sexta-feira, 25 de março de 2011

NOTÍCIA: PRÓTESES PARA O CORPO

JB On line, 21-02-2011

Braços robóticos, olhos biônicos, pulmões artificiais. Os avanços da medicina na
área de próteses e órteses parecem cada vez mais com o mundo previsto pelos
livros e filmes de ficção científica. Com a evolução da tecnologia e da biomedicina,
o futuro promete surpreender ainda mais com equipamentos que ultrapassam os
limites do corpo e que podem substituir quase tudo e até levar a um problema:
algumas pessoas podem querer trocar partes de corpos por próteses.
A opinião é do professor da faculdade de medicina da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e ortopedista do Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre,
Luiz Roberto Marczyk. Segundo o médico, a área evolui por dois caminhos
diferentes: o da tecnologia e o da biomedicina.
Marczyk dá o exemplo dos membros superiores. As próteses de pernas mais
avançadas já conseguem devolver boa parte dos movimentos dos pacientes - ele
lembra o caso do corredor paratleta sul-africano Oscar Pistorius, que usa prótese
nas duas pernas e chegou a participar das eliminatórias para a Olimpíada-2008. O
caso causou polêmica porque a Federação Internacional de Atletismo (Iaaf)
afirmou que as pernas artificiais davam vantagem para Pistorius. "As próteses
estão tão boas que os atletas de paraolimpíada estão correndo mais rápido que os
outros", diz o médico. Pistorius disputou a Paraolimpíada de Pequim no mesmo
ano e venceu em três categorias.
Já nas mãos, o problema é maior por causa do movimento dos dedos. "Hoje, tu
tens próteses maravilhosas, bonitas, que imitam a mão. Mas não tem movimento.
E não servem para nada", explica. O médico diz que as próteses mecânicas tentam
suprir essa necessidade, mas têm um grande desafio, que é o tato, a sensibilidade
da mão. "Se não (tiver sensibilidade), o paciente vai segurar um copo, vai segurar
exageradamente, com muita força, e vai explodir o copo". "Hoje é melhor fazer
um transplante de mão, apesar de não funcionar maravilhosamente bem."
O futuro é das células-tronco?
O médico afirma que as pesquisas com células-tronco abrem uma nova
possibilidade para essa área da medicina que já está em curso: a criação de
próteses biológicas, vivas. "Uma prótese de quadril, hoje, é de metal ou plástico.
No futuro, ela vai ser de um material bioabsorvível e tu vais cultivar nela célulastronco.
Com o passar do tempo, o organismo vai absorvendo a prótese e
substituindo ela por tecido vivo", afirma. Essas pesquisas permitem que tenhamos
próteses de quase tudo, diz o médico.
Contudo, ao contrário da linha puramente tecnológica, a que se baseia nas célulastronco
está apenas começando, ainda é muito rudimentar. "Estamos aprendendo o
caminho." Marczyk diz que a linha biológica parece melhor que a da tecnologia, já
que vai fazer com que os pacientes se sintam melhor com a prótese.
Ou é da tecnologia?
Para o médico André Pedrinelli, chefe do grupo de órteses e próteses do Hospital
das Clínicas da USP, o caminho que a evolução vai seguir é o da tecnologia. Para
Pedrinelli, ainda não se sabe o que vai resultar das pesquisas de células-tronco e a
criação de próteses vivas ainda se mostra muito difícil. Um dos maiores problemas
é que as pesquisas conseguem formar apenas um tipo de tecido por vez.
"Um membro amputado não é só um tecido. Tem osso, pele, tendão, nervo, vaso
(sanguíneo). Tem toda uma engenharia", diz o pesquisador.
O médico diz que o que se espera do futuro é o desenvolvimento da sensibilidade
das próteses e do controle cerebral - já que as próteses atuais se movimentam por
pressão dos músculos.
Muitos carros por uma prótese de última geração
Segundo Pedrinelli, muitas dessas próteses que parecem futurísticas já estão à
disposição dos pacientes. Membros superiores com capacidade de movimentação
dos dedos e até sensores de pressão, que garantem a capacidade de segurar um
copo ou uma caneta sem quebrar o objeto, nem deixá-lo cair no chão.
"Qual é a queixa do paciente? Se ele vai segurar um copo de vidro, se ele não tá
olhando ele não dosa a força e derruba o copo. Essas mãos mais novas, elas têm
sensores de pressão. (...) Quando ela 'sente' que tem uma resistência, ela para na
resistência", diz.
Mas um dos problemas da área é o preço, e não só no Brasil. "(Nas melhores
próteses) se gasta alguns carros. (...) Têm alguns joelhos protéticos que só o
joelho custa R$ 60 mil hoje", diz o médico. Apesar dessa evolução, mesmo as
melhores próteses de membro superior abaixo do cotovelo só conseguem
recuperar 20% da função do membro, o que indica que há uma grande evolução a
ser feita. No caso de perna, abaixo do joelho, a recuperação chega a 70% da
função do membro.
Melhores que o corpo humano
Segundo os dois especialistas, as próteses, pelo menos de perna, já se mostram
melhores que o membro natural em certos aspectos - se por um lado é melhor
para correr, por outro, a falta de sensibilidade complica algumas ações, como
dirigir um carro.
Mas não deve parar por aí. Braços mais fortes, olhos mais potentes e muito mais.
Para Pedrinelli, até a legislação esportiva terá que mudar. Um atleta com prótese
teria uma grande vantagem em relação ao adversário.
Questionado se, no futuro, as pessoas podem querer trocar partes do corpo por
próteses, o médico do Rio Grande do Sul responde: "isso fica bem para livro de
fantasia, mas é para pensar".


Próteses poderão substituir quase tudo no corpo, e melhor, diz professor

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Marcadores