quarta-feira, 30 de março de 2011

NOTÍCIA: ATENDIMENTO MÉDICO À DISTÂNCIA

Telemedicina em saúde pública ganha recursos adicionais

Valor Econômico, 30-03-2011
Cibelle Bouças


 
A adoção de dispositivos de telemedicina em órgãos de saúde pública, um processo que começou a ganhar força há um ano, vai entrar em nova fase, com a inclusão de mais recursos tecnológicos. Os resultados obtidos até agora, como a redução da mortalidade e do tempo de internação de infartados, estimularam os governos responsáveis pelos primeiros movimentos a estudar a expansão do atendimento a distância. Entre as inovações previstas para o próximo semestre estão a adoção de aparelhos de ultrassonografia a distância e a melhoria do sistema de transmissão de dados por radiofrequência.
A Prefeitura de São Paulo foi a primeira a fazer um projeto-piloto, em 2008. O programa é realizado em parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Foram instalados aparelhos de eletrocardiografia a distância em 126 ambulâncias e em quatro pronto-socorros - Saboya, Tatuapé, Campo Limpo e Ermelino Matarazzo, cobrindo uma região de 2 milhões de habitantes.
O aparelho, produzido pela israelense Card Guard Scientific Survival, é conectado a telefones, celulares ou computadores. O exame é feito no paciente onde ele estiver e os dados são transmitidos por celular para uma equipe de cardiologistas que se revezam 24 horas no Hospital São Paulo, vinculado à Unifesp.
Os dados chegam aos médicos por um software desenvolvido pela ITMS do Brasil. O laudo é repassado para o profissional que fez o exame por celular ou por internet, dependendo da gravidade do caso. O tratamento começa na própria ambulância, com um atendimento que dura menos de dois minutos. "O trabalho começou a ser feito com 30 a 40 exames por dia. Hoje, a demanda é de 200 exames por dia", diz o professor titular da Unifesp e idealizador do projeto, Antonio Carlos Carvalho.
O cardiologista e professor da Unifesp Iran Gonçalves Júnior diz que, antes do programa, a taxa média de mortalidade por infarto nessas regiões era de 21%, quando a média considerada ideal pela Organização Mundial de Saúde é de 6%. Em um ano de trabalho, o índice de óbitos caiu para essa faixa. "Os resultados mostram que o problema era grande e a solução adotada foi eficaz", diz Gonçalves.
A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo informou, por meio de sua assessoria, que estuda a expansão do programa para outras regiões periféricas. A prefeitura também pretende implantar, no segundo semestre, aparelhos de ultrassonografia a distância, desenvolvidos pela Epeople. Os aparelhos estão em fase de teste. A Epeople recebeu R$ 1,2 milhão em recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para desenvolver os aparelhos de eletrocardiografia e ultrassonografia a distância. A expectativa da empresa é lançar os dois aparelhos no mercado ainda este ano.
O governo federal também iniciou, em 2010, um projeto que apresentou avanços, com a implantação de aparelhos de eletrocardiografia em ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A meta é atender 1.347 municípios até 2012, com recursos de R$ 6,9 milhões.
No primeiro ano, foram implantados os aparelhos em 247 ambulância que atendem cem municípios. De acordo com dados do Ministério da Saúde, foram realizados 4.621 exames no período, dos quais 1.025 foram casos graves de infarto. O exame é feito no local e os dados são enviados para uma central no Hospital do Coração (HCor), em São Paulo. O processo é o mesmo realizado pela Unifesp. As tecnologias usadas são da ITMS do Brasil e da Card Guard Scientific Survival.
Cardiologista do HCor e um dos coordenadores do projeto, Hélio Penna Guimarães, afirma que, até o fim de fevereiro, 5.068 eletrocardiografias haviam sido enviados por ambulâncias, com uma média de 450 a 500 exames ao mês. "Até o fim do mês vamos superar 5,6 mil eletrocardiografias", diz.
A transmissão de dados entre ambulância e HCor é feita por celular ou smartphone. O ministério não revela detalhes das próximas etapas do programa, mas Penna antecipou que devem ser implantados aparelhos de eletrocardiografia a distância em todas as ambulâncias de suporte avançado com médico a bordo - elevando de 241 para 396 o total de veículos equipados com a tecnologia.
O ministério também pode mudar a tecnologia de transmissão de dados, adotando uma faixa de radiofrequência mais adequada. "O barulho da rua é captado pelo aparelho atual e provoca distorções no exame. Com a mudança, esse ruído deixará de existir", diz Penna.
Dados do Ministério da Saúde indicam que 300 mil pessoas morrem por ano de doenças cardiovasculares. Do total, 50% ocorrem no trajeto entre a casa e o hospital, o que reforça a importância do atendimento imediato.

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