segunda-feira, 23 de maio de 2011

MENSAGEM: UMA NOVA CIÊNCIA= ANÁLISE DO CICLO DE VIDA (ACV)

UMA NOVA CIÊNCIA: ANÁLISE DO CICLO DE VIDA (ACV)Por Leonardo Boff ***
A Notícia (SC), 23-05-2011

A busca de um bem-viver mais generalizado e o cuidado com a situação global da Terra está aprofundando cada vez mais a nossa consciência ecológica. Agora, impõe-se analisar o rastro de carbono, de toxinas de químicas pesadas, presente nos produtos industriais que usamos no dia a dia. Desta preocupação está nascendo uma ciência nova que vem sob o nome de análise do viclo de vida (ACV). Monitoram-se os impactos sobre a biosfera, a sociedade e a saúde em cada etapa do produto, começando pela extração, produção, distribuição, consumo e descarte.

Damos um exemplo: na confecção de um vaso de vidro de um quilo entram 659 ingredientes diferentes nas várias etapas até a sua produção final. Quais deles nos são prejudiciais? A análise do ciclo de vida visa a identificá-los. Ela se aplica também aos produtos ditos verdes ou ecologicamente limpos. A maioria é apenas verde no fim ou limpo só na sua utilização terminal, como é o caso do etanol. Sendo realistas, devemos admitir que a produção industrial deixa sempre um rastro de toxinas, por mínimo que seja. Nada é totalmente verde ou limpo. Apenas relativamente ecoamigável. Isso nos foi detalhado por Daniel Goleman, com seu recente livro "Inteligência Ecológica".

O ideal seria que em cada produto, junto com a referência de nutrientes, gorduras e
vitaminas, houvesse a indicação dos impactos negativos sobre a saúde, a sociedade e o ambiente. Isso vem sendo feito nos EUA pela instituição Good Guide, que estabelece uma tríplice qualificação: verde, para produtos relativamente puros; amarelo, se contém elementos prejudiciais mas não graves; e vermelho, desaconselhável por seu rastro ecológico negativo. Agora, invertem-se os papéis: não é mais o vendedor, mas o comprador que estabelece os critérios para a compra ou para o consumo dos produtos.

O modo de produção está mudando e o cérebro não teve tempo suficiente ainda para acompanhar a transformação. Ele possui uma espécie de radar interno que nos avisa quando ameaças e perigos se avizinham. Os cheiros, cores, gostos e sons nos advertem se os produtos estão estragados ou se são saudáveis, se um animal nos ataca ou não.

Ocorre que o cérebro não registra ainda mudanças ecológicas sutis, nem detecta partículas químicas disseminadas no ar e que nos podem envenenar. Introduzimos já 104 mil compostos químicos artificiais pela biotecnologia e pela nanotecnologia. Com o recurso da análise do ciclo de vida, constatamos o quanto as substâncias químicas sintéticas, por exemplo, fazem diminuir o número de espermatozoides a ponto de gerar infertilidade em milhões de homens.

Não se pode continuar dizendo: as mudanças ecológicas só serão boas se não afetarem os custos e os rendimentos. Esta mentalidade é atrasada e alienada. A inteligência ecológica se acrescentará a outros tipos de inteligência, estes agora mais necessários do que nunca antes.

*** Teólogo, professor e membro da Comissão da Carta da Terra.

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