas até 4h30 após o início dos sintomas), que interrompem o processo ao desobstruir o vaso ocluído. A droga, entretanto, não pode ser oferecida a pacientes que tenham sofrido AVC hemorrágico pois pode aumentar o sangramento.

"Neste caso, é necessário avaliar o tamanho do hematoma para saber se há ou não a indicação cirúrgica. No caso de lesões menos volumosas, em que o risco do procedimento é maior do que a própria presença do hematoma, a melhor opção é monitorar o paciente e estabelecer medidas de suporte, como a manutenção do nível de pressão arterial, de modo a preservar as áreas que ainda não foram prejudicadas", explica.

Fatores de Risco (AVC):

- Consumo abusivo de bebidas alcoólicas
- Consumo de drogas ilícitas
- Doenças cardiovasculares
- Doenças hematológicas
- Colesterol elevado
- Hipertensão
- Diabetes
- Tabagismo
- Estresse
- Sedentarismo

Controlar os fatores de risco e manter uma vida saudável, com alimentação balanceada e prática de exercícios físicos, é a melhor maneira de prevenir a doença, diz o médico.

As principais sequelas da doença são relativas às funções motoras e o trabalho de reabilitação é feito com o auxílio de fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos. Segundo Novis, a orientação e a manutenção do estímulo, minimizando a possibilidade do surgimento de uma possível depressão, é fundamental para a plena recuperação. 

"A pessoa, que antes era ativa, pode passar a ser dependente, o que pode até comprometer a estrutura familiar. Manter o paciente animado faz parte do trabalho. Além disso, é preciso alertar para a necessidade de continuar a tomar os cuidados para controlar os fatores de risco. Infelizmente, é uma tendência humana se descuidar após certo tempo. Quando isso ocorre, a reincidência da doença é quase certa.

DEPOIMENTO: Eu superei um AVC

Usada a todo momento pela dona de casa Marlene Bezerra da Silva, 53, a expressão "graças a Deus" reflete bem o sentimento daqueles que passaram por um AVC e tiveram a sorte de sobreviver. Visivelmente emocionada, ela conta o drama daquela que parecia ser uma tarde comum, mas acabou se tornando um dos momentos mais marcantes de sua vida.

"Estava na rua. Quando cheguei em frente à minha casa, tive uma espécie de tonteira e senti a perna completamente mole. Me abaixei e ainda tentei fazer força para abrir a porta, mas não consegui. Na hora logo pensei: meu Deus, será que estou morrendo? Foi quando um rapaz pediu ajuda e um vizinho me levou até o hospital", relata.

Marlene Bezerra da Silva durante viagem à Aparecida no início deste ano, teve um AVC isquêmico que afetou o lado esquerdo do cérebro. Ficou internada uma semana e, depois de liberada, começou o processo de reabilitação. Hoje, um ano após incidente, ainda precisa de ajuda para executar tarefas cotidianas, como vestir uma blusa ou amarrar um sapato. Mas isto não é suficiente para abatê-la. De onde vem tanta força? Segundo ela, de um medicamento que clínica nenhuma pode oferecer: o apoio familiar.

"Não é nada fácil conviver com as limitações. Por diversas vezes me senti incapaz, uma pessoa inútil. Mas a família e os amigos fizeram com que eu não desistisse do tratamento. Eles são como uma espécie de remédio, algo quase espiritual. Não fosse todo esse carinho que recebi, sinceramente, não sei como estaria agora".

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